D. Bolsoleone, convencido e aclamado pelos seus trôpegos e furiosos seguidores que o aplaudem em sua falaciosa superioridade, faz com esses considerem a suas pretensas infalibilidade e inerrância os principais e mais elevados atributos da maléfica figura. O errante caudilho passou a conduzir um histérico bando dotado de cegueira coletiva e o adotou como tropa de choque de suporte logístico e estratégico comportamental aos desvarios do potentado passando a agredir aos que ousassem discordar do mesmo. Imbuído de supostos superiores poderes e de falsos conhecimentos passou a cultivar, ad infinitum, a propensão à falta de educação, a arrogância, a adoção de preconceitos injuriosos revestidos de ofensas aos vivos e aos mortos.
Na sua trilha, passou a pisotear e semear a discórdia mediante a negação da conduta pública e republicana acenando para os seus seguidores uma condução e liderança equivocadas que se balizaram nas esferas do cinismo, do falso moralismo, e mais grave, de modo autoritário pelo acatamento de atitudes violentas. O ódio e a fúria ressentida passaram a ser componentes políticos da construção de nova ordem social e para o êxtase dos seguidores proliferam atos de violênçia. Comida não, armas sim. Sempre reverberou que as fatalidades poderiam estar em marcha batida pela sua opção ao recurso à violência.
Vislumbra-se em suas atitudes o aniquilamento do saber, da educação, da cultura e da ciência, açodado em sua brutalidade verbal comandou sob o seu destempero político e moral, sem hesitar, atingindo agressivamente os ícones civilizatórios republicanos mais excelsos. Com impropérios e atos que rastejam ao rés do chão chicoteou a sociedade, a cultura, a ciência, o meio ambiente, as autoridades eleitas, insistindo em apregoar o desapreço à justiça, às leis e à toga dos jurisconsultos e dos magistrados.
Propagou o medo e temor aos cidadãos, e estes vacilaram na contestação aos sucessivos desmontes dos valores humanos, republicanos, e agindo agressivamente contra os construtores da grandeza cultural da nacionalidade. Aos militantes foi referendada uma visão deletéria e caolha construída por um viés da ignorância, combatendo e invalidando a grandeza humana: dos magistrados, da representação popular, dos cientistas e professores, dos artistas, dos intelectuais.
O negacionismo passou atingir todos quanto buscam contribuir para a edificação de uma sociedade livre e equânime e que entendem que tem por dever o reconhecimento, que a vida em liberdade tem que ser construída através de atributos que derivam do conhecimento, da ciência, da cultura e do respeito à condição humana que inclui a preservação da paz na vida social. Por medo, covardia ou cumplicidade dos comuns, há um ensurdecedor silêncio alimentado pela mediocridade e inconsciência dos que vêm se subordinando aos arautos da prepotência e, assim, a grande maioria de homens e mulheres vem abdicando peremptoriamente da visão crítica e da coragem cívica.
A tão necessária visão critica se enclausurou, para a felicidade de todos nas trincheiras da imprensa e da mídia em geral. Todos os dias, os cidadãos são inundados com os dados sociais da fome, da miséria e muito mais graves dos penosos registros de centenas de milhares de mortos pandêmicos que repousam indignados sob o pedestal do Mito. Os meios de comunicação, sejam quais forem, estão na trincheira da liberdade de expressão que nos asseguram o controle social e, mais que isto, que a consciência crítica deve nos ensinar sempre que os nossos caminhos são os do bem viver e não da morte.
É imperativo dizer que vem prevalecendo a inconsciência crítica e política, ao lado da subordinação ao criminoso negacionismo, a pregação do autoritarismo, a falta de escrúpulos, que explicita ou implicitamente impõe a tácita aceitação do que aí está e valorizam a pedagogia do avestruz. A auto-repressão pelo silêncio tem sintomas de que o desequilíbrio político, social, moral e institucional se cristalizam e nos dizem que há uma psicopatologia generalizada. Morte de milhares, fome, miséria incomensurável, ignorância, violências de todos os tipos que descortinam o sacrifício das pessoas e da natureza neste cotidiano aterrador. Os níveis de aceitabilidade revelam que as situações existentes são interpretadas como naturais e assimiláveis, o que revela a passividade dos cidadãos.
A população não se dá conta, ou não quer nem se interessa, que estamos diante de uma dinâmica que Bolsonaroleoni impõe perversa e ideologicamente o rito: há que se dizimar os que conflitam os com os seus pressupostos do poder em nome da dominação e de uma nova e superior ordem política, social, econômica, sexual e racial. A destruição é inerente ao totalitarismo que emerge do prazer da perversidade. O ‘Viva a Morte!’ é um mero desiderato do mal desejado e praticado.
É vital ter a absoluta clareza até onde segmentos humanos aderem ao enunciado, já expresso, de que o Mito “pode não ser um bom fertilizante, mas é um ótimo pesticida”. A sociedade passa a conviver com um inferno mundano. Já não há mais duvidas que a derrocada de valores ímpares de uma sociedade até então vocacionada para o equilíbrio e a paz social foram abalados. Estabeleceu-se um rito mortal que atinge a educação, a cultura, a ciência e a convivência pacífica e democrática.
Ao par disto, igualmente grave é a constatação de que a vida já não tem mais uma valoração intrínseca. O que se evidencia é que a morte é apenas uma fatalidade que não causa preocupação aos que aderem a correntes totalitárias. Pelo lado do terror, da desumanidade, passam a conviver com anulação dos direitos humanos. A morte é encarada como inevitável pelo determinismo e a frieza dos que comandam. A disseminação de atos odientos, de desprezos à vida através de condutas que nos demonstram com clareza a opção pela destruição poderá ocorrer sob o signo da perversidade.
O obscurantismo e o autoritarismo que atingem os corações e mentes libertárias poderá desembocar em episódios violentos em que mortes poderão ser consumadas à guisa da manutenção de caminhos que nos esmagarão pelo desastre dos valores humanos e da digna vida política. ‘Viva a Morte!’ é o castigo, o vergaste que nos desafia. A morte, o escárnio contra a vida. São almas gêmeas do totalitarismo que se inspiram na perversidade.
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Uma resposta para A MORTE COMO EPÍLOGO, por Francisco Barreto
Barreto, texto lúcido com uma análise muito rica do triste momento que estamos vivenciando. Mas que é passageiro.
Muito bom.
“VIVA A VIDA!”