LAPINHAS E PASTORIS, por Frutuoso Chaves

E, então, o que foi feito desses dois autos natalinos? Não os vejo desde o início da adolescência. A última lembrança que tenho de uma Lapinha me conduz ao velho Clube Social de Pilar, com as bênçãos do Padre Gomes.

As meninas, filhas de famílias católicas, formavam dois cordões (duas fileiras, uma azul e outra encarnada) à frente de um Presépio onde não faltavam as figuras típicas da temporada: o Menino Jesus, seus pais terrestres, alguns anjos, os bichos da estrebaria e, por fim, os Reis Magos, em volta da manjedoura.

Pastorinhas, mestra e contramestra cantavam modinhas na adoração ao Deus Menino e disputavam a preferência do público que interagia mediante apostas em dinheiro, ora num cordão ora noutro. O apurado tomava o rumo da Igreja para custeio de uma pintura, ou um remendo qualquer.

Havia um enredo cuja sequência não lembro. Mas envolvia intriga entre mestra e contramestra, previsões de uma cigana, despedidas e queima da Lapinha no Dia de Reis. Era uma festa absolutamente familiar, com mães orgulhosas da performance de suas meninas e pais dispostos a eleger o cordão preferido.

Mas para mim e os de minha geração, com os hormônios em efervescência, bom mesmo era o Pastoril armado em cima da carroceria de um caminhão, na Rua do Rio. Aquilo, sim, é que era diversão. As saias curtinhas das moças nos puxavam, inapelavelmente, para a primeira fila qualquer que fosse o medo do pai a cujo conhecimento chegasse o enxerimento do filho. Também havia os cordões de pastoras e, a cada lado, bandeirinhas encarnada e azul subiam ou desciam nos mastros conforme o dinheiro que nelas pregassem os torcedores.

Se a Lapinha possuía algum sentimento mais nobre, o Pastoril, não. Nenhum. Era absolutamente profano e satírico, com anedotas pesadas e enredo conduzido por um personagem cômico e libidinoso: o “Velho”, algumas vezes também tratado por “Cebola”, ou “Marujo”. Lembro de um que vestia um macacão largo e florido de palhaço.

O sujeito encolhia a barriga, esticava o cós das calças, olhava na direção do dito cujo e comentava: “É o pequeno!”… Em seguida, enfiava a mão e retirava dali uma bengala retorcida, com a ajuda de duas meninas, uma de cada cordão.

Afinal, de onde vinham essas moças assim tão desinibidas? Um amigo contou-me que o pai conhecia várias delas do Carretel, uma rua de Itabaiana, hoje em dia, tão familiar quanto a Lapinha do Padre Gomes. Tempos idos.

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(Imagem: Foto do Pastoril do Mangaba, pinçada da Internet)

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