Vez por outra converso com Velha Amiga. Sempre nos preocupamos com a saúde mútua, tanto física com (especialmente!) mental. Relembramos bons filmes, belas músicas, velhos amigos, e carnavais d’outrora. Damos boas gargalhadas, relembrando fatos e fotos da nossa infância. Embora façamos o possível para evitar, às vezes a conversa escorrega inevitavelmente para a política, quando abordamos temas que envolvam os tempos atuais.
É nessas horas que eu percebo, com tristeza, como a política do ódio, instalada há uns seis a sete anos na sociedade brasileira, tem receptividade sobre pessoas que outrora tinham um pensamento ético e moral elevado. Estou profundamente impressionado como essa nova forma de fazer política dividiu o nosso povo, as nossas famílias e velhos amigos. Como tem a força de penetrar profundo em mentes desavisadas, despidas de senso crítico.
O radicalismo político, a polarização consequente e a dificuldade para se discernir o exagero e o estapafúrdio de alguma informação não têm um polo fixo, bem definido. Tanto podem estar à direita quanto à esquerda.
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Está chegando ao fim o embate dentro da nação norte-americana, que escancarou essa polarização nociva, perniciosa, onde ficou bem clara a divisão entre (literalmente) Cordão Azul e Cordão Encarnado. Eles chegaram à margem de um conflito armado, pois lá quase todos andam assim. Levaram ao extremo o conceito de “adversário político,” beirando a sensação de que são inimigos.
Tudo começou com a evolução social da população, que teve em Barak Obama um grande realizador: soube superar a crise econômica e elevou a qualidade de vida das classes inferiores, oferecendo-lhes maiores oportunidades. Isso nunca foi aceito pacificamente pela elite americana. Na eleição de 2016, esse mau pensamento cristalizou-se nos meios de comunicação populares, as tais redes sociais, que passaram a disseminar os preconceitos e a canalizar o sentimento de ódio daqueles que se julgam superiores.
Em paralelo ao que ocorria nos Estados Unidos, ressurgiu no mundo um grande movimento de populismo, de nacionalismo fascista. E a elite estadunidense embarcou nessa onda. Mas elite não ganha sozinha uma eleição. Precisa do apoio da maioria da população. E passou a exercer toda sua influência nefasta sobre aquelas pessoas que não têm a capacidade de distinguir facilmente entre o certo e o errado.
Resultou tudo isso numa facção nazifascista como nunca se havia visto no Ocidente. Logo nos Estados Unidos, que combateu com eficiência o nazifascismo que se estabeleceu na Europa, com Hitler na Alemanha e Mussolini na Itália! A pior consequência desse movimento foi a eleição de um indivíduo de mente asquerosa, mentiroso, preconceituoso, racista, machista, que despreza mulheres, odeia homossexuais, negros, latinos, além de desprezar pessoas dotadas de sentimento ético, de algum grau de cultura e capacidade de pensar.
Uma aberração humana foi eleita, portanto, graças à prática intencional da desinformação como instrumento de batalha. Pois não é que agora há pouco o presidente dos Estados Unidos quase conseguiu ser reeleito, apesar de tudo o que se sabe que ele é? Pois é… Mas o que torna irresistíveis figuras como essas, para o eleitor comum?
Observei, no caso do Donald Trump, que apesar todo o seu perfil de cafajeste, de mentiroso, racista, grosseiro com as mulheres, perseguidor e antidemocrático, tudo aquilo foi perdoado por seus eleitores, pelo fato de ter logrado manter o sucesso econômico herdado de Obama, criando empregos e gerando renda. Só não se reelegeu por conta da pandemia do coronavírus, quando ficou claro para a maioria da população que ele não soube conduzir a nação de modo a poupar vidas e reduzir danos à economia.
Razoável inferir, portanto, que Trump seria reeleito se os Estados Unidos não tivessem sofrido retrocesso econômico durante a pandemia. Pois tudo o que ele é e representa ser, junto com a sua espécie de gente, por pior que seja, não seria suficiente para que o cidadão comum deixasse de votar nele, pelo fato de ter tido o acesso a empregos e meios de renda até então garantidos.
Alguém já disse que para o povo interessa ter panis et circenses, ou seja, se não faltar a grana, não importa o que o cara seja.
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Lá como cá! Estamos muito perto de tudo isso acontecer dentro da nossa sociedade. De uma forma generalizada, temos uma longa história de complexo de inferioridade e quando olhamos os americanos do norte nos vemos como num espelho. E muitos de nós têm a mania (cada dia mais crescente!) de copiá-los. Não copiando o que eles têm de melhor: o sentimento de democracia, de respeito às instituições.
Encontramos em nossa sociedade muitos dos elementos que compõem a forma de pensar dos norte-americanos e que os imitam no que eles têm de pior: o preconceito, a arrogância, o racismo, a frieza, o desprezo para com os menos favorecidos, a sensação de superioridade. E, recém-adquirido, o desprezo por manifestações de educação e de cultura, que parecem achar que são demonstrações de fraqueza. É desta forma que está pensando boa parte da elite brasileira.
Refiro-me àquela porção que não se conformou com o longo período de governo popular que gerou todas as conquistas obtidas pelas classes C e D e reagiu para retomar o controle secular da política e dos destinos do país. Na realidade, a elite brasileira nunca engoliu o fato de um presidente procedente de camadas inferiores ter conseguido domar o câmbio, adestrar a Bolsa de Valores e gerar riquezas para todas as classes. E que errou feio ao se fazer acompanhar por quem não presta. E por não aceitar o jogo da democracia, que vê como extremamente salutar a alternância de poder.
A insistência dele, motivada por falta de autocrítica, propiciou a eleição de um candidato franco-atirador medíocre, que sabia que não tinha chances de ser eleito em condições normais de temperatura e pressão. Ele tinha tanta certeza de que não se elegeria que nunca se preocupou em elaborar um plano de governo, um programa para administrar o país.
Ele e seus asseclas copiaram a estratégia de vitória do presidente dos Estados Unidos. Disseminaram odiosa campanha de contrainformação e levantaram a ‘nata’ da sociedade, que mobilizou o povão. Venceram uma eleição que se afunilou, tornando-se plebiscitária: o Cordão Encarnado contra o Cordão Azul. Não deu outra: venceu o Cordão Azul, apesar da mediocridade do seu candidato.
Desde que tomou posse, ele administra (?) o país sem plano de governo, sem projetos, pensando apenas em se reeleger. Aproveita a existência desta aberração – a reeleição – em nossa Constituição, filha de Fernando Henrique Cardoso, que a criou para satisfazer a sua vaidade e sabe lá o que mais. Legou ao país aquilo que hoje é o mais forte fator de corrupção.
Todos os dias aquele que deveria ser o nosso presidente (elegeu-se democraticamente!) não sabe se comportar à altura do cargo. Seu comportamento pode ser resumido numa frase: não tem compostura! Como Donald Trump, comporta-se como um cafajeste, zomba das instituições, dos mortos por Covid, dos adversários políticos, a quem considera inimigos, e dos próprios correligionários, incluindo seus generais. Em sua mais recente diatribe, comemorou mortes de brasileiros, pelo fato de isso poder significar a fraqueza de algum desafeto seu. Nem um coveiro comemora mortes!
Assim como Donald Trump, ele exibe sinais de ser uma PP: personalidade psicopata. E, tal como Trump, ele também tem ampla chance de se reeleger. Pois parcela da sociedade brasileira o absolve de todos os pecados, do comportamento abjeto, com suas atitudes incoerentes e nocivas à nação brasileira.
Perguntei à Velha Amiga: “Por que você, com toda a sua educação de berço, a sua excelente formação moral e cultural, o seu bom-gosto para tudo o que é belo, apoia figura tão execrável?” Ela me respondeu: “Porque ele defende a família, a tradição cristã, e é contra os esquerdistas. E, principalmente, porque ele é poderoso!”.
Confesso-me confuso diante do comportamento desse grande contingente da população, que aprova os atos do governo, por mais absurdo que pareçam. Vejo com preocupação como a sociedade era antes, como evoluiu nos últimos sete anos e no que se tornou hoje. Acho que é caso para tese de doutorado de sociólogo ou antropólogo. Mais ainda para psiquiatra!
- José Mário Espínola
- Cidadão perplexo
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5 Respostas para LÁ COMO CÁ! por José Mário Espínola
Muito bom artigo! Reli 02 vezes! Aprovado!
Parabéns. Gostei do seu ponto de vista.
Concordo com José Mário. Assino o que expos
O Mário Espínola esqueceu de dizer que o governo dos esquerdistas, quase quebra o país com sua roubalheira, falta de caráter e a anarquia que se instalou em nosso País.
Caro Dr José Mário,
Seu artigo acima deveria ser publicado na grande imprensa brasileira e, quiçá, Internacional. Um juijo límpido e pertinente do que se passa hoje nos EUA, Brasil, Hugria, Polônia e tantos outros países, onde bufões fanfarrões chegaram ao poder, levando todas essas nações a beira da guerra civil, como chegou a prevê recentemente o Washigton Post. Ainda bem, que temos seres pensantes que percebem que psicopatas como Trump e Bostanato devem ser restituídos a psiquiatria o mais breve possível. Parabéns pelo seu maravilhoso e patriótico artigo!