JOSEPHINE, LA BELLE, por José Mário Espínola

Arlette Espínola (acervo do autor)

Anos atrás, fomos conhecer a Semana Santa de Pirenópolis, em Goiás. Acompanhados de nossa filha Ana Laura, quem nos levou até a cidade foi o casal Humberto e Arlette Espínola, meu irmão e minha cunhada, que nos hospedava na Capital Federal.

À época, o casal morava numa bela mansão de estilo provençal, numa quadra exclusiva próximo ao Lago Sul, de Brasília. E, principalmente, vizinho ao Jardim Botânico de Brasília!

Ar puro, clima maravilhoso, a proximidade com o horto às vezes oferecia agradáveis surpresas da natureza, que deixava os caminhantes encantados. Foi o caso de uma linda arara vermelha, que Arlette batizou de Josephine.
Um dia, a arara enorme amanheceu pousada no galho de uma das mangueiras do belo jardim dos Espínola, e lá passou o dia, voando à tardinha de volta ao horto.

No dia seguinte lá estava ela de novo. E assim sucessivamente, ao longo de anos. Tão mansa, logo estava ela pousada na mesa de café do terraço. Depois passou a deixar coçar-lhe a cabeça, demonstrando satisfação. E a amizade criou raízes.

Todos os dias ela tomava café ou almoçava com eles no terraço da casa. Isso aconteceu ao longo de muitos anos. Porém, um dia Josephine não voltou mais, deixando todos muito tristes. Inclusive eu e Ana Laura, que adoramos bichos (exceto baratas!). Mas Josephine nos deixou, Arlette!

Imagem: Nature Space – WordPress.com

***

Arlette Jeannine Denise Martin Espínola foi o belo souvenir que Humberto trouxe de Paris, após concluir sua pós-graduação na Sorbonne.

Ela era orgulhosamente normanda, natural de Caen. Filha de Pierre Marie Jean Victor Martin e Denise Marie Leboulenger Martin, tinha cinco irmãos e uma irmã, todos normandos como ela. Seu pai, Pierre Marie, atuou na resistência aos invasores alemães, durante a Segunda Grande Guerra.

Casou-se com Humberto e veio morar no Brasil. Aqui, teve seu único filho, Benoit, que mora na Finlândia, casado com Anu (acho que ela é tataraneta-torta de Papai Noel, pelo lado da mãe…), e que já lhe deu dois netinhos lindos: Elias e Léo Denis.

Juntos viajaram pelo mundo, vivendo boas aventuras. Numa viagem de Barcelona para Lisboa, juntos com Francisco Barreto, atravessaram a fronteira ao meio-dia. Resolveram, então, parar para almoçar numa tasca de uma cidadezinha.

Fizeram os pedidos e estavam a conversar alegremente, aguardando a comida. De repente, Arlette viu um dos garçons parados, olhando boquiaberto para o grupo. Ela cutucou Humberto, chamando a sua atenção. Foi quando o garçom exclamou:

– Que raios de língua é essa, que eu entendo tudo?!

Os três não se aguentaram.

Arlette era um doce de pessoa e estava sempre muito bem humorada. Era tão boa gente, tão boa esposa, que se acostumou com o nosso país. Sempre muito alegre, ela gostava de dançar.

Muito inteligente e organizada, Arlette dominava todas as ferramentas da internet, sendo fundamental na organização da família. Grande anfitriã, cozinhava muito bem, especialmente pratos europeus, a exemplo da saborosa sopa fria espanhola, gaspacho, e do doce de leite cortado, ambrosia. E a incrivelmente deliciosa torta de maçã tarte tatin! Pratos dignos de serem servidos em vôo da Air France.

Veio conhecer João Pessoa e a nossa família e apaixonou-se pelo Nordeste. O Brasil passou a ser a sua segunda pátria. Amava o mar, e logo compraram uma grande casa em Praia Formosa, no setor de Ponta de Matos. A casa é no estilo bangalô inglês e foi construída em 1911 pelos engenheiros britânicos que trabalharam na construção do porto de Cabedelo. À sua frente encontra-se o Farol da Pedra Sêca.

Trabalhando para o Ministério de Exterior da França, Arlette morou dois anos na Ilha de Malta. Coincidentemente, lá conheceu a Baía Spínola, recanto bonito no centro da capital, La Valletta.

Pessoa culta e muito sensível, Arlette era apaixonada pela natureza. Após largar o emprego na Embaixada da França, em Brasília, estudou desenho e pintura, dedicando-se à reprodução de plantas, fazendo trabalhos lindos, bem delicados: flores, ramos, plantas, pétalas…

***

Arlette nos deixou há dois anos. Acometida de complicações causadas por graves sequelas da covid 19, ela partiu rapidamente, deixando todos nós enlutados e muito tristes. E com muitas saudades ainda hoje sentimos muito a sua falta.

Imagem: Wiki Aves

Às vezes, fico pensando se ela não voltou para o Jardim Botânico, encantada sob a forma de uma linda arara blanc, bleu, rouge, reencontrando-se lá no céu com Josephine. Ou até mesmo, quem sabe, ela reencarnou-se na própria Josephine…

É BOM ESCLARECER
O Blog do Rubão publica anúncios Google, mas não controla esses anúncios nem esses anúncios controlam o Blog do Rubão.