JUKEBOX, por Frutuoso Chaves

Imagem meramente ilustrativa copiada de Rick Jukebox

Entrou ali com o coração aos pulos. Buscou a mesma mesa, escolheu uma música e fez o pedido costumeiro: gim com água tônica. O recanto onde estava era o mais escondido do barzinho situado, aliás, no trecho mais remoto do bairro. Na metade do drinque, ela chegaria esbaforida, tão ofegante quanto no primeiro encontro. E manteria a pontualidade dos atrasos, a dos 15 minutos de repetida agonia.

Happy hour, pois sim… Vão dizer isso aos corações em brasa, uma vez por semana, a cada quinta-feira. Os fins de tarde, quaisquer que fossem, lhes seriam felizes se não tivessem no peito a dor dos amores proibidos, o remorso das traições, o medo do flagrante-delito e, é claro, da punição.

Para ela, naquele cantinho de bar, adviriam, também, o coquetel de sempre, o queijo fatiado e, se distante o garçom, os beijos furtivos. No mais das vezes, não ousavam ir muito além dos dedos entrelaçados. E tudo, com o fundo musical muito bem escolhido, acabava à altura do quarto drinque, invariavelmente.

Uma vez, mediante promessa de sigilo eterno e absoluto, ele falou ao melhor amigo do propósito de trocar o lar por aquela paixão dos infernos. Já não o fizera porque ainda não tinha a intenção correspondida. Diga-se que o interlocutor dividia com ambos o mesmo ambiente de trabalho e que, depois disso, os sussurros e ares de riso passaram a bambear as pernas do moço apreensivo e arrependido da revelação. O amigo jurou que não que não havia quebrado o voto de silêncio.

Não conto como nem por quem eu soube dessa história e de seu final. O par se desfez com o pedido de demissão e sumiço daquela jovem senhora para lugar não sabido. Passei, então, a me compadecer daqueles dois, embora não os tivesse conhecido, posto que atuavam em diferente campo de trabalho e numa zona da cidade afastada da minha.

Por acaso, estive naquele pequeno bar, à boca da noite de uma quinta-feira. Não sei se a dele, mas vi quando uma alma penada se ergueu do recanto mais escuro e rumou até a Jukebox. Logo, a voz suave de Tony Bennett preencheu o ambiente. A máquina tocou um tema romântico, dolorido, em absoluto contraste com seu brilho, sua profusão de luzes e cores.

A Jukebox é uma invenção de 1890 aprimorada, sucessivamente. As primeiras funcionavam apenas com fichas. Você comprava quantas quisesse, escolhia suas músicas, colocava cada ficha, apertava botões numerados (cada número, uma música) e aguardava o braço mecânico retirar o corresponde disco de uma prateleira depositando-o no prato giratório. Em seguida, outro braço pousava com a agulha, suavemente, nas ranhuras do vinil. Pois bem, você havia acabado de fornecer música, em bom volume, para o ambiente inteiro, gostassem, ou não de suas escolhas. Esclareço que nunca testemunhei arengas por conta disso. Quem inventou essa coisa criou uma máquina de consensos.

Mas acho que estive a ponto da briga quando, naqueles idos, pus a tocar para o bar inteiro o apelo sensual de “Me and Mrs Jones”, a música que popularizou o incrível Billy Paul nos quatro cantos do mundo. Fala, exatamente, do encontro às escondidas de dois amantes, à mesma hora e no mesmo Café, enquanto a Jukebox tocava as suas canções preferidas. Não o fiz por perversidade, eu juro, mas para homenagear um amor que se foi e acalentar dois corações feridos. Será que fiz bem?

É BOM ESCLARECER
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