Um pai foi ao cartório registrar filho nascido há pouco. Ansioso, não via a hora de ter nas mãos o primeiro documento daquele que lhe herdaria o sobrenome. Chegando a vez no atendimento, chamado para informar os dados necessários ao registro e declarar o nome escolhido para o rebento, prontamente respondeu: “Tiago”. Mas, antes que o funcionário pressionasse a primeira tecla, …
“Thy-ha-ggo”. Assim mesmo: “Tê-agá-a-ipsilone-agá-a-gê-gê-o”. Perplexo, o escrivão ousou recomendar: “Registre como se pronuncia, cidadão, pois o exagero de letras pode vir a complicar a vida do seu filho”. Não teve jeito. O pai fez aquela cara de quem diz “o filho é meu, boto o nome que eu quiser, da maneira que achar melhor e pronto”. O homem do cartório percebeu a intenção, a reação e se deu por vencido.
Mas não de todo. Salvou-o, para futuros embates, a curiosidade de outro cidadão que observara atentamente a cena e se aproximou para oferecer um serviço até então inusitado. Pediu e propôs, a um só tempo, pesquisar nos arquivos do estabelecimento nomes curiosos, complicados, engraçados e outros que beiram o surreal.
Pesquisa consentida e acertada, o pesquisador iniciou o estudo e à medida que se deparava com algumas bizarrices aumentava sua convicção da necessidade uma política linguística antroponímica ou mesmo uma legislação capaz de barrar mais explicitamente estrangeirices e outras esquisitices na escolha dos nomes de brasileiros recém-nascidos.
Ele observou, por exemplo, que a maior parte dos nomes procura homenagear alguém da família, personagem histórico, religioso ou celebridade do momento. Noutros, surpreendia a multiplicidade das letras k, w e y.
Outro dado interessante que o pesquisador descobriu a partir do endereço anotado nas certidões: a excentricidade era mais comum entre pessoas de camada social menos favorecida. Mais uma surpresa. Até então, acreditava que toda aquela ‘criatividade’ provinha de famílias mais abastadas, mais aculturadas.
Na continuidade do trabalho, surgiram também casos de duplo sentido como Maria Privada de Jesus e Pacífico Armando Guerra ou nomes em desuso, fora de moda, bastante prestigiados no início do século passado, a exemplo de Epaminondas e Austregésilo.
O pesquisador revelaria depois ao ‘dono’ do cartório a suspeita segundo a qual pais mais pretensiosos dão aos filhos nomes de filósofos gregos, na esperança, talvez, de um espírito intelectual apoderar-se da mente do nomeado xará. Mas o que estarreceu mesmo foram os nomes escritos ao contrário. Nessa categoria, a descoberta mais impressionante recaiu sobre alguém registrado (ou registrada) como Sedrulnoslen.
Ao receber o relatório da pesquisa, que remunerou com gosto, o tabelião também ficou convencido da necessidade de uma lei que possa barrar de forma bem clara, objetiva, inequívoca mesmo, opções flagrantemente equivocadas, daquelas que na certa vão impor a futuros cidadãos e cidadãs variados constrangimentos ou, bem antes, causar bullying às crianças em idade escolar.
Afinal, como não esperar que pessoas batizadas com sonoridades incomuns, digamos, não venham a ser alvo de gozação ou coisa pior quando se apresentam como Alce Barbuda, Mamasduras Melo de Lima, Vicente Mais ou Menos de Souza e outras barbaridades que, doravante, segundo o homem do cartório, passariam a ser expostas nos seus quadros de aviso como advertência aos interessados em incidir ou reincidir em ‘delitos’ semelhantes.
Taí uma providência que teria favorecido a autora!
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Uma resposta para NOMES INCITÁVEIS, por Babyne Gouvêa
Muito bom texto, escrito com esmero. Tive uma colega que tinha vergonha do nome dela, e se apresentava: “Anireves”
Porém, caso pior foi o do sujeito que se candidatou a apresentador da TV Globo. Quando ia ser entrevistado o entrevistador perguntou:
“Qual o seu nome?”
“Ma-mário da Sil-silva,” respondeu-lhe com uma bela voz o candidato.
“Como você quer ser apresentador da Globo se você é gago?!”
“Eu não sou gago. Gago mesmo era o meu pai. E o escrivão era um fdp!”