A FACE DE CRISTO, por Frutuoso Chaves

Imagem do documentário ‘A verdadeira face de Jesus’, do History Channel

Grudei os olhos e os sentidos em “A verdadeira face de Jesus”, o documentário que retrata, com alguns saltos, o percurso do Sudário, desde os primeiros passos do Cristianismo até os dias de hoje.

A exibição, pela enésima vez, na tevê a cabo, fez parte da enxurrada de fitas típicas da temporada do Natal. Liga-se o televisor e pronto: lá está o tema em tudo o que é produção filmográfica, seja com pitadas de ciência e religiosidade, seja com os romances de água de flor de laranja saídos studios americanos, sobretudo, destes.

O documentário em questão retrata, em meio a depoimentos de historiadores e teólogos, o trabalho de uma equipe de artistas gráficos liderada por Ray Downing (do Studio Macbeth) que, em 2010, teve acesso exclusivo ao Sudário por cinco dias, em Turim, para o trabalho fotográfico. O propósito era o de um retrato fiel, em três dimensões, do homem da mortalha.

O Cristo, em pessoa? Bem, em 2008, uma pequena ponta do tecido fora submetida ao teste com Carbono 14, o mais confiável processo científico de datação conhecido no mundo, que a ela dava entre 1260 e 1390 anos. Portanto, mais de 12 séculos depois do nascimento do filho de Maria, segundo a história então alçada às manchetes do jornalismo universal. O público brasileiro dela tomou conhecimento, notadamente, por meio do domingueiro “Fantástico”. Quem não lembra?

Acontece que alguém logo comprovaria a má escolha dos pesquisadores em relação ao pedacinho extraído da borda do tecido para o exame laboratorial: coincidentemente, um remendo no pano com fios medievais. E a dúvida se instalou. O Vaticano, por sua vez, não mais liberou o Sudário para análises novas. As manchas ali captadas por Downing e levadas à perícia mostraram-se, por seu turno, compatíveis com os açoites e o processo de crucificação biblicamente relatados.

Mas vamos à face em 3D reproduzida com o auxílio dos recursos avançados da moderna computação gráfica. O que aparece é um ser de cabelos negros, traços grossos e pele morena. Ou seja, tudo muito de acordo com a aparência dos filhos de Belém, na Palestina, há 2 mil anos.

E combinemos o seguinte: a aparência de quem quer que seja é o que menos deveria importar à fé e à cristandade. De modo que o reparo fica por conta do Cristo com traços europeus que nos acostumamos a ver nos grandes e pequenos templos ocidentais.

À luz da razão, é mesmo difícil supor que tivesse pele branca, olhos azuis e cabelos aloirados aquele homem que se juntava à ralé, a pescadores e, em alguns casos, a prostitutas, na defesa dos injustiçados e oprimidos.

Aculturação é fogo, meu companheiro e minha companheira. A propósito, ainda, da temporada, é o que traz um Papai Noel gordo e nórdico aos natais de quase todo mundo, desde Nova York até Coxixola. E, não menos, faz pesar sobre galhos retirados da Caatinga neves de algodão.

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