O CIRCO NOSSO DE CADA DIA, por Babyne Gouvêa

Globo da Morte está entre atrações do Le Cirque (Foto: Divulgação)

Senhoras e Senhores, o espetáculo vai começar! Os músicos iniciam o seu repertório enquanto o comandante da arena cumprimenta o público fazendo gestos com as mãos em forma de gatilho. É ovacionado pela ala dos camarotes.

Os palhaços entram em cena ora dando cambalhotas para a direita, ora para a esquerda em posições desarticuladas, honrando as suas fantasias. O espectador atento nas arquibancadas fica com ares indagadores.

Os trapezistas, adoradores das alturas, com gestos oportunistas passam de um lado para outro observando a rede de proteção abaixo com desprezo. O seu patrão em lugar estratégico pede aplausos. Os posicionados à frente – os privilegiados –  levantam-se e gritam com euforia.

O mágico entra em ação dando a ilusão de que algo impossível ou sobrenatural ocorreu. Consegue ocultar os bens surrupiados de alguns presentes, num faz de conta que nada aconteceu.

Os palhaços voltam à cena com gestos de aplausos a Nito, Nito – nome do dono do circo. Ele, orgulhoso, apresenta os seus filhos contorcionistas de movimentos bizarros da arte circense.

Os equilibristas entram fazendo zoada um tanto desconfiados, com cara de quem pergunta: “Será que há segurança nessas cordas? Elas parecem frágeis, podendo se partir”. O povão no poleiro acompanha o sentimento cético dos artistas.

Os malabaristas encenam equilibrar os seus objetos de trabalho numa artimanha fiel ao seu perfil retilíneo. O autocontrole desses artistas leva o patrão a questionamentos paranoicos.

Essa apresentação agrada à arquibancada que num grito uníssono repete: “De novo”. Mas não podem desobedecer às regras para não despertar ameaças opressivas do seu gestor.

Os camarotes gritam: “Moto, moto, moto”, ansiosos pelo Globo da Morte. Os exibicionistas, todos paramentados, iniciam acelerando as suas motos num barulho ensurdecedor.

Nito leva os seus abastados espectadores ao delírio pilotando a equipe. Muito envaidecido solicita aplausos. Terminados os giros segue para o centro do palco – cercadinho dos camarotes -, e chama os seguidores das motos para erguê-lo.

Microfone em mãos convoca todos os artistas do circo, que ensaiados bradam: “Nito, Nito…”. Ele, com peito inflado, anuncia, enfático: “O show vai continuar”.

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  • Ilustração: foto-divulgação do Le Cirque para temporada na Paraíba. Em novembro de 2012, durante sessão em João Pessoa um dos motociclistas do circo francês caiu no Globo da Morte, mas escapou com ferimentos leves
  • A autora garante que eventuais analogias ou semelhanças com pessoas vivas ou mortas não se prestam de modo algum a desqualificar ou menosprezar os artistas circenses, “que merecem todo o respeito que houver nesta vida”
É BOM ESCLARECER
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2 Respostas para O CIRCO NOSSO DE CADA DIA, por Babyne Gouvêa

  1. Alda Gouvea escreveu:

    Muito bem escrito ! Amei ! Verdadeiro! Como sou de direita , portanto sou Bolsonaro , e que prezo a honra , a integridade , a família e temo a Deus , ele e o único que vejo , com tais qualidades Os demais , só pensam em si nada fazem a não ser pensar em si e em tirar proveito Vejo que muitos do enriqueceram ( sem trabalho ) fazendo parte de sindicatos ( os vagabundos ) e assim sendo não querem perder as mordomias Só e de direita os que trabalham realmente é que lutam para conseguir alguma coisa Falo por mim que diariamente scordava/me as 4 horas da manhã para poder dar aos meus filhos uma boa educação e cumprir com minhas obrigações ! Graças a Deus , consegui que não fossem vagabundos e que não me envergonhasse fazendo balbúrdia e discórdia na rua 🙏🙏🙏

  2. BRAVO, Babyne! Brilhante analogia!
    Excelente!