Logo cedo tive a compreensão de que o exercício de ser político com mandato e ter um efêmero poder era caminho certo para trilhar amarguras e desesperanças. Após algum tempo, entendi na extensão o sentimento expresso por Mário Vargas Lhosa. “Quem faz política não tem tempo para amar”, disse o Nobel peruano. Acrescento: “Tem todo o seu tempo de vida útil no cenário atual, armando e desmontando sacanagens”.
Os prazeres da vida pessoal e familiar de um político são literalmente desprezados. E mais: quase todos os políticos são potencialmente inimigos do povo, que assim os considera. Afinal, as enfermidades que corroem o caráter e os padrões éticos são pandêmicos na vida da política e nos políticos. Eis porque a ignorância aliada à inconsciência brutal dos homens comuns, atrelados ao fisiologismo imprescindível à sobrevivência, aceita a histórica permanência da má qualidade da representação popular.
Sempre considero o sentimento de que todas as funções e profissões públicas são nobres porque inerentes à servidão pública. Nenhuma, entretanto, sem demérito para as demais, é mais nobre do que ser representante de seu povo. Ser um eleito é profundamente gratificante à condição humana. O grande desafio é não se deixar sucumbir pela corrupção e aos atos criminosos contra a sociedade e à vida pública. Podem os honestos até escaparem do encilhamento da vida corrupta, dificilmente, no entanto, conseguem se preservar dos atos destrutivos dos políticos desonestos.
O Estado não é monolítico, tem homens do bem. Saiba-se, no entanto, que poucos dos que ascendem ao Poder tem meridiana clareza ética e moral do que ele é e do que não quer ser. Em grandes contingentes os políticos são tragados pelo Poder. Ser fiel servidor da Nação e do povo é condição sine qua non à grandeza política. Ter o iníquo pertencimento enquanto donatário da Nação e do Povo é a regra que nós conhecemos muito precisamente.
Tudo isto me leva à reflexão sobre as minhas andanças políticas e me dá a consciência de que o tempo decorrido desde então me impôs inexoravelmente um distanciamento em benefício da minha sanidade ética e moral e, é claro, emocional. Quero viver em paz com os meus, sobretudo comigo mesmo.
Num país onde a perversidade e a corrupção é o lugar comum, revelam-se estas as mais dominantes invenções da política. O que fazer numa “democracia representativa” onde prevalece a cumplicidade do voto popular com a má qualidade. Para a opinião pública, maciçamente, e sem distinção, todos os políticos são escopeteiros.
O povo, de um modo míope, em frações exponenciais contribui alegre e feliz para emergência de representantes que vão exclui-lo em seguida. Aos maus políticos, cumpre de modo “magnânime” conceder ossos para seus cúmplices roerem. O que se alardeia hoje, nesta infeliz sociedade, é o que “bravamente” se designa de Bolsa Família reciclada agora de Auxilio Brasil.
É doloroso admitir, como preconizava Cicero: “Todo governo é inimigo de seu povo”. Em tempo, o sábio das Catilinárias não nos reverberou o que dizer do povo, que hoje, elege os seus inimigos. Grave patologia política.
Políticos seremos sempre, o que não me permito é conviver com o prostíbulo parlamentar. Vivi esta fase, e saí ileso, Dieu Merci.
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- Em Tempo. Há bastante tempo, fui abordado duramente pela então valorosa Paula Fracinete, da extinta APAN, a ex-Branca Dias da natureza. “Você não tem o direito de abandonar a política” (subentendendo uma certa e positiva avaliação política). Ao que respondi: “Você votaria em mim?”. O silêncio constrangedor se revestiu de uma negativa não dita. Completei: “Não me peça isto nem me leve para um caminho que você não irá”. Terminamos assim. O sacro altar de Ricardo Coutinho era indevassável e piedosamente respeitado.
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