A HISTÓRIA SE REPETE MESMO COMO FARSA? por José Mário Espínola

Bolsonaro ao lado do deputado Arthur Lira Foto: Reprodução Redes Sociais

Bolsonaro com Artur Lira, candidato do Planalto para presidir a Câmara (Foto de redes sociais)

Após o Supremo Tribunal Federal ter feito valer a Constituição brasileira, a quem cabe defender, e ter assim decidido que seria inconstitucional a reeleição dos atuais presidentes David Alcolumbre, do Senado e do Congresso, e Rodrigo Maia, da Câmara Federal, percorreu o Brasil o maior frisson, causado pela especulação sobre quem serão os nomes que irão substituí-los nas respectivas Casas.

A especulação mais consistente é a de que o nome mais forte para a presidência da Câmara, no momento, é o do deputado Arthur Lira, do partido Progressistas (?). Esta agremiação compõe um enorme contingente partidário cognominado Centrão.

Esse agrupamento de legendas caracteriza-se justamente por não possuir características ideológicas, não ser de direita ou de esquerda. E também por não ter comportamento de partidos do centro, que é o que se espera num espectro ideológico sadio.

O Centrão apoia quem der maiores vantagens, de cargos ou pecuniárias. O Centrão, portanto, (aparentemente) não fede nem cheira. E não têm o menor escrúpulo de apoiar alguém que não tenha escrúpulos e seja escancaradamente anticonstitucional.

No passado, em troca de cargos e sabe lá o que mais, os parlamentares do Centrão apoiaram os governos de Lula, Dilma e Temer, dando garantias para fazerem o que quiseram, para o bem ou para o mal do Brasil.

Eles são o que na Idade Média chamavam de mercenários. Estes lutavam por aqueles senhores feudais que pagassem melhor, tanto fazia a sua orientação. Hoje eles são encontrados nos dois lados dos conflitos internos de alguns países da África.

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O deputado Arthur Lira é um exemplar típico do Centrão. Trata-se de figura carimbada no noticiário político-criminal, frequentador dos tribunais em processos de operações da Lava-jato e na Justiça de seu estado, com acusações que vão de desvio de verbas a corrupção passiva.

Lira e seu bloco de votantes de aluguel são os favoritos do presidente Bolsonaro e sua horda para presidir o segundo biênio da atual legislatura na Câmara dos Deputados.

Nos últimos dias, a grande, a pequena e a média imprensas estão noticiando que partidos dos quais se espera que tenham ideologia, princípios nobres, e sejam defensores da Constituição, estão apoiando o deputado Arthur Lira para a presidência da Câmara.

Dizem as notícias que deputados filiados a legendas impensáveis, como o PDT, o PT e o PCdoB, estão sendo cogitados como possíveis eleitores do Arthur Lira.

Não tenho a menor ideia do que é que move esses parlamentares a tomarem essa atitude. Mas não consigo esquecer da história mais recente da humanidade. Mais exatamente dos anos que antecederam aquele que foi o pior conflito da História: a Segunda Grande Guerra.

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Em janeiro de 1933, o Partido Nacional-Socialista, mais conhecido por nazista, venceu a eleição para o Reichstag, que era o Parlamento alemão. Mas não conseguia fazer Adolf Hitler, seu líder, ser nomeado Chanceler, cargo de mandatário do governo alemão. Pois não tinha conseguido somar a maioria das cadeiras no parlamento. Precisava, portanto, fazer uma coligação com outro partido.

Quis o destino que ele se coligasse com o Partido Comunista. Este partido era justamente um dos maiores alvos das atrocidades cometidas pelos nazistas. As outras vítimas da perseguição implacável dos nazistas eram os judeus, os negros, ciganos e homossexuais.

A história foi cruel. Alcançada a maioria após essa coligação, o marechal Paul Von Hindenburg, que presidia a Alemanha desde 1925, foi obrigado, constitucionalmente, a nomear Adolf Hitler chanceler da Alemanha. Ele o fez relutantemente, obrigado pela Constituição vigente na Alemanha. Pois ele sabia do mal que estava sendo obrigado a fazer.

Os primeiros atos do recém-empossado fuhrer Adolf Hitler, atos, portanto, legais a partir de então, foram botar na cadeia os partidários do Partido Comunista, que declarou extinto. A partir daí não existiram mais resistências ou obstáculos para Hitler fazer tudo o que fez, chegar até onde chegou, arrastando todo o mundo para um conflito mundial.

Mas não ficou só nisso, ainda teve outro lance. Para poder invadir a Polônia e dar prosseguimento aos projetos de expansão do território da Alemanha, Hitler precisava fazer um pacto de não-agressão com a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, cujo ditador era Josef Stalin. Este assinou o tratado num dia, e no dia seguinte, 1º de setembro de 1939, as tropas alemãs, a Wermacht, invadiram a Polônia. Não parou por aí: em 1940, tomou a França e quase todo o norte da África, só parando na fronteira do Egito, que era colônia inglesa. E em 1941 invadiu justamente a Rússia. Esta era justamente o seu principal objetivo, já descrito no livro Minha Luta, que publicou em 1925.

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Voltando a nossa política, numa escala insignificante para o mundo, a conquista das presidências da Câmara e do Senado poderá significar a ampliação do domínio do executivo, o que será uma hecatombe brasileira, uma vez que não haverá mais resistência para Bolsonaro aprovar o que quiser: desde leis que modifiquem a Constituição, como por exemplo, a dos Estatutos Sociais, até leis que foram conquistas populares, como a Lei da Ficha Limpa.

Se brincar, até mesmo, sem exageros, a extinção de prioridades para idosos ou deficientes ou mesmo o fim das faixas para pedestres. Pois ele e a sua claque têm horror a tudo o que eles consideram manifestação de fraqueza.

O que ganharão os partidos que atualmente fazem oposição, se seus parlamentares vierem a apoiar os candidatos de Bolsonaro? Eu não acredito que vão continuar sem ter autocrítica, como demonstraram nas atitudes que tomaram em 2018, e que possibilitaram que os brasileiros elegessem essa figura.

Será que tomarão a decisão de comprovar que a história, quando reescrita, será mesmo uma farsa? Pago pra ver.

José Mário Espínola
Cidadão Indignado
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