Um amigo sugeriu e acatei – escrever sobre o meu pai, Inácio Henriques de Souza Gouvêa. Tentarei descrevê-lo, embora não seja fácil, por ele ter sido especial para mim.
Ele era bonito física e moralmente. Avesso radical à mentira. Sinceridade, muitas vezes, o fazia indelicado. Não se continha diante de erro do idioma, escrito ou verbal. De imediato, corrigia, fosse quem fosse. Mau hábito de higiene era demais para ele. Não suportava e procurava uma maneira de receitar algo para sanar o mal: “Passe um limãozinho e Leite de Rosas”. Achava que estava colaborando com o receitado. Este é um bom preâmbulo para o seu perfil.
De susto queria distância, um estrondo inesperado o deixava vermelho de raiva. Certa vez, deitado, tentando consertar algo embaixo do carro, passou o vendedor de macaxeira e anunciou o seu produto de venda, em tom alto. Ele se assustou, bateu a cabeça no silenciador e, prontamente, disparou uma frase inconveniente para ser escrita aqui. Mas abalado mesmo ficou o vendedor, que correu léguas com o grito. Esse gesto fazia parte do seu temperamento.
Chamava a sua caçula de “Meu Ai Jesus”. Uma vez no quintal, a filha pequena foi bicada por um galo. Foi o bastante para o galináceo apressar-se para não receber uma surra. Coitada da ave. Mas era uma das formas de manifestar proteção à filha.
Foi tesoureiro da Secretaria de Finanças do Estado da Paraíba. A sua competência e retidão diante do cargo eram reconhecidas por todos. Sabia desempenhar a sua autoridade com respeito e austeridade, contribuindo para o harmonioso desempenho dos funcionários. Vaidoso, usava sempre terno branco impecável, pulverizado com ‘Bond Street’. Sua elegância suscitava elogios dos colegas.
Após a aposentadoria exerceu o cargo de Diretor de Finanças do Esporte Clube Cabo Branco, clube pelo qual tinha paixão. Procurava não atrasar o pagamento dos salários daqueles que lá prestavam serviços. Motivo para ter se tornado admirado e estimado pelo corpo de auxiliares que, costumeiramente, o homenageava.
Gostava de jogar gamão e cartas, na sede central do mesmo clube. Há um coletivo de histórias hilárias dele nessas ocasiões. Jogava gamão, estava ganhando e chegava alguém que não lhe trazia sorte. Dizia ao ‘peru’ que fizesse o favor de se afastar porque tinha passado ‘isipra’ (azar) para ele. Supersticioso, ainda se levantava e rodava a cadeira algumas vezes para atrair bons fluídos.
Quando o adversário no jogo estava com mais sorte do que ele, falava: “Você está com uma sorte cornal”. E assim criava sucessivos termos engraçados, de melhor entendimento para aqueles que tiveram o privilégio de conhecê-lo.
Empregava as suas criativas frases também em casa. Na velhice, gostava de lhe fazer companhia num jogo de dominó ou crapô (jogo de cartas). Ele se levantava, algumas vezes, e dizia eufemisticamente para mim: “Licença, vou verter água”. Era motivo para eu sorrir, com o conteúdo engraçado dito com o seu jeito sério.
Hipocondríaco, diariamente comprava fármacos antes de voltar para casa. Junto ao pãozinho, comprado na Padaria Fluminense ou na Flor das Neves, chegava com as últimas novidades do que era bom para o fígado, estômago e outros órgãos. E não abria mão da banana maçã, no almoço, para fortalecer o tecido muscular.
Fazia parte da fobia à doença o hábito de estimular espirros, no retorno ao lar. Primeira providência ao retornar era seguir para o quintal onde espirrava bastante para eliminar bactérias ou vírus, que porventura tivesse adquirido na rua. A lavagem das mãos era sagrada. Várias vezes ao dia. E quem chegasse na sua casa era convidado a se dirigir ao lavatório, numa espécie de imposição delicada.
Domingo era dia de acompanhar, pelo rádio, jogo do seu time de futebol – Fluminense. Ficava tenso e a alternativa era compensar no cigarro, consumido durante toda a transmissão. Muitas vezes a sua filha caçula se juntava ao seu entusiasmo. Quando o Flu vencia era uma festa. Motivo para iniciar a semana com bom humor. Porém, quando derrotado, imaginem os adjetivos dirigidos ao time vencedor.
Não era de dar gargalhadas, preferia ar sério. Seu sorriso era um leve movimento dos lábios. Costumava perguntar à filha menor: “Por que você sorri tanto?”. Ele não sabia que a simples pergunta já era ensejo para rir.
Aquela face sisuda escondia um grande coração. Podia emitir reprimendas, mas procurava auxiliar todos que a ele recorriam.
Gratidão é a palavra que mais se adequa por tê-lo como meu pai.
MEU PAI, por Babyne Gouvêa
ASSOMBRAÇÃO, por Frutuoso Chaves
Jacira chegou apavorada, depois das 8 da manhã, para o trabalho doméstico. “Madrinha, ninguém na rua conseguiu dormir”. Referia-se à Rua da Lagoa habitada, naquele tempo, por lavadeiras de roupa e louceiras, assim chamadas as mulheres que, em bom número, usavam o massapê dos fundos de quintal para a confecção e venda de panelas de barro nas feiras livres da minha infância.
“O que houve?”, perguntou minha mãe à afilhada de fogueira. Explique-se: de fogueira, sim, com batismo em fogo, isto é, em saltos sobre as brasas de junho, de mãos dadas e com os dizeres: “Juro por São João, São Pedro e São Paulo que a senhora é minha madrinha” (no pulo de ida) e “minha afilhada” (no de volta). A consideração, a partir daí, não era menor do que a dedicada ao fruto do batismo formal, com padre, vela, pia e festa. Não existe padrinho de fogueira, entretanto, isso não impediria que o velho Juca, meu pai, fosse tomado como tal pela moça assustada.
“O que houve?”, repetiu ele a pergunta da esposa. E Jacira contou que um choro de menino pequeno, surgido do meio das águas, varou a noite e a madrugada como se advindo de quem estivesse a carregar todas as dores do mundo, apesar de recém-nascido, como fazia crer o “coééé” esticado e quase sem pausa para respiração.
Só poderia ser uma coisa: um pagãozinho necessitado de reza. E reza não faltou naquela noite, coletiva ou solitariamente, puxada, no primeiro caso, pelos que tiveram coragem de ir à casa dos outros a fim de em grupo pedirem aos Céus abrigo para o anjinho. Porém, nada suavizou o suplício da almazinha penada e chorosa. E o medo se instalou na Rua da Lagoa.
Anos antes, outro acontecimento havia tirado o sono de moradores da cidade, desta vez, o dos residentes na rua principal. Acordavam com pedras nos telhados atiradas, não se sabia por quem, até a Polícia apanhar em flagrante o moleque Carneiro.
Mas pedra é pedra e choro é choro. Tinha-se, agora, uma coisa imaterial provinda do meio de um lago. Descrente, contudo, dos mistérios do Além, assim tidos e havidos, o Velho Juca convenceu o amigo Diu, com quem rivalizava no tiro em nhambus (politicamente corretos, naqueles idos), a montar tocaia para a assombração na noite seguinte. E assim fizeram, com suas espingardas, seus cachorros e, é claro, a melhor cachaça que o dinheiro ali podia comprar. Ninguém os condene: noite é noite e frio é frio.
Já quase desistiam da espera quando lá vem o berreiro. Apitos de madeira retirados dos bolsos reproduziram, numa margem e noutra, o pio de um pé-vermelho, conforme o combinado. O cerco foi encurtando, os cachorros foram soltos e, antes que alcançassem um amontoado de baronesa, aquela plantinha flutuante de onde o som provinha, algo alçou voo.
Pei! Pei!… Os tiros quase simultâneos de calibre 20 devem ter despedaçado o que quer que fosse aquilo. Os dois companheiros iriam jurar que se tratava de algum bicho de penas com hábitos noturnos. Mas sequer havia penas para mostrar. Errar o tiro? Impossível, no caso de caçadores com mira comprovada e invejada por muitos.
Bem, Jacira e alguns dos seus iguais chegaram a comentar, à boca pequena, que o medo frustrou a tocaia e aqueles dois apenas dispararam para o alto, em debandada. Vá lá confiar em afilhada de fogueira, gente de meio respeito e compromisso somente com as madrinhas. Seja como for, ave ou anjo, a Rua da Lagoa voltou a dormir em paz.
O BOLSHOI E A INSANIDADE PÚBLICA, por Francisco Barreto
Poucas vezes na vida pude viver e sentir na alma uma contradição tão antagônica revelando extremos que me causaram feridas tão graves e tão gritantes até hoje.
Em 2006, fui a Santa Catarina participar de reunião do Fórum Nacional de Secretários de Administração das Capitais, do qual era Vice-Presidente. Sabedor da minha viagem, foi instado pelo meu estimadíssimo amigo Walter Galvão, então Secretário de Educação de João Pessoa, a fazer uma visita ao Balet Bolshoi de Joinville e ver como estava o nosso grupamento de talentosas crianças que lá estudavam.
Terminado o encontro com o coração alegre, acompanhado de minha ex-mulher Emília ganhei a estrada em busca de Joinvile. Lá chegando, após uma viagem agradabilíssima, fui direto ao endereço da Escola Bolshoi. Me apresentei. Era horário de atividades das crianças. Fiquei encantado com uma grande quantidade de colibris saltitantes executando nos corredores seus precisos passos. Fui recebido pela Maestrina Diretora, que de modo encantador me apresentou à Professora preceptora e cuidadora dos nossos infantes pessoenses.
Fizeram-nos visitar os deslumbrantes ambientes do formidável Bolshoi, inúmeras salas de música e de canto, ambientes espelhados onde deslizavam meninos e meninas vestidas a caráter, o local de indumentárias com centenas fantasias e malhas a rigor, sala de aulas de ensino convencional, cantina para refeições, pequenas quadras de esportes, sala de repouso em ambiente de profundo silêncio e finalmente, o requintado e confortável salão de apresentações das peças de inúmeros clássicos do balet clássico desde o Pássaro de Fogo de Stravinsky ao popular Lago do Cisne de Tchaikovsky. Nos corredores cruzamos com dezenas de crianças que não hesitavam em nos saudar com belas e curvadas mensuras corteses no estilo Vitoriano.
O Bolshoi propiciava uma educação extraordinária e todas as crianças estudavam música, teoria e prática, tendo o aprendizado instrumental. Passavam a conhecer os clássicos e – pasmem – em suas preferências instrumentais. Falavam dos gênios das músicas e exibiam as sua admiração pelos clássicos. Vimos um jovem de doze ou treze anos, filho de uma prostituta, executar movimentos da 5ª Sinfonia de Beethoven. Todas as crianças tinham ensinamentos musicais para que pudessem estabelecer cumplicidade entre a música, melodias e dança clássica.
Foi um visita memorável. Ficamos em transe com tanta beleza adornada por felizes e lindas crianças. Ficamos abismados ao ver a doçura, o afeto e a arte.
Marcamos um encontro para à tardinha fazer uma visita à tutora paraibana das crianças pequenas e adolescentes, uma formidável mestra da municipalidade pessoense extremamente dedicada. A memória me trai, esqueci o nome, mas não da imagem que guardo dela.*
Tão extremada que deixara o seu lar, família com filhos, para ser o Anjo da Guarda daquelas 10 ou 12 crianças sob a sua responsabilidade. Amava o que fazia. As crianças, vimos todas grudadas afetuosamente a ela. Cuidava de tudo da retaguarda doméstica tão inerente à função materna, além de acompanhar as atividades do acompanhamento escolar. A casa confortável, bem cuidada, leitos e ambientes limpos. Enfim, as crianças tinham o mais do que um perfeito lar.
Conversamos por longo tempo com todosbe ficou o absoluto e cristalino o prazer sentir e ver aquela enriquecedora e feliz vida. Da nossa conversa ficou claro que a Prefeitura durante algum tempo não vinha honrando com a sua responsabilidade financeira pondo em risco o bem estar, a alimentação, o desempenho das crianças. A intranquilidade e a angústia de todos era visível, pois, se persistisse o desleixo municipal, teriam que retornar.
Estavam completamente sem recursos já há meses por irresponsabilidade da Prefeitura da Capital. As crianças estavam desprovidas de suporte alimentar, material sanitário, medicamentos, enfim, no abandono.
As crianças todas eram de famílias pobres e alguns vinham de lares cujas mães se prostituiam nas imediações da Estação Ferroviária e no Porto do Capim. Não estudavam e viviam às expensas de esmolas. Alguns da promiscuidade doméstica. Transitavam em ambientes promíscuos e viviam no submundo das drogas nas proximidades do Terminal Rodoviário, do comércio clandestino e hediondo Mercado Público da Primavera. Revelaram muito medo de ter que retornar à vida infame em que viveram. Ao retornar, visitei algumas mães que se prostituíam e sofrendo me pediram para ajudar na permanência deles. Ficaram felizes quando relatei e mostrei fotos do quanto eram bem tratados. Lágrimas, saudades e felicidade daquelas pobres mães foram derramadas.
De volta, relatei a Galvão, fiz um documento dirigido ao então prefeito e ao amigo Walter, dando precisos detalhes de tudo que vi, ouvi e imagens recolhi. Uma única e fundamental conclusão remetia à grave ausência de recursos que sabidamente existiam.
Ao nos despedirmos deles em Joinville, fui a um supermercado e fiz uma compra de bens e gêneros essenciais, sem esquecer chocolates e doces. Foi uma festa. Em coral cantaram uma linda canção entoada com a melodia: Jesus Alegria dos Homens
Abracei a Professora e a todas as crianças. Saí com sentimentos de tristeza e angústia misturadas com uma ponta de felicidade pela visita.
Remeti o relatório ao prefeito Ricardo Coutinho acompanhado dos meus apelos invocando a proteção para aqueles que no Bolshoi, em Joinville, tinham a alegria de viver, em que pese o abandono institucional. Informei à professora que o secretário Galvão e eu iríamos brigar por eles.
Fomos ao edil. Esperamos alguns dias, e fomos recomendados pelo mesmo e irmos falar com o Secretário das Finanças que nos recebeu com indiferença e teve ousadia de proferir o seguinte e desprezível comentário:
– Balé? É coisa de vi….
Retornamos ao prefeito, tivemos o apoio de Luciano Agra, mas a audiência se encerrou quando ressoou a gargalhada do edil sobre a atitude do titular das Finanças.
O grupo retornou e o Bolshoi tempos depois ficou nos sonhos de cada um deles, possivelmente mergulharam na miséria, na fome, no mundo cão. Do Céu para o Inferno sem escala. Não tinha mais como acreditar nos gestores públicos de João Pessoa travestidos de socialistas.
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(*) Em tempo. É imperdoável não lembrar o nome da citada Professora/Tutora, Anjo da Guarda das crianças de Joinville. Passados 16 anos, a memória quase “provecta” não me permitiu nominar a extraordinária e tão exemplar magister et mater. Um desses dias irei ao encalço dos registros funcionais da Secretaria de Educação do município. Consigno assim meu pedido de perdão à formidável e ainda incógnita Mestra.
GOLPE BRANCO, por José Mário Espínola
Bom Amigo me provoca, para saber por que é que eu votar “em um ladrão”, segundo ele. Como é uma pessoa de quem eu tenho uma elevadíssima estima, procurei argumentar com fatos históricos.
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Na Alemanha dos anos 1920, Adolf Hitler aproveitou-se de uma nação fragilizada pelo pós-guerra de 1918, seguida de administrações democráticas, que, no entanto, não conseguiram obter sucesso para melhorar as terríveis condições que a população enfrentava, por diversos fatores: dívida de guerra extorsiva; desemprego incontrolável; inflação astronômica provocada pela quebra da bolsa mundial; caos social; ausência de segurança pública, porque o país estava todo dividido, com bandos armados espalhando o terror, principalmente os Camisa-parda nazistas. Estes eram arruaceiros e viviam em eterno conflito com os comunistas, sob influência da União Soviética, que os armava.
Esse foi o meio de cultura no qual cresceram bactérias humanas, como o cabo austríaco Adolf Hitler. Aproveitando-se da fragilidade política e social, Hitler disseminou o medo entre os alemães, em sua maioria pessoas simples, e no meio da nobreza falida e da elite alemã, que haviam perdido os privilégios, principalmente os prussianos. Todos buscavam um culpado para a situação em que se encontravam. A sua fala despertou a atenção desses segmentos da sociedade alemã. Hitler iniciou apontando os judeus e os comunistas como os culpados maiores pela derrota na guerra e pelas mazelas que o povo sofria. Disseminando notícias falsas, incutiu o ódio da população contra essa etnia. Com isso ele foi ascendendo politicamente, conquistando vagas no parlamento para o seu Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães, os nazistas, fundado em 1920.
Em 1933, Hitler foi eleito por via democrática, mas o seu partido não alcançou o número mínimo de cadeiras para fazer o chanceler, que era o seu objetivo. Ele teve que fazer uma coligação com outro partido, para alcançar o quórum necessário. Sabe com quem? O Partido Comunista Alemão! O Kaiser Hindenburg, que presidia a Alemanha, embora muito contrariado, teve que nomear Hitler para a chancelaria, pois era o que dizia a Constituição alemã. Assim, no dia 30 de janeiro de 1933, Hitler tornou-se Chanceler, o homem mais poderoso da Alemanha.
Dominando o Executivo, e tendo feito a maioria no Parlamento, quatro semanas depois Hitler deu um golpe. Aproveitando-se de um incêndio no prédio do Reichstag, que era o parlamento alemão, causado por um louco holandês, os comparsas de Hitler, orientados pelo ministro da Propaganda, Josef Goebells, disseminam a história de que se tratava de uma tentativa de golpe pelos comunistas, causando medo ao povo alemão. A população estava profundamente insegura. E as elites conservadoras de burocratas, políticos e militares temiam uma tomada de poder pelos comunistas.
Com a população amedrontada, Hindemburg foi convencido por Hitler a assinar um decreto que eliminava a liberdade de expressão, de opinião, de reunião e de imprensa. O sigilo do correio também era abolido, dando-lhe amplos poderes. Então Hitler fechou os partidos Comunista e Socialista, prendendo e torturando seus integrantes. Com o tempo interferiu no judiciário, aposentando os juízes e prendendo alguns. Substituiu-os por magistrados fiéis.
Perseguiu de todas as formas: judeus, católicos, intelectuais, homossexuais, ciganos, portadores de deficiência física ou mental. Recebeu o apoio dos evangélicos, da elite militar, dos prussianos, e da sociedade conservadora. Hoje, sabemos o que resultou dessa escalada, envolvendo o mundo em uma grande guerra de conquistas, com a morte de muitos milhões de pessoas, boa parte delas civis.
Essas informações podem ser confirmadas em livros sobre o nazismo, como, por exemplo: Ascensão e Queda do Terceiro Reich, de William Shirer (talvez o mais completo), e Memórias da Segunda Guerra Mundial, de Winston Churchill.
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Aproveitando-se de uma onda de extrema-direita que vem varrendo o mundo há mais de uma década, e da sociedade brasileira fragilizada pela administração de Dilma Roussef, e a administração pífia, leniente e corrupta de Michel Temer, um tenente que havia sido expulso do exército nos anos 1980, quando foi classificado de medíocre, incompetente e perigoso pelo presidente Ernesto Geisel, surgiu no panorama político com um discurso raivoso ultraconservador, muito semelhante ao do cabo austríaco Adolf Hitler, que encontrou eco na sociedade conservadora do Brasil.
Esse cidadão nunca trabalhou em sua vida. Ingressou na política como vereador do Rio de Janeiro. Fez pacto com grupos armados egressos da polícia estadual, conseguindo se eleger ao longo de 28 anos, dessa vez como deputado federal. Apoiado numa nova forma de fazer política, as famigeradas redes sociais, ele aproveitou-se do momento de fragilidade da nação, disseminou o medo contra as esquerdas, adicionou o messianismo à sua pregação de ódio, e obteve assim o apoio de uma parcela muito organizada e respeitada, os evangélicos.
Nesse ínterim, o principal expoente do partido popular, o PT, foi excluído da eleição de 2018. Este partido deveria ter reconhecido o profundo sentimento antipetista que se instalou na população e apoiado outro candidato, que derrotaria Jair Bolsonaro. Mas, como o PT nunca teve autocrítica, lançou um candidato, que teria muitas chances de se eleger. Foi quando surgiu a facada, desferida por um louco (semelhante ao holandês que tocou fogo no Reichstag), que mexeu com o sentimento de piedade do brasileiro, a pieguice. E Bolsonaro foi eleito democraticamente presidente do nosso país. Como Hitler na Alemanha e Mussolini na Itália.
Ele já está afirmando que, logo que reassumir, irá iniciar o golpe branco. Começará deformando o STF, aprovando no Congresso reforma que lhe permita se livrar de todos os magistrados que possam vir a contrariar os seus planos, reduzir a idade de aposentadoria, além de ampliar o número de ministros, que serão nomeados por ele. Como ele conseguiu eleger a bancada mais conservadora de todos os tempos, se empossado ele conseguirá realizar o seu plano. Depois é só seguir a cartilha desses ditadores extremistas, já com a população subjugada.
Ele se espelha em exemplos internacionais: Hugo Chávez, na Venezuela; Viktor Orban, na Hungria; Vladmir Putin, na Rússia, e Kim Jong-Un, na Coréia do Norte. Um time seleto. Todos foram eleitos pelo voto em seus respectivos países.
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Volto à pergunta de Bom Amigo. Durante muito tempo eu também fui intensivista. Na UTI, nós aprendemos a realizar todos os esforços para salvar uma vida. Na tentativa, fazemos tudo o que é possível e necessário, correndo riscos, tais como, por exemplo, provocar fratura de costelas na massagem cardíaca. O importante é resgatar o paciente. Depois, tratamos as sequelas. Por analogia, devemos adotar o mesmo procedimento para salvar o Brasil.
No momento, a vida da frágil democracia brasileira corre elevado risco de morrer. Acho que esse é o mesmo pensamento que levou a apoiarem o adversário do atual presidente pessoas insuspeitas como Fernando Henrique Cardoso, Geraldo Alckmin, Armínio Fraga, Simone Tebet, vários ex-ministros do STF, toda a elite cultural, diversos empresários. Eles enxergam que é a única forma de impedir que o nosso “cabo austríaco” dê um golpe contra a nossa democracia que, repito, se encontra num momento de fragilidade.
Nesta eleição, escolhi o mal menor para o Brasil. Votei e votarei contra Bolsonaro. Assim, a democracia estará garantida.
NORDESTINOFOBIA, por Arlete Araújo
Fico irritada em ver tantos nordestinos serem tratados como dejetos, mas irrita mais ainda ver nordestinos achando que quem ofende escolhe os nordestinos que são ou não dejetos!
Para esses que nos desrespeitam, nós todos somos dejetos humanos que eles usam quando querem e, quando não precisam, dão descarga.
Esses seres abjetos que nos tratam como dejetos estão indignados com o nosso voto. Indignados com a nossa união em lutar pelo que acreditamos ser o melhor para nós nordestinos e para o nosso país.
Nosso país, sim, porque ao contrário dos que se julgam os tais, nós construímos esse país. De Norte a Sul, de Leste a Oeste, tem pele, sangue suor e lágrimas de nordestinos em ruas, estradas, arranha-céus, igrejas, hospitais, museus, rodovias, parques, lavouras, mineração e o que mais houver.
Do braçal ao intelectual, nós estamos espalhados por esse país! O nosso cérebro e nossa força braçal ergueram e erguem o mesmo Brasil daqueles que nos achincalham.
Estão raivosos que só cão danado porque escolhemos quem nos deu (não por favor, mas por obrigação) um pouco de dignidade.
Vejo gente estudada que lê algo de sua área para escrever ou defender trabalhos acadêmicos, que se sente sábia para classificar pessoas pela régua da soberba ou desumanidade.
Outros não leem nem viveram a história do país, tampouco a do mundo, mas também se sentem no direito de julgar os outros pelo critério do preconceito mais odiento.
É muito simples chamar Lula de ladrão, mesmo sabendo que todos os processos contra ele foram anulados porque não se basearam em provas, mas nas motivações políticas de seus acusadores e julgadores.
A inocência de Lula foi reconhecida em última instância no Brasil e até na ONU, onde ficou patente e comprovada a suspeição do seu principal e mais conhecido acusador-julgador.
Mas tão fácil quanto acusar Lula é inocentar quem passou 28 anos na Câmara Federal fazendo rachadinhas e desviando o dinheiro público para enriquecimento ilícito próprio e da família, segundo denúncias do Ministério Público e declarações de parentes e ‘fantasmas’ que empregou no Congresso.
Mais fácil também é dizer que Lula é anticristão apesar de ser católico (batizado, crismado) e casado nas leis cristãs; ao mesmo tempo, acha difícil condenar quem se diz cristão, mas vai no quarto casamento sem seguir a lei de Cristo.
Fácil é condenar Lula e inocentar quem medalha milicianos (presos ou não) e emprega milicianos matadores.
Fácil é condenar Lula e inocentar quem tinha esquema para comprar vacina ganhando um gordo troco.
Fácil é condenar Lula e inocentar quem em suas próprias palavras diz ser favorável à tortura e deseja a morte de uma mulher por câncer ou atropelamento, além de enaltecer a memória de um torturador na frente de sua vítima e no momento mais sofrido da vida dela.
Fácil condenar Lula, difícil é condenar um homem que só não estupra uma colega porque acha ela feia.
Fácil é condenar Lula, difícil é condenar um homem que declara ser matador e que diz que para o Brasil ter jeito teriam que ser mortos 30 mil brasileiros (entende-se porque era avesso à vacina).
Fácil condenar Lula, difícil é condenar quem diz que nordestinos têm mais que comer capim e até se prontifica em rodovias entregando o capim.
Fácil condenar Lula, difícil é condenar quem chama de excrementos, ri ou faz escárnio de pessoas sem ar, acometidos de Covid.
Fácil condenar Lula por corrupção de pessoas que estão ao seu redor, difícil é condenar quem, por ação ou omissão, tirou o ar, o sonho e a vida de milhares de brasileiros.
Fácil é condenar quem perdeu a vida, quem perdeu os entes queridos, quem ficou órfão e até hoje não sabe o que vai ser da vida, mas difícil é condenar quem faz motociata com dinheiro público em horário de expediente.
Difícil é condenar quem se exibe comendo picanha de mil e setecentos reais o quilo diante de 33 milhões de famintos e se lambuza de leite condensado e dá Viagra para que seus velhos fiquem imbrocháveis.
Difícil é condenar quem destrói ou vende o patrimônio público nacional a preço de banana; quem desmata e queima a Amazônia e polui seus rios com mineração clandestina.
Difícil é condenar quem arma a população (por tabela, o narcotráfico) para aumentar a violência com que ameaça todo dia – e a cada dia mais – a democracia e o Estado de Direito.
Agora, muito mais difícil, talvez impossível, é dobrar e dominar o Nordeste do bem, porque aqui temos consciência política e a ciência do que é o bem e o mal, para continuar escolhendo quem nos faz bem, mantendo o bom orgulho de ser nordestino.
- Arlete Araújo é Administradora