Acho que acontece a todo mundo. Muitas vezes, a gente sai da cama com umas saudades esquisitas. E a coisa se agrava na marcha irrefreável dos anos. Quanto mais velha a cabeça se põe, mais embaralha o miolo. Já acordei com falta de doce americano, raspadinha de morango, porta-chapéu, brilhantina, estampas da Eucalol e camisa volta-ao-mundo.
Foi não foi, eu daria tudo para ouvir o barulho da velha máquina Singer operada por minha mãe quando do corte e costura de roupas para si e para os filhos. Sou daqueles bem apegados aos velhos tempos e seus costumes, embora me adapte, facilmente, às coisas novas.
No jornalismo, sem maiores problemas, atravessei as fases do chumbo derretido, da linotipo e do off-set com sua composição a frio. Com muita frequência, porém, a velha e boa Olivetti, tipo bunda de ferro, me cairia bem melhor do que o computador de mesa, ou o laptop. São lembranças que me surgem ao acaso sem motivo aparente nem explicação.
Pois bem, hoje eu acordei com saudade do Pafúncio, o segundo mais longevo personagem dos quadrinhos. Só perdeu para os Sobrinhos do Capitão. Surgiu em 1913 do deboche e do traço primoroso de George McManus inspirado, ao que se conta, na comédia musical “The rising Generation” estrelada por um irlandês gordo e baixinho chamado Billy Barry.
Teria sido nesse cara que, ao sair do teatro, o desenhista se inspirou para compor as tiras em preto e branco publicadas em jornais americanos com o título “Bringing up father”, algo como “Educando papai”. O título remete à missão abraçada por Nora, a filha desejosa de fazer do pai um sujeito digno do fraque e da cartola. Em vão, pois Jiggs (o Pafúncio por aqui assim traduzido) jamais abandonaria a bebedeira nem a companhia da ralé com a qual se dava muito bem. A fortuna ganha de um dia para a noite nas apostas jamais o levaria a abandonar as velhas amizades nem os hábitos mais antigos. Um deles o de perseguir moças bonitas.
Feiosa e ciumenta, Maggie, nossa Marocas aspirante do “jet set”, acostumou-se a tratar o marido à base do rolo de macarrão. Diga-se que a bela e afetada Nora, que aos poucos desapareceria desse enredo, também se via às voltas com a breguice da mãe. George McManus e seu talento batiam, assim, sem dó nem piedade, na casta dos novos ricos, fenômeno tipicamente americano.
Os homens por ele desenhados eram feios e desajeitados, ao contrário das mulheres, estas sempre belas e atraentes. Exceção apenas para a terrível Marocas, o pesadelo de Pafúncio. Essas histórias, ainda em tiras, ganharam cores a partir de 1918. As revistas vieram em seguida e tiveram suas edições definitivamente interrompidas em fins de março de 2000. Duraram, portanto, quase 90 anos.
Leio que Jiggs and Maggie, perdão, Pafúncio e Marocas, também chegaram ao cinema em quatro sequências estreladas por Joe Yule e Renie Riano, em anos seguidos, de 1946 a 1950, por obra e graça da Monogram Pictures.
Eis os títulos: “Jiggs and Maggie in Society”, “Jiggs and Maggie in Court”, “Jiggs and Maggie in Jackpot Jitters” e, por fim, “Jiggs and Maggie out West”.
Mas o que, de fato, me fazem grande falta são aqueles gibis. A propósito, umas tantas insônias já me fizeram constatar que esses filmes estão no Youtube. Portanto, façam deles bom proveito todos os que hoje vivam com as saudades que sinto.
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