FOME, por Babyne Gouvêa

Foto: Agência Brasil

Difícil ir à rua e não se deparar com a pobreza. A carência é visível, fala alto, maltrata qualquer coração minimamente sensível. Entra pelos sete buracos da cabeça como um entorpecente forte, deixando a mente literalmente embriagada.

A imagem aqui descrita não envolve exageros ou demagogias, é simplesmente um fato incontestável. Quem duvidar deve fazer um giro pelos supermercados, feiras, semáforos e outros lugares públicos. Os necessitados estarão no entorno mendigando.

Saia preparado para ser abordado ou fitado por pessoas marcadas pela fome. A tez do faminto é esverdeada, a boca é seca com traços brancos como giz, os olhos esbugalhados e a consciência um tanto obnubilada. Essa imagem é a assimilada por mim.

Há dias assisto cenas de mães e filhos sentados nas calçadas sob sol ou chuva. Já conversei um pouco com eles, interessada em conhecê-los. Talvez para abrandar problema de consciência. Eu me alimento, eles não.

Numa oportunidade, uma das crianças, muito bonita, com presumíveis onze anos, olhou para dentro do porta-malas do meu carro – que abri para pegar algo para dar – e visualizou um bichinho de pelúcia. Era uma toalha. Teimou em ter razão. A confusão foi desfeita, mas ficou a  frustração. É um exemplo do mal que a fome provoca na mente. Imagina ver o que sonha.

O que fazer? Já escrevi sobre a angústia em presenciar gente buscando comida em caixas e caminhões de lixo. Doações solidárias são paliativos – aliviam os sintomas, mas não curam a dor da fome. Essas atitudes não bastam. É muito pouco.

Ações públicas, sem objetivos políticos, devem ser exigidas pela população em prol dos desassistidos. “A fome tem pressa, não pode esperar”, repetia Betinho. Prover os pobres de condições dignas de vida é emergencial, assim como não usá-los como moeda eleitoral é imperativo.

Conclamo os sensíveis a se mobilizarem em torno dessa causa. Após dez anos fora do Mapa da Fome, há três o Brasil voltou ao ‘Top 10’ da miséria humana. Mas, juntos, podemos enfrentar e superar esse flagelo humano.

Mais de 20 milhões de brasileiros não têm hoje o que comer nem com o quê comprar qualquer comida minimamente nutritiva.

A mendicância cresce a olhos vistos nas ruas de todo o país. A continuar do jeito que está, dobraremos o número de famintos até o final do decênio em curso.

Mais fome, mais miséria, mais violência. É o que nos espera, se não fizermos o que devemos e podemos fazer. E cada um sabe o que deve ser feito. No momento certo da escolha mais certa.

É BOM ESCLARECER
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