Engana-se quem pensa que as atitudes dos ministros do governo Bolsonaro não têm nada a ver com o presidente. Todos foram escolhidos a dedo por Bolsonaro & Filhos. Os critérios de escolha: a) identidade total de ideias e pensamento; b) obediência cega; c) nível cultural jamais superior ao do chefe (o que por si já é muito baixo).
O ex-deputado Luiz Henrique Mandetta, primeiro ministro da Saúde do governo Bolsonaro, feriu aqueles critérios que poderiam lhe garantir – se obedecidos – longa vida no governo. Mas ele tomou o partido do bom-senso e da ciência no combate ao coronavírus e foi condenado por crime de lesa majestade por tentar medidas para salvar vidas humanas.
Como se fosse pouco, o então ministro começou a aparecer ‘demais’ na mídia, organizando e dando transparência às ações do Ministério da Saúde em favor de medidas sanitárias contra a expansão do vírus e suas trágicas consequências. Mandetta logo despertou ciúmes incontornáveis na mediocridade de quem não suporta a inteligência e a competência.
Desempenho e popularidade de Mandetta decretaram sua morte no cargo. E assim o ortopedista foi substituído por um oncologista – Nelson Teich, o Breve – igualmente defenestrado por não induzir a população a se contaminar nem a tomar remédios comprovadamente ineficazes contra a Covid 19. Com a demissão de Teich, o que era muito ruim ficou ainda mais pior.
Ao longo desses dois anos e meio, a população vem assistindo a medidas inéditas e esdrúxulas por parte dos ministros bolsonaristas. A maior parte delas com elevado teor prejudicial para a ordem vigente das coisas no Brasil. A começar pelas ordens desastrosas cumpridas pelo obediente general Eduardo Pazuello, o terceiro a assumir o Ministério da Saúde em plena pandemia.
As pazuelladas provocaram o caos com a eliminação do comando central do órgão no enfrentamento da crise, forçando estados e municípios a adotarem as suas próprias políticas de saúde para deter a escalada do morticínio em curso. O desmantelo não parou por aí, todavia.
Vieram em sequência a sabotagem ao Programa Nacional de Imunizações (PNI), até então modelo para o mundo, e a demora (deliberada, tudo indica) na compra de vacinas que teriam salvado a vida de mais de 400 mil brasileiros, segundo dados do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) amparados em estudos de renomados epidemiologistas.
Não dá pra esquecer também a ausência de logística no Ministério sob a chefia de um militar que se diz especialista em logística e as aquisições equivocadas tanto de remédios ineficazes para o tratamento da grave virose que acomete a nação quanto de testes de imunidade importantíssimos para a monitoração da grave doença.
Todas essas medidas vêm nos afetando de forma perversa e são responsáveis por significativo contágio, gravidade da epidemia e consequente aumento da mortalidade.
Desmonte ambiental e educacional
O ex-ministro Ricardo Salles, do Meio Ambiente, desde sua posse passou a agredir e a desmontar toda a estrutura de controle do meio-ambiente, especialmente a fiscalização. Tais medidas desmantelaram o ICMBio, INPE e todo o combate ao desmatamento e à exploração ilegal de nossas florestas, rios e recursos minerais.
Com Salles, madeireiros, latifundiários, grileiros, contrabandistas de madeira e garimpeiros clandestinos fizeram a festa. Sentiram-se à vontade não apenas para desmatar a Amazônia como para extrair e vender madeira, além de poluir cursos e reservas de água da região com mercúrio, invadir terras indígenas e até matar índios.
O agora presidente da República, desde quando deputado federal inexpressivo, sempre foi a favor dessas atrocidades contra um dos maiores patrimônios naturais do mundo que pertence ao Brasil. A rigor, portanto, Ricardo Salles apenas cumpriu uma velha agenda bolsonarista.
Já no Ministério da Educação, Bolsonaro nomeou primeiro o colombiano Ricardo Velez, que mal sabia falar português e nada fez durante o seu curto período à frente da pasta. Depois, substituiu-o por Abraham Weintraub, um cara que é a cara do seu líder: grosseiro, semiletrado (apesar de professor universitário), mal-educado, intelectualmente paupérrimo e afeito a cafajestices.
Com semelhantes ministros e os desastres em série no Mec, o presidente concorreu para o retrocesso da educação do Brasil em pelo menos duas décadas.
Diplomacia faz do Brasil pária no mundo
Bolsonaro nomeou Ernesto Araújo para comandar a diplomacia do Brasil, respeitada por todas as nações do planeta até o advento do bolsonarismo no poder. E o chanceler nomeado conseguiu em apenas dois anos isolar o nosso país, promovendo intencionalmente o Brasil à categoria de nação pária do mundo.
Na Secretaria-Geral da Presidência, Bolsonaro colocou o deputado Onix Lorenzoni, também oriundo dos porões do Baixo Clero parlamentar, como Jair Bolsonaro. Desde o início do governo, Lorenzoni vem saltitando de cargo em cargo, sem largar a rapadura, demonstrando fidelidade capachal e dando forma às ideias mais absurdas do chefe.
Um Chicago boy humilhado na economia
Para comandar a economia e tirar o país da estagnação, Bolsonaro nomeou o falastrão Paulo Guedes, que nunca teve liberdade para aplicar algum programa econômico viável para o Brasil. A única coisa que conseguiu, além de autodenominar-se liberal, é a venda a preço de banana de alguns dos maiores ativos da cadeia produtiva de energia do país. De refinarias a subsidiárias da Petrobrás, passando pela Eletrobrás, o país está à venda. Baratinho baratinho.
Guedes também é o ministro que mais demonstrou aversão a servidores públicos e o mais determinado em favorecer seus pares ricos, banqueiros em especial, juntamente com seus próprios interesses interesses financeiros. Daí seu esforço para segurar o emprego, mesmo sendo semanalmente humilhado pelo presidente e a fritura operada por seus filhos e Olavo de Carvalho, o pornofônico guru de todos eles.
Deu ruim para Sérgio Moro na Justiça
O ex-ministro da Justiça Sérgio Moro era juiz quando mandou prender o ex-presidente Lula, afastando-o da eleição de 2018. Garantiu assim condição sine qua non para o sucesso eleitoral do candidato Jair Bolsonaro.
Pouco depois que assumiu o cargo, Moro elaborou projeto de lei que, entre outras mudanças, isentava de responsabilidades o militar que matasse durante a sua atuação, garantindo impunidade para eventuais chacinadores fardados. Sem contar o afrouxamento do controle de armas e munições, exigido por Bolsonaro e encaminhado pelo então ministro.
A proposta de Moro foi rejeitada, mas plantou a semente da desobediência dentro das polícias de todo o Brasil, agravando a letalidade policial em ações que tiveram jovens pobres e negros como vítimas preferenciais, parcelas da população pelas quais Bolsonaro manifestou desprezo por toda a sua vida pública.
Terra e Damares, bolsonaristas típicos
O primeiro ministro da Cidadania de Bolsonaro foi o deputado Osmar Terra. Sujeito que sempre que fala deixa dúvidas sobre seu caráter, na realidade é um médico antiético, que induziu o presidente a promover a desobediência sanitária e o estímulo a práticas terapêuticas ineficazes contra a Covid, além de forçar uma criminosa imunidade de rebanho – não por vacinação, mas por infecção – que levou à morte milhares de pessoas.
Terra é um bolsonarista padrão, de uma padronização onde cabe também a pastora Damares Alves, ministra da Mulher e da Família, evangélica fanática, pensamento estreito, intelecto limitado, que tolera tudo o que o seu criador apresenta de nefasto em troca de duvidosa “proteção à família”. Até onde se vê, a única família protegida no Brasil sob jugo bolsonarista é a família Bolsonaro.
Já o primeiro ministro do Turismo do atual governo, Marcelo Álvaro, deputado federal por Minas Gerais, desde o início acusado e investigado por crimes eleitorais (uso de candidatas mulheres como laranjas em esquema de desvio de recursos públicos via fundo eleitoral), demorou dois anos para ser demitido.
Antidemocrata na Segurança Institucional
O general Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional, é a mais expressiva personalidade militar no governo Bolsonaro. Ele é o retrato do pensamento saudosista do militar antidemocrata pegando carona no bolsonarismo, com a união do que há de pior nas duas categorias antidemocracia e saudosismo da ditadura.
Heleno é o principal articulador do golpismo com o qual Bolsonaro ameaça a democracia sempre que se vê acuado. Ou seja: todos os dias. O general é o padrinho do militarismo entreguista, do aparelhamento das Forças Armadas, da Polícia Rodoviária Federal, da Polícia Federal e das polícias militares.
Com baú com tudo na Comunicação
Fábio Farias, ministro das Comunicações, é um perigo pelo que representa de inteligência e amplo conhecimento na área a serviço da obediência conveniente. Foi guindado ao cargo no qual pode, por exemplo, vitaminar a verba publicitária destinada ao Sistema Brasileiro de Televisão (SBT) do sogrão Sílvio Santos.
Por último, mesmo sem ser o derradeiro, não podia deixar de ser notado nesse passeio pela Esplanada dos Ministérios o cidadão que atende pelo nome de Sérgio Camargo, presidente da Fundação Palmares, um negro assumidamente racista, extremamente agressivo contra movimentos sociais e organizações que combatem o racismo e defendem direitos da população negra.
Ninguém se engane: até agora tudo foi feito seguindo rigorosamente um roteiro escrito a oito mãos por Bolsonaro e seus filhos. Não se queixem apenas da qualidade dos ministros. Eles formam o primeiro time dessa constelação do mal porque são, cuspidos e escarrados, cópias fiéis de Bolsonaro.
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