(Imagem copiada de Paralerepensar)
Terrorismo é o uso de violência, física ou psicológica, por meio de ataques localizados a elementos ou instalações de um governo ou da população governada, de modo a incutir medo, pânico e, assim, obter efeitos psicológicos que ultrapassem largamente o círculo das vítimas, incluindo o restante da população do território. É utilizado por uma grande gama de instituições como forma de alcançar seus objetivos, como organizações políticas, grupos separatistas e até por governos no poder.
A História é um registro implacável do comportamento da humanidade ao longo da nossa existência, desde os primórdios, quando os humanos viviam isolados, porém deixando registros gravados, até os tempos em que passaram a fazer registros do que viam. E do que pensavam.
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Quinze anos após o fim da Primeira Grande Guerra, a Alemanha vinha se equilibrando como podia. A economia patinava, amargando níveis inflacionários estratosféricos, na casa do milhão por cento, consequente a administrações incompetentes, agravada pela recente Depressão econômica mundial.
O desemprego crônico e crescente provocou um efeito maléfico sobre a população, piorando o nível de pobreza, com segmento significativo da sociedade passando fome. Esse quadro caótico influenciava no comportamento social do povo alemão. Oportunistas surgiram insuflando a população contra aqueles que elegeram como culpados pela crise: os esquerdistas do Partido Comunista e os judeus.
Criaram, assim, um ambiente social insuportável na Alemanha, que se tornou um caldo de cultura rico em ódio. E acabou gerando uma crise sem precedentes em sua história. O ódio passou a ser o estímulo maior para as pessoas comuns, influenciadas pela propaganda política de ambos os lados. Todos os dias aconteciam escaramuças, agressões e perseguições por motivos ideológicos.
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Em 1933, Adolf Hitler assumiu os desígnios da Alemanha e do povo alemão, após o seu partido, o Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães – NADP, ter alcançado a maioria do parlamento alemão, o Reichstag, em eleições democráticas.
Todavia, como o número de cadeiras não superou a metade do parlamento, Hitler teve que fazer uma coligação com um partido menor. E por ironia do destino os nazistas tiveram que se coligar com o Partido Comunista. Justamente com os comunistas, que eles execravam e combatiam como inimigo maior, só perdendo para os judeus, a quem eles odiavam.
O Partido Comunista, então, garantiu a maioria do NADP no Reichstag. E só assim Adolf Hitler, líder (führer), pode reclamar ao Kaiser Himdenburg, presidente da Alemanha, o cargo de Chanceler (chefe do governo). Foi nomeado na noite de 31 de janeiro de 1933.
Hitler liderou o seu partido nessa conquista após uma década de proselitismo baseado no ódio. Ódio aos partidos da esquerda ideológica, a quem atribuía a má-administração do país.
Ódio aos judeus, em quem jogava a culpa do desastre econômico, e a quem creditava o fato de ter aceitado um armistício desfavorável à Alemanha em 1918, quando ainda teriam forças para continuar guerreando.
Ódio também aos franceses e ao Tratado de Versalhes, que humilharam internacionalmente a Alemanha e seu povo, tomando do território alemão uma área rica em carvão mineral na fronteira com a França, que passou a administrar a produção de tão crucial fonte de energia.
O Tratado de Versalhes também proibiu a Alemanha de ter exército para se defender. Proibiu força naval que tivesse navios de grande calado. Proibiu a formação de uma força aérea.
A intenção dos países aliados – França, Inglaterra e Estados Unidos – foi limitar o arsenal de guerra da Alemanha por um longo tempo. Este era um país aguerrido e belicoso que nos últimos séculos havia protagonizado guerras desastrosas com seus vizinhos, muitas delas sem justificativa para algo mais que um simples conflito diplomaticamente contornável.
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Ao longo de sua carreira em direção ao poder, Adolf Hitler conquistou a maioria do povo alemão. A princípio, boa parte pela adesão às suas ideias, quase todas de iniciativas bélicas: eliminação de judeus e esquerdistas; criação de forças armadas; retomada de territórios e conquista de países ao leste, visando subjugar o povo russo. A Rússia seria o celeiro da Alemanha, e seu povo seria escravo dos alemães.
A propaganda maciça sufocou o alemão médio, dando a impressão de que os nazistas eram imbatíveis, que tinham que se conformar com eles. Com o tempo, o ambiente social ficou sufocadamente nazista, e aqueles que não comungavam com as suas ideias aderiram por medo de serem retaliados.
Em sua pregação, Hitler conquistou também ou muito mais a elite alemã, tanto a nobreza como o alto empresariado. Aqueles, por enxergarem nele a oportunidade de retomar a importância perdida. Já os empresários do ‘alto clero’ vislumbraram nele a oportunidade de melhores negócios, com o fim do caos em que se encontrava o país. Para tanto, fizeram vista grossa para toda a arbitrariedade do governo contra os opositores, vítimas da ascensão nazista e o verdadeiro terrorismo de Estado que o regime criou.
Assim que Hitler e o NADP assumiram o poder passaram a fazer tudo o que haviam ameaçado ao longo de década e meia. Um dos seus primeiros atos tornou proscritos os partidos de esquerda, prendeu comunistas e judeus, internando-os em campos de concentração.
O apoio incondicional da elite empresarial alemã e o domínio do parlamento permitiram uma melhora da economia da Alemanha. Dominou a inflação, passando a gerar empregos, mesmo que à custa de insegurança trabalhista e social.
Amparado pelo parlamento, o nazismo também interveio e aparelhou o Poder Judiciário da Alemanha, afastando magistrados independentes, substituindo-os por aqueles afinados com o pensamento do führer. Com esse ato, Hitler extinguiu a democracia alemã, totalitarizando o seu poder. A partir daí, passou a esticar a corda: decidiu avançar aos poucos sobre as proibições estabelecidas no Tratado de Versalhes.
Seguindo o roteiro traçado por si próprio no livro ‘Minha Luta’, escrito na prisão com a ajuda de Rudolf Hess, ele primeiro organizou um exército clandestino, seguido do aparelhamento da aeronáutica e da marinha. Aos poucos, as forças armadas alemãs foram “oficializadas” e passaram por um processo de fortalecimento organizado por Hermann Göring por ordem do führer.
Como os Aliados fizeram vista grossa, em 1936 ele invadiu e retomou o Território da Renânia, então invadido pela França que queria maior substância no pagamento da dívida de guerra estipulada no Tratado de Versalhes. A Renânia é aquela região rica em minas de ferro e carvão até então administrada pelos franceses.
As potências mundiais haviam declarado zona desmilitarizada e pelo Pacto de Locarno a Alemanha estava proibida de manter tropas no território. Para invadir a Renânia, Hitler tomou a decisão contrariando seus generais, pois estes sabiam que não tinham exército suficientemente forte e capacitado para tal, caso a França reagisse.
Mas Hitler blefou, os franceses acreditaram e abandonaram o território sem reagir. Os Aliados signatários do Tratado de Versalhes reagiram com muito barulho, mas não tomaram nenhuma medida efetiva. Hitler, então, sentiu-se fortalecido para novas e semelhantes aventuras, além de esticar a corda ainda mais.
Em março de 1938, anexou a Áustria. Em março de 1939, anexou a Tchecoslováquia. E em setembro de 1939 invadiu a Polônia, com a cumplicidade da comunista (outra vez!) União Soviética, causando o maior desastre bélico que a humanidade já viu, com várias dezenas de milhões de mortos.
A história demonstra que essa Grande Guerra poderia ter sido evitada se as potências ocidentais tivessem sido vigilantes e atuantes em defesa da ordem mundial.
Hitler testou os instrumentos democráticos a partir do momento em que assumiu o poder. Com a leniência generalizada, rapidamente subjugou todas as instituições, eliminou a oposição, extinguiu a liberdade de opinião e instituiu a censura à imprensa.
O resto é o que se viu depois, com o fim da paz no mundo e a morte de milhões de pessoas, mortes que não aconteceriam se aqueles com algum juízo tivessem controlado o louco em tempo hábil.
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Subversão (do termo latino subversione) é uma revolta contra a ordem social, política e econômica estabelecida vigente. Pode manifestar-se tanto sob a forma de uma oposição aberta e declarada, como sob a forma de uma oposição sutil e prolongada.
Desde que assumiu a Presidência da República, Jair Bolsonaro vem fazendo ameaças diárias de interferir nos outros poderes, especialmente no Supremo Tribunal Federal. O assédio é grande e crescente, desde que o legislativo aparentou já ter sido comprado para lhe garantir que não haverão surpresas constitucionais.
Desde o início de seu governo, o presidente vem estimulando abertamente o motim entre as polícias militares estaduais. Essa foi a mensagem transmitida pela Polícia Militar de Pernambuco, na recente manifestação pacífica contra Bolsonaro.
Como que fazendo parte de um plano sinistro de poder totalitário, o presidente vem promovendo o aparelhamento político da Polícia Rodoviária Federal, da Polícia Federal e até mesmo das Forças Armadas. Desde o início do governo, ele vem testando a paciência de quem tem juízo.
Ele diz o que não pode num dia, no outro recua e desdiz o que havia dito. Porém, já é perceptível um padrão: a cada pronunciamento, eleva o tom da ameaça da vez anterior.
A tática adotada para impressionar o público, para demonstrar que tem capacidade para dominar o país, é bastante manjada. É a mesma técnica do adolescente do “sem querer querendo” para conseguir as coisas. Começa testando a autoridade dos pais, dizendo o que não deve e recuando, pedindo desculpas, e aos poucos vai se impondo no que não é permitido, até os pais perderem definitivamente o controle sobre ele.
Bolsonaro começou soltando balões de ensaio, que a princípio eram aparentes lapsos. Depois passou a fazer declarações em tom de brincadeira. Depois, declarações afirmativas. Dizia o que queria e analisava a repercussão do que disse. Como nunca houve resposta à altura, hoje ele profere ameaças de soltar o Exército contra quem a ele se opuser.
É o que se observa na atual crise que criou dentro das Forças Armadas, em sua escalada de anúncios de que POSSUI AS FORÇAS ARMADAS BRASILEIRAS. São muitas as evidências: manifestações políticas em frente a quartéis.
Manifestações políticas com a exibição de oficiais generais da reserva. Como o exército não se opôs, passou então a fazer manifestações políticas com a exibição de oficiais generais da ativa.
Passou a proferir declarações de que “é o MEU Exército”, dando a entender que a respeitável instituição militar não é uma instituição de Estado, senão de SEU governo. Deixando claro que as Forças Armadas farão o que ele mandar. Que elas são comprometidas exclusivamente com ele, o presidente da República. E desse jeito ele tem sido tolerado. Só que a tolerância atingiu níveis de irresponsabilidade.
Como desde que começou nunca foi desmentido, e as Forças Armadas nunca o corrigiram, declarando que não, elas não pertencem a esse ou aquele presidente, e que o seu compromisso é com a Constituição, ele chegou a níveis insuportáveis de retórica. Agora explicitamente anuncia ser o “dono” dessas entidades.
No episódio mais recente, Bolsonaro arquitetou mais uma forma de desmoralização do Exército: levou um general da ativa para participar de manifestação política de ampla repercussão nacional, o que feriu o código disciplinar da Arma. E depois avisou que o general não poderá ser punido, pois é gente sua.
É grave a crise que o presidente criou. A não-responsabilização desse militar será um grave e perigoso exemplo para a caserna. A mensagem que está sendo transmitida é que podem fazer o que quiserem, pois não haverá punição. Isso será a desmoralização do Alto Comando das Forças Armadas! Logo assistiremos a sargentos liderando motins nos quartéis, manifestações contra seus comandantes.
Pergunto: por que é que o presidente está querendo desmoralizar o Exército, ao interferir na punição disciplinar do general Pazuello, comprometendo a hierarquia nas Forças Armadas? Será que ele quer vingar-se por no passado ter sido punido pelo Código do Exército e ter sido praticamente expulso da corporação por ser inapto para a carreira militar? Ou será algo mais sinistro: para criar um Estado totalitário às custas do desvirtuamento das Forças Armadas, subjugando-as à sua vontade? É uma possibilidade. O que o Brasil ganhará com essa atitude? O que as Forças Armadas ganharão?
Em 1964, sargentos promoveram a insubordinação dentro das Forças Armadas. A principal consequência foi a derrubada do presidente João Goulart. Haverá clima no Brasil para um novo golpe?