Se eu pudesse conversar com Jim O’Neill, o ex-presidente da Gestão de Ativos do Banco Goldman Sachs, o camarada que em 2001 criou o termo Bric, a ele pediria a impressão acerca do Brics 11. Trata-se, para quem disso não saiba, do acrônimo resultante das iniciais de Brasil, Rússia, Índia e China, o bloco para quem ele anteviu (ainda sem o “s” da África do Sul) a hegemonia econômica global até 2050.
E a ele pediria, ainda, para me falar disso que veículos importantes da mídia ocidental agora reproduzem em seu nome. Dessa história de que está quase disposto a dizer que o Brics acabou depois da recente anexação de Egito, Irã, Etiópia, Argentina, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita. Êpa! Eu falei Arábia Saudita? Não foi desse pessoal aquele presente de R$ 16,6 milhões? Mas, por enquanto, deixemos para lá.
O moço prestaria um enorme serviço ao analfabeto que sou se me explicasse como um consórcio que pula de cinco para 11 membros está para morrer? Anda, mesmo, em estado comatoso o grupo que pode se tornar Brics 20 antes que a gente consiga soletrar r-e-p-ú-b-l-i-c-a p-o-p-u-l-a-r d-a c-h-i-n-a?
É claro que eu aproveitaria o momento da nossa conversa para me inteirar da sua falta de aviso aos tubarões da economia sobre a iminência da crise de 2008. Falo do conjunto de bancos (o seu, inclusive) cuja quebradeira rendeu a falência de meio mundo. Lembram disso e de como aquele sujeito com nove dedos predizia para o Brasil a última das entradas naquela encrenca e a primeira saída? Pois bem, por que o velho Jim não previu a coisa? E, se previu, por que se calou? Ah, que bela conversa eu teria.
Afinal, adicionar Argentina, Etiópia, Egito e Irã apenas significa debilitar o Brics? E a tal da geopolítica? E mais uma cunha monetária no terreiro do dólar? E o petróleo, o gás, o ouro, a platina, o tântalo, o cobre, o mióbio da África?
Não conversei, evidentemente, com Pepe Escobar, mas li o que ele escreveu para a Agência Sputinik. Não aquele Pepe, mas o analista da geopolítica de fama universal, o correspondente de publicações internacionais, o sujeito com entrevistas e artigos pulicados nos jornais dos cinco continentes, o jornalista brasileiro que não escreve em português há 20 anos.
Vamos ao moço. A 15ª Reunião dos Brics, na África do Sul, deixou o Ocidente atordoado. No dizer do velho Xi, foi este um momento histórico. A Índia queria três membros novos, a China queria dez e a coisa se aquietou com seis. O Brics 11 será 20 em janeiro vindouro e não demorará muito para ser 40.
Tal como se encontra, já representa o Sul Global. A moeda única ainda é projeto distante, mas a turma se dispõe a operar, muito em breve, com moedas nacionais. O tema, aliás, foi sublinhado por ela, ela mesma, ela sim, a dra. Dilma, dirigente do Banco do Brics. Lembram da moça?
Pepe conta que o bloco está a caminho do domínio dos portos do Mar Báltico e abiscoitará, daqui a pouco, as rotas do Canal de Suez, do Golfo Pérsico e do Mar Vermelho, além dos Corredores Internacionais de Transporte Norte-Sul e Leste-Oeste. Tudo isso combinado com as Rotas Marítimas da Seda.
O acréscimo de países agora eleva o PIB do Bric para 36% do mundial. O grupo passou a deter 47% da população terrestre, quase metade dos viventes neste Terceiro Milênio. Controla quase 40% das exportações globais de petróleo e dispõe de 46% dessas reservas. Quando entrarem a Venezuela, Cazaquistão e Argélia, essa turma deterá 90% do petróleo e gás globalmente comercializados.
E o petrodólar entra em coma. Dirigida pela Arábia Saudita e a Rússia, a velha OPEP dispõe-se a comprar o caixão. E, então, Seu Jim?
E, ENTÃO, SEU JIM? por Frutuoso Chaves
LUA CHEIA, por Frutuoso Chaves
É tempo de caras e lentes para cima. São dias nos quais ela infla e se mostra aos habitantes de todo um hemisfério. Sempre assim: quando aparece para você, também aparece para metade do globo terrestre.
Então, é meio mundo que a enxerga, simultaneamente, no menor e no maior dos seus brilhos, dia ou noite. O que muda é o jeito como as pessoas a percebem das duas bandas da Terra. Tem a parte convexa apontada para oeste, no nosso caso, moradores da banda sul.
Mais importa, todavia, é vê-la plena, absoluta, radiante. Nas redes sociais, assim tidas e havidas, ela é, agora, a imagem mais buscada. E, vaidosa como toda fêmea, exibe-se sem recato aos que a busquem.
Para Catulo da Paixão Cearense (o nome do moço já é um poema), não há, ó gente, luar tão belo quanto o do Sertão. Ali, mais parece a Lua um Sol de prata. O mesmo Catulo versejou a valsinha do flautista Pedro Alcântara a fim de explicar o que é a dor de uma paixão. “Ontem ao luar”, fruto dessa parceria, tem acalentado sucessivas gerações graças ao talento de gente como Vicente Celestino, Altemar Dutra e, mais recentemente, Marisa Monte.
E tem sido assim pelo mundo inteiro. Dificilmente, haverá um povo que não tenha visto a Lua com a lente e os modos do coração. “Fly me to the Moon”, já pedia à sua amada, em 1954, o compositor norte-americano Bart Howard por meio da canção que Frank Sinatra e outros não menos cotados transformariam num ícone do jazz. E o que dizer do “Blue Moon” que Richard Rogers e Lorenz Hart pariram em 1934?
“Canta a Lua, seminua, flor mimosa”, dizia o fado de Amália Rodrigues, o “Flor de Lua”, muito antes que Celly Campello ficasse branca como a neve. No cancioneiro italiano, ora a lua é vermelha (Luna Rossa), ora verde (Verde Luna).
Pessoalmente, lembro do bolero cantado por um Bievenido Granda com a alma aos pedaços, no fim dos anos de 1950, uma vez, pelo menos, no auditório da velha Rádio Tabajara: “Luna, ruégale que vuelva”. Ei, Legião Urbana, hoje à noite tem luar, sim. Acabo de fotografá-lo, aqui de casa.