QUILAPAYÚN

Não sei qual a praça certa, se da Constituição ou da Cidadania. Uma ao norte, outra ao sul de La Moneda, o palácio presidencial chileno, no centro de Santiago.

Não importa. Ambas estão certas, pelo que são, onde estão e representam para a grande maioria do povo daquele país, especialmente quando abrigam atos populares em favor da democracia.

Atos como o show de reencontro ou retorno do Quilapayún que assisti em abril de 2015, quando o mais famoso grupo musical do Chile reapresentou-se na frente do Palácio de La Moneda.

Reapresentação onde não poderia faltar, como não faltou, comovente homenagem a um Salvador Allende que se ‘rematerializou’ e discursou – a um público em delírio – num púlpito ao lado do palco.

Não sei até hoje se Allende estava ali representado por um ator ou se aquela presença era uma projeção holográfica de imagem, sons, gestos e palavras do presidente trucidado no 11 de setembro de 73.

Não importa. Sei que estava lá, arrepiado de emoção e feliz por estar ao lado de minha Branca, como chamo a Professora Madriana, minha amada mais amada, ‘pelo amor predestinada’ a ser minha eterna namorada.

Foi uma perfeição, encantamento que se quebrou por um momento nos acordes de uma música cuja execução passou a marcar o erguimento de um enorme boneco em forma do assassino de Allende.

O Pinocheco, se podemos chamar assim, inchou feito bola de sopro, suponho que com o auxílio luxuoso de uma bomba de gás hélio. Ficou de pé, por inteiro, à mostra, sob vaia intensa da multidão.

Mas, ato contínuo, a vaia foi diminuindo. Diminuindo enquanto Quilapayún aumentava o som e o tom de outra canção, mais vibrante e empolgante que a anterior, a do enchimento. Essa fez o boneco murchar.

Não tinha como o Pinocheco não murchar. O fascismo ou qualquer de seus símbolos treme de medo e perde o gás quando vê e ouve o povo unido cantando ‘El pueblo unido jamás será vencido’.

O povo, unido, jamais será vencido. O Chile voltou a provar e a ensinar essa verdade mais uma vez, ontem.

É BOM ESCLARECER
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