VOU ENTRAR NO SEU SONHO! por José Mário Espínola

Tinha um sujeito que estava nitidamente abatido, rosto cortado por rugas, exibindo olheiras profundas. Parecia dez anos mais velho.

Ao sair de um restaurante, encontrou um velho amigo que se impressionou com o estado físico dele. E perguntou o que estava acontecendo.

– Rapaz, estou um caco. Não bastasse o trabalho exaustivo, passo a noite tendo sonhos ruins.

O amigo puxou um cartão do bolso e lhe entregou, dizendo:

– Vá para este psiquiatra, ele é especialista em sonhos. E é muito bom!

Ele recebeu o cartão, botou no bolso. E esqueceu. Uma semana depois, já não agüentava mais. E lembrou-se do cartão do psiquiatra. Ligou, agendando uma consulta. Na hora aprazada ele estava diante do psiquiatra, que lhe pediu:

– Conte o seu sonho.

– Doutor, todas as noites eu tenho o mesmo sonho. Depois de um dia de trabalho, após adormecer eu sonho que estou dirigindo um caminhão enorme. Passo a noite dirigindo aquela máquina gigante, de João Pessoa a Cajazeiras. No dia seguinte estou exausto.

O psiquiatra olhou profundamente nos olhos do paciente e disse:

– Pode ir embora. Vou entrar no seu sonho!

– Mas o senhor não vai passar nenhum remédio?

– Não. Vou entrar no seu sonho!!

Ele saiu decepcionado. À noite, chegou a hora de ir para cama, o que ele fez contrariado. E adormeceu. Começou a sonhar o mesmo sonho: subiu na cabine da jamanta, ligou, passou a primeira, a segunda e… #PartiuCajazeiras.

Mas dessa vez foi diferente! Aconteceu algo inesperado. Oito quilômetros depois, no trevo de Oitizeiro avistou um vulto branco no acostamento, dando com a mão como quem pede carona. Diminuiu a velocidade e viu nitidamente quem era. Era o psiquiatra!

Parou, desceu do caminhão, o psiquiatra assumiu a direção e foi-se embora para Cajazeiras. No dia seguinte, acordou menos cansado. E passou a ter o mesmo sonho revigorante. Com o passar do tempo, ele se recuperou.

Certo dia, ele encontrou um velho colega de escola, que estava com uma aparência péssima. Perguntou o que estava acontecendo. O amigo explicou:

– Estou dormindo muito mal, tenho problemas com sonhos.

O recuperado sacou um cartão, entregou e recomendou:

– Faça uma consulta com esse psiquiatra. Ele é muito bom, eu também estava assim e ele me tratou.

Meses depois, os dois se reencontraram. O ‘caminhoneiro’ notou que o amigo estava pior e quis saber a razão.

– Quéquihouve? Parece até que você piorou desde a última vez. Não foi ao psiquiatra que indiquei?

– Fui, fui sim. E me arrependi. Lá, ele me olhou nos olhos e me pediu para contar o sonho. Contei. ‘Doutor, todas as noites, assim que adormeço eu sonho o mesmo sonho: que estou fazendo amor com a minha esposa. Dou uma, duas, três… A noite toda, sem parar. Às vezes, até sete vezes na mesma noite. No dia seguinte, estou exausto, morto’. Foi o que falei.

– E aí, o que foi que o médico passou?

– Ele olhou-me no fundo do olho e disse: ‘Pode ir embora. Vou entrar no seu sonho!’ Mas, Doutor, o senhor não vai passar nenhum remédio para mim? ‘Não. Vou entrar no seu sonho!’, repetiu o doutor. Saí decepcionado.

– Mas, e aí? O que aconteceu?

– Aconteceu que à noite chegou a hora de eu ir pra cama e fui, contrariado. E logo que adormeci, veio o mesmo sonho: peguei a minha esposa e comecei. Quando estava na segunda,  ouvi um ronco forte de caminhão estacionando na frente de casa. Saí de cima da mulher, fui até a janela e olhei. Era o psiquiatra ao volante de uma carreta. Ele desceu do caminhão e eu subi, assumindo a direção. Agora, todas as noites eu dou duas com a minha esposa, recebo a jamanta do psiquiatra e vou embora pra Cajazeiras, que nem sei onde diabos fica! E o pior de tudo é ver pelo retrovisor que o psiquiatra fica com a minha esposa!

É BOM ESCLARECER
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