POR QUEM SOMOS AVALIADOS? por Girlene Machado Lima

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Estava num velório de uma parente distante. Uma senhora que deixou um legado de alegria. As poucas lembranças que tenho dela remetiam sempre a um sorriso em seu rosto e a uma risada, ou melhor, a uma gargalhada, mesmo diante de um mínimo de graça.

Seus parentes mais próximos tinham o semblante de dor e alegria ao mesmo tempo, por reunir os velhos conhecidos. A irmã mais velha não saia de perto do caixão. Tinha mais de noventa anos e se via jovialidade e elegância nela. Já a outra irmã não ‘batia bem do juízo’, era alvoroçada, inquieta, mas coordenava algumas conversas. Só soube que eram irmãs porque em um funeral não falta quem lhe fale ao ‘pé da orelha’ quem é e o quê faz cada visitante, como se todos fossem legenda de filme.

Estava próxima de umas primas da defunta, que eram irmãs entre elas. Começaram falando de seus maridos que, segundo me contaram, estavam ficando ‘gagás’. Uma delas, vendo-me próxima e sabendo da minha profissão que é primordialmente OUVIR, continuou suas queixas em meus ouvidos. Como eu não dizia nada a respeito, começou a falar dos presentes ao velório. Com um jeito que substitui o apontar dos dedos, direcionando brevemente a pupila dos olhos no sentido da pessoa da qual desejava falar, descrevia resumidamente assim: “Esse aí (olhinho direcionado) é velho, muito velho!” “Já aquela ali (olhinho pra lá) é doida”. Assim eram classificados os visitantes. Dentre esses, um me deixou em situação constrangedora em razão da descrição que aquela senhora fez. “Esse velho ali (e lá vai o olhinho) casou de novo e teve que colocar uma prótese peniana”, falou. Disse assim olhando ora para cima ora para a região da suposta prótese. Esforcei-me para não fazer o mesmo.

Em outro momento, numa igreja, enquanto o pastor lia as recomendações de Jesus sobre amar uns aos outros, um irmãozinho na fé vem para o mesmo par de ouvidos – o meu. Ah se tivesse uma porta para ouvidos! Além de trancar, colocaria uma plaquinha: FECHADO. Pois, sem aviso algum do tipo, ele chegou e falou: “Sabe aquele fulano? É roxo. Como pode um roxo estar entre nós? Nós é que somos os verdadeiros seguidores de Cristo”.

Em qualquer ambiente, a nossa humanidade se revela. Povoada por diversas formas de pensar e agir. Aproveitei as falas ouvidas e me perguntei: o quê de fato está sendo avaliado por nosso Criador?

Lembrei de uma empresa que precisava contratar um funcionário e abriu inscrições para a vaga. Choveram currículos acompanhados de diplomas e certificados diversos. O RH preparou uma seleção em que avaliava não só o currículo, mas, principalmente, a atitude diante das situações expostas.

E se, neste momento em que está em jogo tão acirrado a decisão de escolher presidente da República, estiver sendo avaliada nossa atitude diante da situação? Se estiver sendo avaliada pelo Senhor nossa capacidade de amar o diferente para além do discurso? E se tudo isso for também uma oportunidade de exercer o amor?

Para o tempo de escolher o representante da nação, precisamos ser intencionais em nossos interesses sociais. Mas  para todo o tempo, amar intencionalmente. Amor prático. Que não terceiriza o cuidado quando lhe é possível fazer e nem descansa na obrigação do Estado de promover o bem estar aos seus cidadãos. Que sente prazer em ser agente do divino na terra cujo mel por vezes é amargo e o leite azedou. Até que venha a morada eterna.

Maranata!

* Girlene Machado Lima é Psicóloga

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