Acredite. Muitas vezes, não vale a pena pesquisar aquilo que não se entenda. E vale menos ainda se o assunto disser respeito à medicina e seus tratos.
Um formigamento leve, coisa quase imperceptível, e lá fui eu recorrer ao São Google, esse ente prestimoso, sempre disposto ao socorro, onipresente, muito entendido de qualquer ciência.
Pergunte sobre o Sovaco da Cobra e a resposta está lá, na ponta da língua. Quem quer saber disso? Eu bem que desejo, pois sou amante do tema e suas expressões. Além do mais, sofro como o diabo o distanciamento físico de talentos com existências passadas e presentes, a exemplo de Abel Ferreira, Pixinguinha, Zé da Velha, Guinga, ou Hamilton de Holanda.
O primeiro compôs o clássico do gênero, espantoso pelo título (cobra não tem sovaco), pela beleza das notas e pelo desafio da execução, coisa para virtuosos. Os demais consagraram a casa homônima, na zona boêmia do Rio de Janeiro, onde eu, condoído, nunca estive nem estarei, porquanto o lugar já fechou, ao que o Google me conta.
Elemento 137, universo paralelo, tecido cósmico, vidas extraterrenas, fissão nuclear? Pergunte e o Google responde. Mas não pesquise formigamento. Nem isso nem outra coisa relacionada a qualquer mal estar orgânico. Ainda mais se a coceirinha for – como direi? – naquele apêndice que mais diferencia os homens das mulheres. Aquele com que, ainda em idade fetal, caso a criatura esteja de perna aberta, o doutor sentencia: “É homem”.
Pesquise e se arrependerá. Eu me arrependi. Sem cerimônia, o Google me encaminhou para o quesito “Urina”. Você, se não for do ramo, não faz a menor ideia daquilo que seu xixi pode denunciar. Saí da leitura com a impressão de que o sangue, muito menos significante, não me faria falta.
Diabetes eu já sei que tenho. E foi a urina quem isso primeiramente boatou, tempo atrás, quando dela fiz um exame por obrigação médica. O sangue, em quem apostei mais dinheiro esperançoso do desmentido, diria o mesmo, 24 horas depois, confirmando a má notícia. Por essa e outras é dele que fiquei com raiva.
“Triagem que auxilia no tratamento de patologias diversas”. É a justificativa que o Google apresentou para cobrar de mim o teste rotineiro da urina.
Pedra no rim, lesão dele próprio decorrente de hipertensão arterial, infecção de origem bacteriana e, até o que mais me assustou, “patologias raras, doenças metabólicas hereditárias”. Eis a lista daquilo que pode me pegar de tocaia numa dessas esquinas da vida.
Valha-me Nossa Senhora. Eu apenas queria a indicação de uma dessas pomadinhas que a farmácia, em tempo de isolamento, entrega sem receita médica na casa do freguês. Melhor ainda, me bastaria algo como um chazinho com o gosto das avós e tão eficaz quanto elas.
Quem eu penso que sou? Por que fui me meter a pesquisar coceira, fosse lá onde fosse? Pago, então, com meus receios pelo enxerimento. Só não fico mais preocupado porque, agora mesmo, sinto que já me passa o incômodo. E lá vem o Google me aconselhar exame urinário rotineiro.
Faço nada. Prefiro passar desta para melhor, absolutamente despreocupado. Eu quero, quando minha hora chegar, é morrer feliz. É partir com saúde.
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