Acontece uma coisa engraçada comigo. Sou desconhecido na cidade do município onde nasci: Areia, Paraíba.
À guisa de explicação para esse fato, devo dizer, em primeiro lugar, que, quando menino, eu só ia à cidade uma vez por semana, levado pelo meu pai, quando ia fazer a feira, aos sábados. Não se tratava de uma simples feira doméstica, porque havia uma bodega em nossa casa, que precisava ser abastecida, semanalmente, de secos e molhados. Mas essa é uma outra história…
O Sítio onde nasci se chamava Fechado de Cima, já que havia o Fechado de Baixo. No Sítio, morei até aos treze anos, quando saí para estudar, em 1966, no Colégio Agrícola Vidal de Negreiros, mais conhecido como CAVN, que fica na área rural do município de Bananeiras/PB. Assim, continuei morando na zona rural, onde permaneci por mais cinco anos, até 1970, quando deixei o CAVN para ir estudar em João Pessoa.
Nessas minhas idas à feira de Areia, eu ficava o tempo todo acompanhando o meu genitor, enquanto ele resolvia os seus problemas. Assim, não ia à casa de seu ninguém, nem à de meus familiares. A gente almoçava nos quiosques da cidade, depois, por volta de 3 ou 4 horas da tarde, a gente retornava para casa. Sendo assim, não pude estabelecer algum tipo de amizade, conhecer pessoas, enfim, me enturmar com as pessoas da cidade.
Depois que fui estudar em Bananeiras, o meu convívio com a cidade de Areia foi ficando mais remoto, até por que só ia para casa quatro vezes por ano: Carnaval, Semana Santa, férias de meio e final de ano. Nessas folgas, portanto, eu preferia ficar no Sítio a ir à cidade. Quando o fazia, era de forma esporádica.
No CAVN, conforme frisei, passei cinco anos. Eu estudava em regime de internato, mas éramos liberados para ir à cidade três vezes por semana: nas quartas-feiras à noite, sábados e domingos, sem falar nos feriados. É bom frisar, a bem da verdade, que tínhamos duas opções em termos de cidades, para onde íamos a lazer: Bananeiras e Solânea, pois elas ficavam equidistantes do CAVN.
Minha convivência com essas duas cidades fez com que eu me distanciasse cada vez mais da minha cidade natal. E depois que fui morar e estudar em João Pessoa, onde passei mais sete anos, a falta de contato com Areia ficou ainda maior. Em julho de 1978, terminei o curso de Engenharia Civil. Nesse mesmo ano, fui aprovado no concurso do então DNER, e fui trabalhar em Floresta, Pernambuco, onde morei durante 36 anos!
Pois bem, morando e trabalhando em Floresta, quando ia visitar os meus genitores no Sítio Fechado costumava passar por Areia, já que ela fazia parte do meu itinerário. E nessas minhas passadas por Areia acontecia o inusitado. Andando pelas ruas ou adentrando um restaurante ou coisa que o valha, não era reconhecido por ninguém. Muito pelo contrário.
As pessoas ficavam olhando para mim meio desconfiadas, como se eu fosse um forasteiro qualquer. Eu, por minha vez, também não encontrava nenhum conhecido, dado o tempo de ausência da minha cidade natal. Era, portanto, um desconhecido em minha própria Terra! E isso não deixava de ser um fato um tanto quanto surreal.
Outro fato curioso, que de certa forma me causava desconforto, era quando muitas pessoas, para as quais eu dizia ser de Areia, me perguntavam se eu conhecia fulano ou beltrano. Claro que, via de regra, não conhecia as pessoas em questão, senão alguém que fosse da minha família. Portanto, eu ficava desconversando, e até provar que tomada não era focinho de porco, isso durava algum tempo.
É essa, portanto, a saga de quem, desde há muito, é um desconhecido em sua própria terra.
Por fim, quero crer que esse estado de coisas não acontece apenas comigo; nesse caso, não sou uma exceção à regra.
Só para exemplificar, em Floresta, onde morei durante três décadas e meia, eu sou mais conhecido do que muitos florestanos natos, que trabalham e moram fora há muitos e muitos anos.
• Aderson Machado é Engenheiro Civil e Bacharel em Letras
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