“Oh que saudades que eu tenho da aurora da minha vida, da minha infância querida, que os anos não trazem mais…”.
Minha mãe costumava recitar esta estrofe do poema ‘Meus Oito Anos’, do ilustre romancista brasileiro Casimiro de Abreu. Quando menina não entendia muito bem o quanto significava para ela os versos do notável poeta.
Anos se passaram, o poema se tornou de domínio público e o saudosismo transferido para mim, hoje na maturidade. Saudade um tanto diferente da materna. Saudade de uma época em que podíamos colocar cadeiras nas calçadas para conversas com a vizinhança, de poder andar pelas ruas sem medo de ser abordado, de um cumprimento atencioso, de relacionamentos respeitosos e tantos outros modi vivendi de outrora.
Alguém poderá contra-argumentar e citar as facilidades tecnológicas gerando formas de poder como um dos motivos para atenuar saudades. Da minha parte lanço a réplica e justifico as lamentações no aspecto moral. Não é nada agradável tomar conhecimento de fraudes na compra de alimentos para famílias carentes – este é apenas um entre tantos exemplos.
Percebia menos dissabores na época dos ‘ladrões de galinha’. Inexistia Internet, mas a decência fazia parte inconteste do caráter do cidadão. Houve mudanças nos preceitos da nossa sociedade – a esperteza em substituição à dignidade. Clara indicação de uma inversão de princípios, passados às novas gerações.
Situação de indecência social sem precedentes está se consolidando. Esse quadro assombra os honrados. Acompanhar atentamente os trâmites das mudanças de comportamento se faz necessário para o bem coletivo.
Violência no nosso cotidiano passou a ser banalizada e vista como algo natural. A população com indigência moral, num patamar doentio, me faz interrogar em que trecho do rumo do tempo desviamos a poesia.
Presumo, enfim, que o tempo pode ditar o seu próprio ritmo mas não deve traçar sozinho o seu rumo.
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Uma resposta para RUMO DO TEMPO, por Babyne Gouvêa
A nação brasileira mudou nitidamente de caráter, nas últimas décadas.
O texto de Babyne, muito bem escrito, revela uma preocupação que deveria ser de todas aquelas pessoas que ainda guardam um pouco do que apenderam com as gerações acima de nós.
A tendencia é piorar.