IMPACTO DA FOME, por Babyne Gouvêa

A Cufa (Central Única das Favelas) doou cestas básicas às famílias que buscavam restos de comida em caminhão de lixo em Fortaleza (Imagem: Reprodução/Revista Fórum)

Simplesmente impactante. A cena veiculada nos meios televisivos, durante a semana, foi desoladora. Nossos irmãos à procura por alimentos num caminhão de lixo doeu nas entranhas, literalmente.

A dor de ver um ser humano à cata de gêneros alimentícios dentre produtos fétidos e deteriorados corrói a alma. A avidez estampada no semblante dos catadores se assemelhava a cães farejadores. A comparação é grotesca, mas fiel.

Não se observa esse cenário desumano com passividade. A situação exige pragmatismo, sem maiores delongas. Alguma medida tem que ser tomada, uma iniciativa que parta dos poderes públicos com a coadjuvação da sociedade civil; salientando que não basta somente sensibilizar acerca de doações que até podem ajudar a abafar a fumaça, mas jamais apagarão o incêndio.

A realidade da Covid-19 mostrou diversas fragilidades. A maior delas, a fome. Esse cenário nos leva a uma temática: renda mínima, ou seja, um valor suficiente para atender parcela da população que se encontra em situação de vulnerabilidade com as despesas mínimas, principalmente a alimentação.

“Quem tem fome, tem pressa!”. Quem não lembra a frase repetida diversas vezes pelo sociólogo Herbert José de Sousa, o Betinho? Mas essa pressa leva a uma reflexão sobre a consciência da identidade entre todos os homens: a garantia do direito à alimentação.

Ninguém pode tolerar a destruição de seu semelhante sem colocar em perigo sua própria humanidade, sua própria identidade.

São 19 milhões de brasileiros em situação de fome no Brasil. A comparação com 2018 (10,3 milhões) revela que são 9 milhões de pessoas a mais nessa condição, segundo dados de 2020 da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional.

Para esses milhões de brasileiros, a fome é algo crônico e duradouro. É não ter acesso regular a alimentos. Ter fome é não ter o direito a uma vida digna. Mais indigno é assistir inerte a fome comendo um semelhante.

“Quando dou comida aos pobres, me chamam de santo. Quando pergunto porque eles são pobres, chamam-me de comunista.” Essa é do imortal Dom Hélder Câmara. Retrata uma mentalidade equivocada que pode comprometer – e tem comprometido – iniciativas públicas como aquelas que até 2015 riscavam o Brasil do Mapa da Fome.

É BOM ESCLARECER
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Uma resposta para IMPACTO DA FOME, por Babyne Gouvêa

  1. Ainda bem que ainda existem pessoas que têm a capacidade de se indignar!
    Muito bom o texto. Mais uma bela obra da autora.