Unha e carne desde a quinta série do fundamental em Bananeiras, não se viam nem se sabiam há mais de 20 anos. Na verdade, com pandemia e insensatez se espalhando, um temia receber notícia do outro.
“Será que José não há mais?”, perguntava-se Antônio sobre o paradeiro do amigo, de quem se separara quando ingressaram no ensino médio. Nunca mais na mesma escola, nunca mais na mesma cidade.
Os pais de Antônio, filho único, resolveram morar no Recife. Compraram apartamento na Jaqueira e botaram o menino para estudar em “colégio bom” e se preparar melhor para o vestibular de Medicina.
Os pais de José levaram a prole – o menino e três meninas – para se amontoarem numa casa de dois quartos em João Pessoa, na habitação possível mercê do prestígio de deputado amigo na Cohab do Estado.
Os amigos reataram contato há pouco, coisa de um mês. Doutor Antônio viu o Sargento José em foto de tropa formada, batendo continência para o governador. Curtiu e registrou a sua alegria pelo reencontro.
José, de perfil aberto, reagiu muito satisfeito. Passaram a se seguir de imediato em todas as redes. Trocaram números de telefone e inúmeras mensagens que atualizavam um sobre o outro e o outro sobre o um.
Antônio estava para assumir de médico no Hospital Universidade da Universidade Federal de Pernambuco. Promovido na Polícia, José subiria de patente. Seria subtenente. “Por merecimento”, deixou bem claro.
Semana passada, Antônio postou no Face comentário elogioso sobre pesquisa científica que atestava a ineficácia da cloroquina no tratamento da Covid-19. José questionou, em privado: “Virou comunista, foi?”.
“Sou médico, amigo, sei do que estou falando”, reagiu Antônio, inaugurando uma arenga que pôs fim à interação. E a ninguém é dado saber quem bloqueou quem. Mas uma coisa é certa: amizade não há mais.
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