Torcida do Ricão (Foto: José Mário Espínola)
Ao longo das duas semanas que antecederam o jogo não se falou em outra coisa, nas rodas de futebol, nos bares, nas rádios e na TV. Também pudera, a notícia não podia ser mais sensacionalista: aproveitando o show que ia dar na praia de Copacabana, a pop star Madona iria assistir o jogo do seu time de coração, o Botafogo de Futebol e Regatas. Ninguém sabe como, mas o fato era que ela ia.
A decisão seria na tarde do domingo, em pleno Estádio Nilton Santos, carinhosamente chamado de O Niltão, pela torcida. O show seria na véspera. A notícia dizia que ela só aceitou se apresentar no Rio de Janeiro, naquela data, por que coincidiria com a final do campeonato. O Botafogo enfrentaria justamente o Flamengo, para aumentar o suspense.
O adversário estaria à altura de uma pop star. Mas não era o jogo em si aquilo que ela queria ver: queria ver o time, especialmente os craques Tiquinho Soares e Túlio Louco Abreu. Pois desde a adolescência que ela sonhava em ver seu time jogar, e a oportunidade era aquela.
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Os vôos para o Rio de Janeiro lotaram, vindos de todo o Brasil. Inclusive da nossa João Pessoa, onde a companhia teve que botar um avião extra para carregar a nossa torcida, especialmente a Torcida do Ricão, providenciado pelo grande André, que vendeu as passagens de todos, com lucro pra nós.
O vôo especial veio de Natal, com a torcida potiguar liderada pelo Grande (enorme!) Cycy. Já pousou no aeroporto Castro Pinto com a charanga a tocando a todo volume.
A Torcida do Ricão embarcou, comandada pelo próprio Ricão. Lá estavam com ele os mais fiéis torcedores do Glorioso em nossa cidade: Joca; Jair; Chumbinho; Rôrrô, a musa da Torcida do Ricão; André; Major Alessandro; Norat e Ronald; Almiro; Ana Laura e Ricardo Espínola; Teddy e família; os advogados Magela e André; Afro; Mota; Epitácio; Caio e seu pai, Valdir.
Os irmãos Nelson e Nemesius não podiam faltar. Nem Latilson e Mateus Coelho; Dr. Sergio; Ferrari; o pequeno Doutor e sua boca exaltada; Almir; André e Seu Edgar. Luciano Cartaxo; o psiquiatra Dinarte; João Ricardo; Silvino e os médicos João Modesto e Roberto Sérgio. O engenheiro Fernando Dias e Beto Dodô, carregando consigo a sua inseparável Corda, e o seu irmão, o professor Valdir.
O amigo e enxadrista Hélio Albuquerque também foi. Mas, exibindo aquela barba, no aeroporto ele foi confundido com o falecido Bin Laden e quase não o deixaram embarcar.
Marconi Formiga estava lá, sempre fiel. E também Zé Maria; o engenheiro Zé William; o meu amigo Zé Hugo; os enxadristas Fabiano, Túlio e Daniel Lavogarde.
Max Guedes Pereira antecipou a sua volta do Caminho de Santiago para não perder o vôo. O engenheiro Carlos Pereira; Dr. Sebastião, o Defensor do Pulmão. Lá de Patos, comandando a torcida, vieram Ronaldo e Cirino, do DER. Clécio Bocão quase perdeu o vôo, mas conseguiu embarcar.
Em Recife, embarcaria o cirurgião Luiz Alberto Leite, torcedor desde menino, lá em Misericórdia. Em Maceió, embarcaram os irmãos Marcelo e Karlisson Valeriano. No Rio de Janeiro, já nos esperava o nosso anfitrião, o grande botafoguense Luiz Carlos Soares.
Até o Mudinho e o Picolezeiro da Torcida do Ricão… Fizeram uma coleta e os levaram pra ver a Madona e o Botafogo! O Mudinho, que embora assistisse jogos na Torcida do Ricão, era conhecido como torcedor do Vasco. Ele foi delicadamente intimado por Ricão, que disse: “Olha aí, misera! Num vai torcer contra o nosso time! Não pode dar um pio contra o Botafogo! Se não, vai voltar a pé, seu misera!”
Lá no céu, sentados nas nuvens, as almas de meu pai, Chico Espínola; do grande Moreira, zagueiro caceteiro; de Zé Rui e do Professor, além de Tiago e Nelson Júnior, estavam todos lá em cima, torcendo pelo BotaFogo.
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O estádio estava lotado. Uma festa! Os torcedores, muito excitados, cantavam hinos e construíam imagens de seus ídolos. Primeiro foi a do Garrincha, debaixo de aplausos uníssonos. Depois Nilton Santos, que foi o maior lateral esquerdo do mundo, de todos os tempos, e que emprestou seu nome ao estádio.
Os alto-falantes anunciam a escalação: Jefferson. Joilson, Juninho, Carli e Cezar Prates. Tchê Tchê e Túlio Guerreiro. Júnior Santos, Lúcio Flávio, Tiquinho Soares e Louco Abreu. Todo mundo vibra: “É seleção! É seleção!” Madona nem é mencionada.
À medida que o tempo passa o clima de festa torna-se mais e mais elétrico. Todos procuravam enxergar a Madona, nas arquibancadas e nos camarotes. Mas nem sinal dela.
De repente os alto-falantes anunciaram a entrada dos dois times em campo. Explosão de fogos, enormes tochas de fogo se ergueram diante da torcida. Delírio geral! O maior frisson nas arquibancadas!
As duas equipes se perfilam para ouvir o Hino Nacional. Mas as arquibancadas só cantam o hino do Botafogo: “… tu és o Glorioso, não podes perder, perder pra ninguém!!”
Logo mais o juiz apita, dando início ao jogo.
Zé Mário (e) com amigos na torcida pelo Glorioso
PRIMEIRO TEMPO
Tiquinho toca para Júnior Santos e corre para a área adversária. Júnior Santos toca para Tchê Tchê e também corre para receber o passe à direita.
Tchê Tchê domina, livra-se do marcador e sai correndo com a bola, entrando na área, funcionando como o elemento surpresa. Antes disso é derrubado: falta perigosa!
Quem vai cobrar é Lúcio Flávio, o melhor batedor de faltas de todos os tempos. Daquela distância ali, falta frontal, pra ele é pênalti! Chuta, a bola passa raspando a trave: “UUUHHHH!”, reage a torcida soltando um urro.
E nada de Madona…!
Ataque do Flamengo pela ala direita do Botafogo. O lateral deles vai até a linha de fundo e cruza para a área. Carli tira de cabeça pela linha de fundo: escanteio.
Cobrado o escanteio no segundo pau, Jefferson salva a testada do atacante deles e rapidamente joga a bola para Tchê Tchê. Ele leva a bola e passa para Cezar Prates, que vai até a linha de fundo e cruza para a área. Tiquinho mata no peito, chuta pra Louco Abreu, que faz um belíssimo gol de voleio: 1 a 0!
A torcida vai à loucura, as bandeiras balançam nervosamente, o mais belo escudo do mundo é içado ao longo da arquibancada!
Mas nada da Madona aparecer…
Ataque do Flamengo pela esquerda, chegando à linha de fundo. O atacante é desarmado por Carli, que passa a bola para Túlio Guerreiro. Ele leva até metade do campo e lança para Joilson. Joilson vai à linha de fundo e centra para a área. Tiquinho recebe e passa de cabeça para Júnior Santos, que vinha chegando mas é desarmado.
Falta contra o Flamengo. Muito distante, porém Juninho pega a bola, recua bastante, faz carreira e chuta forte. A bola atravessa a barreira e derruba o goleiro.
Jogo parado para dar assistência ao goleiro do Flamengo. Parece que não dá mais para o goleiro, sai de maca. Afinal de contas a pancada foi forte. Entra o goleiro reserva.
O resto do primeiro tempo só deu ataques do Flamengo. Mas o Botafogo soube segurar o ataque adversário, às vezes recorrendo a faltas, pois Juninho e Carli não eram caceteiros, mas eram dois zagueiros viris, como fora o Grande Moreira, que assistia a tudo lá do céu.
O árbitro apita: fim do primeiro tempo. No intervalo, Bombinha faz a performance de Sidney Magal. É aplaudido pelo Niltão em peso!
E Madona, que é bom, necas!
SEGUNDO TEMPO
Já a partir do apito inicial o Flamengo só faz atacar. E nós administrando o resultado, agüentando a defesa, mas sempre levando perigo nos contra-ataques.
Mas tem que sair logo o segundo gol, pois segundo o teórico Fernando Dias, “ganhando por um, ganhando por nada!” Pois numa bola parada o adversário pode empatar.
Até que numa jogada maravilhosa, bola de pé-em-pé, Tiquinho Soares recebe na frente da zaga, dribla o zagueiro, tira o goleiro e faz o segundo gol, para explosão do Niltão! Que gol! Que festa!
O Botafogo passa a administrar o jogo até os minutos finais, vencendo e convencendo as imprensas carioca e paulista, cujos comentaristas têm muita prevenção contra o Glorioso.
O juiz dá 10 minutos de acréscimo. A torcida explode protestando, elogiando muito a mãe dele! Esgotado o tempo, o juiz pede a bola e dá o apito final: fim de jogo! 2 a 0: Botafogo campeão carioca! Festa no campo e nas arquibancadas!
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Mas, e cadê Madona?! Isso mesmo: onde estava a mais nova musa do Botafogo? Aquela pop star que se revelou ser pé quente, a anti-Mick Jaeger?!
A essa altura todos já estavam conformados, já nem se lembravam mais dela: deixando o estádio embriagados pela vitória e o título, além da cerveja, só falavam do jogo. Tinham a certeza de que tudo não passou de um golpe publicitário, provavelmente espalhado pela própria diretoria, pra dar renda.
E partiram de volta para as suas cidades, exaustos mas felizes: derrotar o Flamengo, ainda mais com o título de quebra, é vitória dobrada. Mesmo sem ver a Madona.
O fato é que, procurando somente nas arquibancadas e nos camarotes, e depois de olho somente na partida, ninguém prestou atenção nas equipes em campo.
Pois nunca antes na história do Niltão apareceu uma gandula de boné, tão bonita e charmosa como aquela lá embaixo, devolvendo as bolas!
FIM DE JOGO!
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(*) Alvinegro Fanático