A BENDITA SABEDORIA POPULAR, por José Mário Espínola

É o Brasil entrando…

A partir da formação intelectual nós vamos aos poucos abandonando, até mesmo rejeitando, as origens da nossa forma de pensar. É como se fosse um amadurecimento. É um equívoco cometido pela maioria de nós.

Hoje, faço um mea culpa reconhecendo que depois que me tornei adulto passei a não dar muita atenção a adágios e provérbios que ouvi na infância e na juventude, ditos por pessoas geralmente simples. Pura presunção!

Pois, atingindo a maturidade à qual cheguei, vejo como são sábios os aforismos populares. Debruçar-me-ei aqui sobre alguns deles.

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Cão que ladra não morde – Este ditado está sendo desmistificado pelo presidente. Desde que assumiu o cargo, todos os dias ele desfia um rosário de denúncias, ataques e agressões contra pessoas e entidades que porventura discordem das suas palavras: políticos de partidos adversários, a imprensa, instituições ou pessoas que de repente ele toma como desafetos, tenha ou não justificativa para tais condutas.

A princípio, não era levado a sério, mas o tempo se encarregou de mostrar que o seu grau de malignidade exige cuidados maiores do que a simples vacinação antirrábica. Dois fortes exemplos são o governador de São Paulo, João Doria, e o ex-governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel. Com certeza ele morde.

Mente vazia, oficina do diabo – Este provérbio está sendo comprovado que é realmente um sábio ditado. Pois nunca esteve no Brasil alguém com a mente tão vazia elucubrando tanta maldade, criando um clima de tamanha intranquilidade, praticando um verdadeiro terrorismo contra a população. Senão, vejamos.

  • O fim dos radares móveis aumentou a velocidade nas estradas, elevando o risco de acidentes. O fim da obrigatoriedade do assento para crianças tornou-as mais vulneráveis no trânsito.
  • A política de armar a população está despejando mais armas nas cidades, à disposição dos ladrões e assassinos. Além de aumentar a letalidade nos conflitos que diariamente ocorrem nas ruas das cidades.
  • A agressão sistemática e institucional à natureza está permitindo que o Brasil alcance o lugar desejado pelo governo e exposto pelo ex-chanceler Ernesto Araújo, ou seja, o de pária das nações.
  • A política governamental de saúde, executada (sem trocadilhos, por favor) pelo Ministério da Saúde, também vem ajudando o Brasil a alcançar esse lugar desonroso. Além de colaborar para o elevadíssimo número de mortos por covid, uma média de cinco acidentes de Boeing por dia.

Isso só para citar uma parte da política pública do atual governo. É realmente uma caixa de maldade.

Dize-me com quem andas que te direi quem és – Quando estava em campanha, o presidente criticou muito os políticos e partidos do chamado Centrão – entidade maligna que habita o Congresso Nacional e que, segundo Dr. Lauro Wanderley Filho, é quem sempre termina governando o país.

Desde que o Centrão desembarcou no governo, a convite do presidente, como garantia de lhe proporcionar longa vida, ele passou a se parecer com todas más qualidades que atribuía a esses políticos, alvo da campanha que lhe auferiu muitos votos dos incautos que nele acreditaram.

Além disso, pessoas que aceitaram compor-se com um governante terrivelmente impopular correm o risco de um dia serem confundidas e cobradas por isso. É o caso do mesmo João Doria. E dos militares que estão aparelhando a administração federal.

Onde há fumaça, há fogo – Desde que assumiu, o presidente sempre bradou ameaças contra as instituições, tanto nas manifestações de rua como no chiqueirinho do Palácio da Alvorada. No começo, alguns achavam que ele não seria capaz de levar adiante essas intenções. Achavam que cão que ladra não morde.

O tempo está demonstrando, porém, que ele é, sim, indivíduo de alta periculosidade para as instituições democráticas. Nem precisa ir muito a fundo para mostrar o quanto esse temor é procedente. Para bom entendedor, meia palavra basta!

A triste figura vem praticando terrorismo com suas ameaças à democracia, à cultura, às minorias sociais, aos direitos de todos. O povo já não aguenta tanta agressão, ao ponto de ter desafiado o risco de contrair covid. “Ruim com o vírus, pior com o Doido”, foi o que mais se ouviu nas recentes manifestações.

O que estimula a esperança do povo brasileiro é saber que quem com ferro fere, com ferro será ferido. E também que um dia é da caça e outro do caçador!

E se o futuro a Deus pertence, certamente Ele vai abençoar a nossa esperança e nos dar razão.

VOU ENTRAR NO SEU SONHO! por José Mário Espínola

Tinha um sujeito que estava nitidamente abatido, rosto cortado por rugas, exibindo olheiras profundas. Parecia dez anos mais velho.

Ao sair de um restaurante, encontrou um velho amigo que se impressionou com o estado físico dele. E perguntou o que estava acontecendo.

– Rapaz, estou um caco. Não bastasse o trabalho exaustivo, passo a noite tendo sonhos ruins.

O amigo puxou um cartão do bolso e lhe entregou, dizendo:

– Vá para este psiquiatra, ele é especialista em sonhos. E é muito bom!

Ele recebeu o cartão, botou no bolso. E esqueceu. Uma semana depois, já não agüentava mais. E lembrou-se do cartão do psiquiatra. Ligou, agendando uma consulta. Na hora aprazada ele estava diante do psiquiatra, que lhe pediu:

– Conte o seu sonho.

– Doutor, todas as noites eu tenho o mesmo sonho. Depois de um dia de trabalho, após adormecer eu sonho que estou dirigindo um caminhão enorme. Passo a noite dirigindo aquela máquina gigante, de João Pessoa a Cajazeiras. No dia seguinte estou exausto.

O psiquiatra olhou profundamente nos olhos do paciente e disse:

– Pode ir embora. Vou entrar no seu sonho!

– Mas o senhor não vai passar nenhum remédio?

– Não. Vou entrar no seu sonho!!

Ele saiu decepcionado. À noite, chegou a hora de ir para cama, o que ele fez contrariado. E adormeceu. Começou a sonhar o mesmo sonho: subiu na cabine da jamanta, ligou, passou a primeira, a segunda e… #PartiuCajazeiras.

Mas dessa vez foi diferente! Aconteceu algo inesperado. Oito quilômetros depois, no trevo de Oitizeiro avistou um vulto branco no acostamento, dando com a mão como quem pede carona. Diminuiu a velocidade e viu nitidamente quem era. Era o psiquiatra!

Parou, desceu do caminhão, o psiquiatra assumiu a direção e foi-se embora para Cajazeiras. No dia seguinte, acordou menos cansado. E passou a ter o mesmo sonho revigorante. Com o passar do tempo, ele se recuperou.

Certo dia, ele encontrou um velho colega de escola, que estava com uma aparência péssima. Perguntou o que estava acontecendo. O amigo explicou:

– Estou dormindo muito mal, tenho problemas com sonhos.

O recuperado sacou um cartão, entregou e recomendou:

– Faça uma consulta com esse psiquiatra. Ele é muito bom, eu também estava assim e ele me tratou.

Meses depois, os dois se reencontraram. O ‘caminhoneiro’ notou que o amigo estava pior e quis saber a razão.

– Quéquihouve? Parece até que você piorou desde a última vez. Não foi ao psiquiatra que indiquei?

– Fui, fui sim. E me arrependi. Lá, ele me olhou nos olhos e me pediu para contar o sonho. Contei. ‘Doutor, todas as noites, assim que adormeço eu sonho o mesmo sonho: que estou fazendo amor com a minha esposa. Dou uma, duas, três… A noite toda, sem parar. Às vezes, até sete vezes na mesma noite. No dia seguinte, estou exausto, morto’. Foi o que falei.

– E aí, o que foi que o médico passou?

– Ele olhou-me no fundo do olho e disse: ‘Pode ir embora. Vou entrar no seu sonho!’ Mas, Doutor, o senhor não vai passar nenhum remédio para mim? ‘Não. Vou entrar no seu sonho!’, repetiu o doutor. Saí decepcionado.

– Mas, e aí? O que aconteceu?

– Aconteceu que à noite chegou a hora de eu ir pra cama e fui, contrariado. E logo que adormeci, veio o mesmo sonho: peguei a minha esposa e comecei. Quando estava na segunda,  ouvi um ronco forte de caminhão estacionando na frente de casa. Saí de cima da mulher, fui até a janela e olhei. Era o psiquiatra ao volante de uma carreta. Ele desceu do caminhão e eu subi, assumindo a direção. Agora, todas as noites eu dou duas com a minha esposa, recebo a jamanta do psiquiatra e vou embora pra Cajazeiras, que nem sei onde diabos fica! E o pior de tudo é ver pelo retrovisor que o psiquiatra fica com a minha esposa!

UM TOQUE DE COVARDIA, por José Mário Espínola

Lendária fotografia de rapaz jovem parando em frente a fila de tanques

Uma cena e uma fotografia para a história (Praça Tiananmen, Pequim, junho de 1989)

Nós temos acompanhado excelentes artigos do escritor Rui Leitão versando sobre as qualidades humanas, virtudes e defeitos. Iremos aqui tecer algumas considerações sobre uma virtude humana, mas que também encontra exemplos na Natureza: a Coragem.

Para mim o maior dos exemplos de coragem é a Mulher. Elas já nascem corajosas, parece até que faz parte do seu DNA. Com raras exceções são pessoas sinceras e decididas. E em muitas ocasiões são capazes de colocar a defesa de um filho ou de um ente querido acima do seu instinto de preservação. Essa atitude também assistimos muito acontecer no reino animal.

Na nossa família são célebres exemplos de coragem explícita: o nosso avô paterno João de Andrade Espínola e a nossa avó materna Salomé Cavalcanti Pedrosa. Mas isso é outra história.

Muito já se escreveu sobre esta virtude, fartos são os exemplos de atitudes corajosas. Pessoas que defendem os seus ideais, as suas doutrinas, quando confrontados ou ameaçados por aqueles que não os respeitam, mesmo que isso signifique risco de morte.

A Bíblia registra muitos exemplos de coragem. É o caso de Daniel, que teve a coragem de afirmar e defender a sua fé, o seu Deus, perante o rei dos medos e persas, Dario. E por isso foi lançado à cova dos leões, sobrevivendo graças a um anjo enviado por seu deus. Assim está registrado na Bíblia, no capítulo 6º do Livro de Daniel.

Ao longo da Era Cristã muitos daqueles que eram praticantes da sua doutrina sofreram intensa perseguição. Isso leva o nome de misocristia: a intolerância a Cristo e àqueles que praticam o cristianismo.

No início esse ódio partia dos judeus, depois do Império Romano e mais tarde por parte dos muçulmanos. Até que esta religião se afirmou e tornou-se uma potência, sendo praticada por bilhões de pessoas no Mundo.

A igreja católica é rica de mártires que deram a vida pela fé que praticavam. São Sebastião e Santa Isabel são dois exemplos. Aqui no Brasil temos muitos exemplos de coragem pessoal. Vou citar um.

Em junho de 1968, quatro anos do início da ditadura militar, o brigadeiro João Paulo Burnier e militares radicais teceram um plano para explodir o gasômetro e uma represa, do Rio de Janeiro. Esses atentados terroristas, que seriam executados à luz do dia, provocariam a morte de dezenas de milhares de pessoas. Seriam, então, atribuídos aos comunistas e às organizações de esquerda que combatiam a ditadura militar, o que justificaria o fechamento do regime e a perseguição aos adversários.

Foram impedidos pelo capitão Sérgio Carvalho de Miranda Ribeiro (que tinha o apelido de Sérgio Macaco), capitão do Serviço de Salvamento da Aeronáutica, ParaSar. Ele não apenas teve a coragem de se recusar a participar como denunciou o brigadeiro Burnier ao Comando da Aeronáutica. Evitou assim, com o seu gesto, a morte de milhares de pessoas. A partir daí ele passou a ser perseguido pelos militares da extrema-direita e no final daquele ano foi reformado pelo Ato institucional nº 5, o famigerado AI5. Perdeu a patente e o meio de vida.

No mundo contemporâneo temos o exemplo de coragem do Mahatma Gandhi, que enfrentou sem armas o Império Britânico, em defesa de sua causa, tendo conseguido unificar os indianos e emancipar a Índia.

Outro bom exemplo é o de Nelson Mandela, que em defesa de sua causa, a liberdade do povo da África do Sul, enfrentou o regime da separação racial, da opressão à maioria negra, tendo amargado a prisão por 27 anos. Nunca deixou, porém, de afirmar os seus ideais.

Em junho de 1989 o mundo assistiu estarrecido um professor chinês, portando apenas uma sacola de compras, tendo a coragem de enfrentar e fazer parar uma coluna de tanques de guerra que chegava à Paz Celestial, onde logo praticariam um massacre contra a população ali presente para protestar contra o regime totalitário da China.

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No extremo oposto da Coragem está o defeito da Covardia. Este é um dos piores que um ser humano pode ter. Porém não se pode afirmar que o amor-próprio, ou a timidez, por exemplo, venham a ser classificados como atos de covardia. Covardia é muito mais do que isso.

Nos tempos atuais temos assistido mais do que nunca ao exercício da covardia, praticado por aqueles que são adeptos do bolsonarismo como ideologia. Eles são brasileiros que têm uma ideologia nociva à sociedade, especialmente àqueles que são socialmente fracos ou indefesos. Que cultuam o pensamento antidemocrático, racista, totalitarista e intolerante. Mas, quando chamados à responsabilidade e confrontados com as suas respectivas realidades, negam mais do que Pedro negou Jesus. Nunca afirmam ou defendem o que pensam e pregam, pois sabem que é errado.

Muitos são os exemplos da covardia dessas pessoas. O deputado Daniel Silveira é um. Em abril passado foi preso após desfiar um rosário de ofensas e ameaças aos ministros do Supremo Tribunal Federal. Ao ser preso, amarelou e negou tudo, demonstrando covardia.

O assessor para assuntos internacionais da Presidência da República, Filipe Martins, exibiu no Senado, durante exposição do ex-ministro Ernesto Araújo, um gesto que foi interpretado como revelando ser adepto do pensamento racista e medieval da supremacia branca. Ao ser confrontado, também amarelou e negou que o tivesse feito.

O ex-chanceler Ernesto Araújo foi outro que amarelou e também não teve coragem de defender o seu pensamento no Congresso.

Eles têm em comum o fato de serem adeptos do pensamento olavista e nazi-fascista do presidente da República, Jair Bolsonaro. Que por sua vez não é um bom exemplo de coragem.

Mas existem aqueles que, para fugir da responsabilidade dos seus atos, são capazes de inverter o que afirmaram no passado. Ou são até mesmo capazes de assumir o que nunca fizeram e até mesmo combateram. É o caso de Bolsonaro. Desde o início da pandemia ele vem atacando e dificultando a vacinação dos brasileiros e defendendo tratamentos esdrúxulos e inócuos, que podem até mesmo vir a causar danos aos pacientes que a eles se submeterem.

Ele fez todo o possível para atrasar a imunização coletiva, atitude que poderá ser responsabilizada pelo aumento estúpido do número de brasileiros mortos, que pela média diária de mortos poderá alcançar a metade de milhão ainda este mês.

Porém, agora confrontado ele nega com veemência o que fez, o que pregou, e que influenciou de forma deletéria os milhões de brasileiros que seguem cegamente a sua ideologia. E recentemente ele teve a cara-de-pau de vir à televisão fazer um pronunciamento assumindo a paternidade da vacinação do povo brasileiro.

Isso tudo nos permite concluir que os nazi-fascistas não têm coragem para assumir o que pensam e praticam. Ou que intimamente têm a consciência de que o que pensam, a sua ideologia, os seus ideais estejam errados e, portanto, não têm defesa.

Mais ainda, incapazes de defender ideais inconfessáveis às claras, à luz do dia, só o fazem quando estão em turma. Eles têm o mesmo comportamento e forma de pensar daquelas pessoas que participam de linchamentos: só têm coragem quando estão em rebanho. Depois negam qualquer autoria.

Só são capazes, portanto, de agir e expor seus pensamentos à socapa, à sorrelfa, pois não passam de covardes.

O QUE ACONTECE EM BANANEIRAS NÃO FICA SÓ EM BANANEIRAS

Parceria entre a Casa do Empreendedor e Empreender Paraíba gera  investimentos na economia local em Bananeiras | Focando a Notícia

Atendimento na Casa do Empreendedor de Bananeiras (Foto: Focando a Notícia)

O ex-prefeito Douglas Lucena (à esquerda)

O jornal O Estado de S. Paulo, o Estadão, e o Portal Terra, dois dos mais acessados veículos de mídia impressa e digital do país, deram muito ponto e cartaz a Bananeiras há duas semanas.

O destaque foi conferido mais precisamente à Casa do Empreendedor, iniciativa do ex-prefeito Douglas Lucena que fez Bananeiras exportar modelo de apoio a micros negócios e à pequena produção agropecuária.

Com as adaptações de praxe à realidade, circunstâncias e visões locais, a experiência bem sucedida no Brejo Paraibano foi copiada e implementada por municípios como Mogi das Cruzes (SP) e Caruaru (PE).

O compartilhamento de programas como a Casa do Empreendedor de Bananeiras é obra da Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (Raps), organização apartidária da qual Douglas Lucena faz parte.

Ele e mais de 650 pessoas, entre as quais dois governadores, sete senadores, 32 deputados federais, 41 deputados estaduais, dois deputados distritais, 17 prefeitos e 41 vereadores.

Esse povo todo empenha-se em realizar na prática uma meta bem factível dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU).

São ações “para acabar com a pobreza extrema e proteger o meio ambiente”, revela Bianca Gomes, autora da matéria (clique aqui para ler na íntegra) onde Bananeiras e seu ex-prefeito aparecem em destaque.

Na mesma reportagem, destaca-se também o registro de um fato lamentável: o esforço para acabar com miséria e fome a partir da Agenda 2030 não conta com um real de apoio do governo federal.

No seu primeiro ano (2019), o governo Bolsonaro extinguiu a Comissão Nacional para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (CNODS). A extinção veio a bordo do famoso ‘revogaço’ imposto pela nova ordem.

AS AGRURAS DO SR. PAULINO, por Babyne Gouvêa

Imagem meramente ilustrativa (depositphoto)

Acontece de tudo num ambiente em que pessoas de temperamentos diversos se reúnem para desenvolver as suas atividades funcionais, demonstrando idiossincrasias pessoais variadas ao enfrentarem adversidades, reagindo com serenidade, indiferença ou exaltação.

Um dos inúmeros casos ocorridos merece destaque – o do Sr. Paulino.

Estava ele, funcionário competente e dedicado ao trabalho – um verdadeiro exemplo para os colegas -, acabrunhado e silencioso, com a cara de quem estava escondendo algo. Os dias passavam e o seu sorriso constante em tempos anteriores, não aparentava mais, evidenciando um semblante de angústia despertando comiseração nos seus pares.

A muito custo, os mais próximos conseguiram extrair dele o motivo de sua tristeza. Marcaram uma consulta para o amigo com um médico proctologista. Foi marcada a cirurgia e o paciente seguiu submisso àquela que seria, segundo a sua concepção, a maior humilhação enfrentada em seus cinquenta anos de vida.

Após o procedimento cirúrgico, o pobre coitado foi acometido de uma surpreendente mudança de comportamento, provocando uma inusitada ansiedade pós-cirúrgica em relatar pormenores do seu sofrimento.

Essa alteração de conduta causou um espanto coletivo e risadas às escondidas, ficando o Sr. Paulino à mercê de chacotas num palco tragicômico.

Mas, o mais assombroso, foi a teimosia do recém operado em esmiuçar o procedimento pelo qual tinha passado, colocando para os colegas pormenores sobre o que ainda enfrentava. O pior estava por vir.

Foi quando a administradora chefe chegou ao trabalho, e se encontrava o Sr. Paulino à sua espera, para lhe expor com riqueza de detalhes o seu martírio.

A princípio houve uma tentativa de interceptação de sua incursão ao ambiente de superiora, mas com determinação ele adentrou alegando tratar-se de um assunto de suma relevância e de caráter impostergável.

Os leitores, decerto, imaginarão a narração do funcionário e a suposta reação perturbadora de sua chefe, ouvindo atentamente a amargura do exímio funcionário, mas tentando dissimular já conhecer o caso.

Procurando as palavras devidas para não inibi-lo, e também na tentativa de abreviar o seu relato, falou de forma eufesmística, o que deixou o Sr. Paulino impactado e agradecido:

– Sou plenamente solidária com o senhor, o seu caso é comum aqui no trabalho e o seu exemplo de coragem deve ser seguido por todos os seus colegas de infortúnio. Já aprovei a aquisição de cadeiras com recursos anatômicos para acomodar de forma devida a região manipulada dos senhores.

ESTICANDO A CORDA, por José Mário Espínola

Paralerepensar - Texto

(Imagem copiada de Paralerepensar)

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Terrorismo é o uso de violência, física ou psicológica, por meio de ataques localizados a elementos ou instalações de um governo ou da população governada, de modo a incutir medo, pânico e, assim, obter efeitos psicológicos que ultrapassem largamente o círculo das vítimas, incluindo o restante da população do território. É utilizado por uma grande gama de instituições como forma de alcançar seus objetivos, como organizações políticas, grupos separatistas e até por governos no poder.

A História é um registro implacável do comportamento da humanidade ao longo da nossa existência, desde os primórdios, quando os humanos viviam isolados, porém deixando registros gravados, até os tempos em que passaram a fazer registros do que viam. E do que pensavam.

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Quinze anos após o fim da Primeira Grande Guerra, a Alemanha vinha se equilibrando como podia. A economia patinava, amargando níveis inflacionários estratosféricos, na casa do milhão por cento, consequente a administrações incompetentes, agravada pela recente Depressão econômica mundial.

O desemprego crônico e crescente provocou um efeito maléfico sobre a população, piorando o nível de pobreza, com segmento significativo da sociedade passando fome. Esse quadro caótico influenciava no comportamento social do povo alemão. Oportunistas surgiram insuflando a população contra aqueles que elegeram como culpados pela crise: os esquerdistas do Partido Comunista e os judeus.

Criaram, assim, um ambiente social insuportável na Alemanha, que se tornou um caldo de cultura rico em ódio. E acabou gerando uma crise sem precedentes em sua história. O ódio passou a ser o estímulo maior para as pessoas comuns, influenciadas pela propaganda política de ambos os lados. Todos os dias aconteciam escaramuças, agressões e perseguições por motivos ideológicos.

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Em 1933, Adolf Hitler assumiu os desígnios da Alemanha e do povo alemão, após o seu partido, o Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães – NADP, ter alcançado a maioria do parlamento alemão, o Reichstag, em eleições democráticas.

Todavia, como o número de cadeiras não superou a metade do parlamento, Hitler teve que fazer uma coligação com um partido menor. E por ironia do destino os nazistas tiveram que se coligar com o Partido Comunista. Justamente com os comunistas, que eles execravam e combatiam como inimigo maior, só perdendo para os judeus, a quem eles odiavam.

O Partido Comunista, então, garantiu a maioria do NADP no Reichstag. E só assim Adolf Hitler, líder (führer), pode reclamar ao Kaiser Himdenburg, presidente da Alemanha, o cargo de Chanceler (chefe do governo). Foi nomeado na noite de 31 de janeiro de 1933.

Hitler liderou o seu partido nessa conquista após uma década de proselitismo baseado no ódio. Ódio aos partidos da esquerda ideológica, a quem atribuía a má-administração do país.

Ódio aos judeus, em quem jogava a culpa do desastre econômico, e a quem creditava o fato de ter aceitado um armistício desfavorável à Alemanha em 1918, quando ainda teriam forças para continuar guerreando.

Ódio também aos franceses e ao Tratado de Versalhes, que humilharam internacionalmente a Alemanha e seu povo, tomando do território alemão uma área rica em carvão mineral na fronteira com a França, que passou a administrar a produção de tão crucial fonte de energia. 

O Tratado de Versalhes também proibiu a Alemanha de ter exército para se defender. Proibiu força naval que tivesse navios de grande calado. Proibiu a formação de uma força aérea.

A intenção dos países aliados – França, Inglaterra e Estados Unidos – foi limitar o arsenal de guerra da Alemanha por um longo tempo. Este era um país aguerrido e belicoso que nos últimos séculos havia protagonizado guerras desastrosas com seus vizinhos, muitas delas sem justificativa para algo mais que um simples conflito diplomaticamente contornável.

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Ao longo de sua carreira em direção ao poder, Adolf Hitler conquistou a maioria do povo alemão. A princípio, boa parte pela adesão às suas ideias, quase todas de iniciativas bélicas: eliminação de judeus e esquerdistas; criação de forças armadas; retomada de territórios e conquista de países ao leste, visando subjugar o povo russo. A Rússia seria o celeiro da Alemanha, e seu povo seria escravo dos alemães.

A propaganda maciça sufocou o alemão médio, dando a impressão de que os nazistas eram imbatíveis, que tinham que se conformar com eles. Com o tempo, o ambiente social ficou sufocadamente nazista, e aqueles que não comungavam com as suas ideias aderiram por medo de serem retaliados.

Em sua pregação, Hitler conquistou também ou muito mais a elite alemã, tanto a nobreza como o alto empresariado. Aqueles, por enxergarem nele a oportunidade de retomar a importância perdida. Já os empresários do ‘alto clero’ vislumbraram nele a oportunidade de melhores negócios, com o fim do caos em que se encontrava o país. Para tanto, fizeram vista grossa para toda a arbitrariedade do governo contra os opositores, vítimas da ascensão nazista e o verdadeiro terrorismo de Estado que o regime criou.

Assim que Hitler e o NADP assumiram o poder passaram a fazer tudo o que haviam ameaçado ao longo de década e meia. Um dos seus primeiros atos tornou proscritos os partidos de esquerda, prendeu comunistas e judeus, internando-os em campos de concentração.

O apoio incondicional da elite empresarial alemã e o domínio do parlamento permitiram uma melhora da economia da Alemanha. Dominou a inflação, passando a gerar empregos, mesmo que à custa de insegurança trabalhista e social.

Amparado pelo parlamento, o nazismo também interveio e aparelhou o Poder Judiciário da Alemanha, afastando magistrados independentes, substituindo-os por aqueles afinados com o pensamento do führer. Com esse ato, Hitler extinguiu a democracia alemã, totalitarizando o seu poder. A partir daí, passou a esticar a corda: decidiu avançar aos poucos sobre as proibições estabelecidas no Tratado de Versalhes.

Seguindo o roteiro traçado por si próprio no livro ‘Minha Luta’, escrito na prisão com a ajuda de Rudolf Hess, ele primeiro organizou um exército clandestino, seguido do aparelhamento da aeronáutica e da marinha. Aos poucos, as forças armadas alemãs foram “oficializadas” e passaram por um processo de fortalecimento organizado por Hermann Göring por ordem do führer.

Como os Aliados fizeram vista grossa, em 1936 ele invadiu e retomou o Território da Renânia, então invadido pela França que queria maior substância no pagamento da dívida de guerra estipulada no Tratado de Versalhes. A Renânia é aquela região rica em minas de ferro e carvão até então administrada pelos franceses.

As potências mundiais haviam declarado zona desmilitarizada e pelo Pacto de Locarno a Alemanha estava proibida de manter tropas no território. Para invadir a Renânia, Hitler tomou a decisão contrariando seus generais, pois estes sabiam que não tinham exército suficientemente forte e capacitado para tal, caso a França reagisse.

Mas Hitler blefou, os franceses acreditaram e abandonaram o território sem reagir. Os Aliados signatários do Tratado de Versalhes reagiram com muito barulho, mas não tomaram nenhuma medida efetiva. Hitler, então, sentiu-se fortalecido para novas e semelhantes aventuras, além de esticar a corda ainda mais.

Em março de 1938, anexou a Áustria. Em março de 1939, anexou a Tchecoslováquia. E em setembro de 1939 invadiu a Polônia, com a cumplicidade da comunista (outra vez!) União Soviética, causando o maior desastre bélico que a humanidade já viu, com várias dezenas de milhões de mortos.

A história demonstra que essa Grande Guerra poderia ter sido evitada se as potências ocidentais tivessem sido vigilantes e atuantes em defesa da ordem mundial.

Hitler testou os instrumentos democráticos a partir do momento em que assumiu o poder. Com a leniência generalizada, rapidamente subjugou todas as instituições, eliminou a oposição, extinguiu a liberdade de opinião e instituiu a censura à imprensa.

O resto é o que se viu depois, com o fim da paz no mundo e a morte de milhões de pessoas, mortes que não aconteceriam se aqueles com algum juízo tivessem controlado o louco em tempo hábil.

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Subversão (do termo latino subversione) é uma revolta contra a ordem social, política e econômica estabelecida vigente. Pode manifestar-se tanto sob a forma de uma oposição aberta e declarada, como sob a forma de uma oposição sutil e prolongada.

Desde que assumiu a Presidência da República, Jair Bolsonaro vem fazendo ameaças diárias de interferir nos outros poderes, especialmente no Supremo Tribunal Federal. O assédio é grande e crescente, desde que o legislativo aparentou já ter sido comprado para lhe garantir que não haverão surpresas constitucionais.

Desde o início de seu governo, o presidente vem estimulando abertamente o motim entre as polícias militares estaduais. Essa foi a mensagem transmitida pela Polícia Militar de Pernambuco, na recente manifestação pacífica contra Bolsonaro.

Como que fazendo parte de um plano sinistro de poder totalitário, o presidente vem promovendo o aparelhamento político da Polícia Rodoviária Federal, da Polícia Federal e até mesmo das Forças Armadas. Desde o início do governo, ele vem testando a paciência de quem tem juízo.

Ele diz o que não pode num dia, no outro recua e desdiz o que havia dito. Porém, já é perceptível um padrão: a cada pronunciamento, eleva o tom da ameaça da vez anterior.

A tática adotada para impressionar o público, para demonstrar que tem capacidade para dominar o país, é bastante manjada. É a mesma técnica do adolescente do “sem querer querendo” para conseguir as coisas. Começa testando a autoridade dos pais, dizendo o que não deve e recuando, pedindo desculpas, e aos poucos vai se impondo no que não é permitido, até os pais perderem definitivamente o controle sobre ele.

Bolsonaro começou soltando balões de ensaio, que a princípio eram aparentes lapsos. Depois passou a fazer declarações em tom de brincadeira. Depois, declarações afirmativas. Dizia o que queria e analisava a repercussão do que disse. Como nunca houve resposta à altura, hoje ele profere ameaças de soltar o Exército contra quem a ele se opuser.

É o que se observa na atual crise que criou dentro das Forças Armadas, em sua escalada de anúncios de que POSSUI AS FORÇAS ARMADAS BRASILEIRAS. São muitas as evidências: manifestações políticas em frente a quartéis.

Manifestações políticas com a exibição de oficiais generais da reserva. Como o exército não se opôs, passou então a fazer manifestações políticas com a exibição de oficiais generais da ativa.

Passou a proferir declarações de que “é o MEU Exército”, dando a entender que a respeitável instituição militar não é uma instituição de Estado, senão de SEU governo. Deixando claro que as Forças Armadas farão o que ele mandar. Que elas são comprometidas exclusivamente com ele, o presidente da República. E desse jeito ele tem sido tolerado. Só que a tolerância atingiu níveis de irresponsabilidade.

Como desde que começou nunca foi desmentido, e as Forças Armadas nunca o corrigiram, declarando que não, elas não pertencem a esse ou aquele presidente, e que o seu compromisso é com a Constituição, ele chegou a níveis insuportáveis de retórica. Agora explicitamente anuncia ser o “dono” dessas entidades.

No episódio mais recente, Bolsonaro arquitetou mais uma forma de desmoralização do Exército: levou um general da ativa para participar de manifestação política de ampla repercussão nacional, o que feriu o código disciplinar da Arma. E depois avisou que o general não poderá ser punido, pois é gente sua.

É grave a crise que o presidente criou. A não-responsabilização desse militar será um grave e perigoso exemplo para a caserna. A mensagem que está sendo transmitida é que podem fazer o que quiserem, pois não haverá punição. Isso será a desmoralização do Alto Comando das Forças Armadas! Logo assistiremos a sargentos liderando motins nos quartéis, manifestações contra seus comandantes.

Pergunto: por que é que o presidente está querendo desmoralizar o Exército, ao interferir na punição disciplinar do general Pazuello, comprometendo a hierarquia nas Forças Armadas? Será que ele quer vingar-se por no passado ter sido punido pelo Código do Exército e ter sido praticamente expulso da corporação por ser inapto para a carreira militar? Ou será algo mais sinistro: para criar um Estado totalitário às custas do desvirtuamento das Forças Armadas, subjugando-as à sua vontade? É uma possibilidade. O que o Brasil ganhará com essa atitude? O que as Forças Armadas ganharão?

Em 1964, sargentos promoveram a insubordinação dentro das Forças Armadas. A principal consequência foi a derrubada do presidente João Goulart. Haverá clima no Brasil para um novo golpe?

BREGA É A CRÍTICA, por Robson Nóbrega

Paulo Miklos, Bárbara Eugênia e Odair José (foto de show com esses e outros artistas copiada do YouTube, que não faz referência à data ou local da gravação)

A crítica e a intelectualidade de plantão chamam de bregas canções de versos simples e melodia corrente, sem atropelos, breques, cortes nem interrupções próprias dos hits prediletos dessa casta musical.

Insensível aos poemas do coração, avessa à emoção contida em histórias de vida, a casta se apega à aridez de muitas letras, de construções poéticas de difícil compreensão pelos mortais comuns.

Não tenho visto crítica da crítica ao lixo musical que se produz atualmente. É insensibilidade ao romantismo, sim. Podem até chamar de piegas, pobre, mas romantismo é um sentimento comum a milhares de pessoas no país da pandemia!

“Pronto! Deixou de ser brega”. Certamente é o que disse à época a crítica musical ao ver show tão “inusitado” como aquele que reuniu Paulo Miklos e Arnaldo Antunes, entre outros, ao menestrel Odair José.

Seria brega se fosse apenas Odair José no palco. Isso na concepção de muitos “mestres de obras feitas”, como costumo definir aqueles que escrevem sobre música e, muitas vezes, sequer sabem reconhecer uma nota, um tom.

Mas “deixou de ser brega” só porque incluíram Miklos, Antunes, Otto e outros ‘consagrados’ cantando com o nada intelectual Odair José, autor do hit “Eu vou tirar você desse lugar”.

Como diz Odair no final do vídeo (assista, abaixo), chamar de brega esse estilo “é um preconceito contra a música simples”. Faz tempo que tenho esse conceito, pois sou grudado num “romantismo barato”, como diria a intelectualidade de plantão.

Nem por isso deixo de elogiar a música da nossa MPB dos monstros dos versos rebuscados e melodias recheadas de acordes complicados e difíceis dissonantes. Ao mesmo tempo, adoro e me amarro ao poema rasteiro que vai certeiro nos corações de apaixonados ou não.

Com a vênia da crítica!

  • Robson Nóbrega é jornalista