SÓ QUERIA ENTENDER, por José Mário Espínola

Imagem: Reading Acts (Reprodução)

Imagem: Reading Acts (Reprodução)

Meu querido amigo e colega,

Já faz um bom tempo que quero entender o que aconteceu, mesmo, com a cabeça das pessoas que conheço. Mais exatamente a escolha da idolatria política, que mais se assemelha à religião. Eu compreendo que o ser humano tem a tendência a venerar um pensamento, geralmente religioso. Mas existem aqueles que não veem sentido nisso. Porém, nem por isso podem ser classificados como não-humanos, ou pessoas melhores ou piores que a maioria dos humanos. Eu, pessoalmente, não tenho não tenho nenhuma religião. Mas daí a venerar pessoas de carne e osso, falíveis, complexas, há uma grande diferença. Então, voltemos ao nosso assunto.

Compreendo que a opção político-ideológica geralmente tem alguma influência. A pessoa pode ter um pensamento liberal que, dentro do espectro político, possa ser situado à direita. Há aqueles que não têm nenhuma identificação ideológica. Ou até mesmo abominam a política. Nem por isso deixam de ser pessoas honestas, bondosas, responsáveis, bons profissionais. São aquelas que se situam no centro do espectro político. Outras pessoas têm uma tendência mais social, mais preocupada com o pensamento coletivo, com as minorias à margem da sociedade e aquelas que simplesmente vivem para servir à elite social. As pessoas que têm esse pensamento podem ser situadas à esquerda do espectro político. É o meu caso.

Feita essa introdução, importante para o nosso diálogo, vem a pergunta: por que tantos brasileiros em torno de mim (parentes, amigos, vizinhos e, especialmente, colegas médicos) fizeram a opção pela extrema-direita nos últimos anos? Compreendo a aversão provocada por erros cometidos nos três últimos (e únicos, nos 134 anos de República) governos administrados pela esquerda. Alguns muito graves foram cometidos e foram objetos de processos rumorosos. Mas também outros erros, comportamentais. Coisas como exageros de expressões que possam soar mal. Do tipo “todos, todas e todes”; “presidenta”; “eu, enquanto…”; “posso fazer uma colocação?”; “politicamente incorreto”; “empoderada”… E tantas outras que causaram aversão a muita gente neste país.

Algumas dessas expressões também não me agradam, e por isso eu não uso. Mas respeito quem as usa. No entanto, isso não chega a embotar os benefícios, as conquistas sociais, o crescimento da importância do Brasil na ordem mundial e o grande desenvolvimento econômico dos primeiros oito anos dessas administrações de esquerda, com reflexo muito positivo para todas as classes sociais, principalmente as marginalizadas pelo capitalismo. O que incomodou mesmo, mais exatamente, as elites brasileiras, foi a política social adotada pela esquerda quando esta administrou o Brasil. Compreendo essa rejeição, pois a nossa sociedade é extremamente conservadora. É tão elitista que até o século 21 ainda não desmontou a senzala: apenas aprimorou o escravagismo.

Entendo, porém, que essa política é extremamente necessária, voltada para uma maioria da população que sempre foi marginalizada, permitindo-lhe oportunidades nunca dantes imaginadas: desde o acesso à educação superior até as oportunidades de ascensão política, econômica e social. Mas digamos, contudo, que você seja alguém que se posicione à direita e todas as iniciativas citadas acima lhe incomode. É uma questão de escolha pessoal, que se há de fazer, senão respeitar as suas escolhas? Gostaria apenas de entender.

Assim, meu amigo, explique: por que escolher, para idolatrar, um ídolo de pés tão sujos e de barro? Justamente a antítese da formação doméstica, religiosa, educacional e ética da maioria esmagadora daqueles que até hoje o idolatram? Vocês não tinham opção melhor? Senão, vejamos. Vamos começar pelo item Educação Doméstica. Faço comparações com os exemplos que vocês tiveram ao longo da formação familiar: vocês viam esses exemplos nos seus pais? Assistiram alguma vez seus pais tratarem as pessoas humildes, especialmente mulheres, com o desprezo e a agressividade que assistimos estarrecidos ao longo dos últimos anos? O comportamento acanalhado? A limitação de vocabulário? As expressões vulgares? O ódio explícito?

Honestidade. Vocês conhecem algum funcionário público que nunca teve outra renda senão a proveniente do erário, acumular de forma honesta a riqueza que esse cidadão e seus familiares hoje exibem? Comportamento ético. É honesto mentir sem nenhum escrúpulo, descaradamente, além de proteger notórios marginais e pessoas nocivas à sociedade? Formação Religiosa: o que foi que vocês aprenderam, em casa, na escola e na igreja? Vejam, por exemplo, os Dez Mandamentos, dogma do cristianismo. Vosso ídolo fere pelo menos seis. São eles:

  • 2º: Não tomar o Seu santo Nome em vão. Diuturnamente, para impressionar as pessoas religiosas, ele costuma invocar Deus, mesmo que escancaradamente não esteja sendo sincero.
  • 6º: Não pecar contra a castidade. Você considera casto alguém que se vangloria de só ter usado o apartamento funcional de deputado federal para atividades extraconjugais? Alguém que admite estuprar uma mulher, desde que ela enquadre-se nos seus critérios
  • 7º: Não furtar e…
  • 10º: Não cobiçar as coisas alheias.

Estes mandamentos foram simultaneamente violados em pelo menos uma ocasião: quando tentou apossar-se dos presentes milionários que foram ofertados pelo príncipe da Arábia Saudita, por motivos AINDA não esclarecidos.

  • 8º: Não levantar falso testemunho. Ao longo de toda a sua vida pública é só o que ele tem feito, irresponsavelmente, tornando vulgar as máximas: “Não se escreve o que ele diz.” E também: “Ele não é autor que se cite”.
  • 9º: Não desejar a mulher do próximo. Já vai no terceiro casamento. Até quando? Nem Deus sabe!

Pois é esse o mito adotado como modelo por uma boa parcela da população brasileira. O que me permite concluir que ele não passa de um espelho: vocês são exatamente assim!

É BOM ESCLARECER
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Uma resposta para SÓ QUERIA ENTENDER, por José Mário Espínola

  1. Márcio Metzker Da Silva escreveu:

    Meu caro Dr. José Mário, não é apenas o humanismo que está em baixa, mas também a Verdade. Desde que a Constituição de 88 revogou a Lei de Imprensa e o Supremo revogou em 2009 a exigência de diploma para exercer o Jornalismo, qualquer idiota passou a escrever o publicar o que bem entendesse, sem atender aos critérios mínimos de investigação jornalística, imparcialidade na apuração dos fatos ou temor às punições para calúnia, difamação e injúria. E essa desregulamentação só piorou com o advento das redes sociais. O risco para a sociedade é o mesmo de permitir que curandeiros e charlatães disputem mercado com os médicos, e que pastores evangélicos que fazem um cursinho de três meses se sintam mais capazes de discutir Teologia do que um sacerdote que estudou 12 a 15 anos num seminário.