MENINICES, por José Mário Espínola

(Imagem meramente ilustrativa copiada do blog Como Educar seus Filhos)

Menino é e sempre será menino, não importa a geração, raça ou espécie. As meninas são, realmente, diferentes. São mais graciosas, delicadas, suas brincadeiras são mais suaves. Porém a sua meninice é mais curta que a dos meninos. Então elas deixam de ser meninas e, como disseram Luiz Gonzaga e Zé Dantas no Xote da Menina, “… ela só quer, só pensa em namorar!”. Questão de hormônios, não se pode mudar.

Meninos, não, a meninice é geralmente esticada. Permanecem meninos até os 14 ou mesmo 15 anos. E mesmo sofrendo a ação dos hormônios, não deixam de brincar, de fazer meninices. De bulir com os colegas e amigos. De aperrear as irmãs, a empregada, os cachorros e os gatos da casa.

Brincadeira de meninas no recreio do colégio é dançar, cantar, mostrar fotografias, comentar diários “secretos”, brincar de amarelinha. Já as brincadeiras dos meninos é jogar carrapicho nas costas dos colegas, preparar cama-de-gato para derrubá-los, aperrear uns aos outros e brincar de garrafão, que só termina em briga.

Saída de colégio das meninas é pleno de alegria, risadas. Já os meninos aproveitam a saída para guerra de caroço de oiti nas cabeças dos outros.
Todo menino é buliçoso e inquieto. Faz parte da meninice. Como dizia Papai, “meninice rima com cretinice”. Antigamente, não existia tanto diagnóstico de TDH, como hoje, que entope as crianças de remédio! Só quando o menino era quieto é que a mãe ficava preocupada e levava para o pediatra.

***

Zequinha estudava pela manhã e depois do almoço fazia o dever-de-casa, que eram as tarefas escolares. Nesse tempo (acho que até hoje), meninos não sentiam a necessidade da soneca após o almoço. Mas a mãe sentia. E foi o que aconteceu.

Naquela tarde, sono não, mas a preguiça bateu mais do que o normal. Porém só pra fazer as tarefas, pois Zequinha estava mesmo era doido pra ir brincar com o seu melhor amigo e vizinho. Terminado o almoço, a mãe chamou-o de volta à mesa da sala de jantar.

Ela viu que ele tinha que fazer uma cópia de português, problemas de matemática e ler a lição de história. Deu a orientação necessária e subiu para tirar uma sesta. Não sem antes recomendar: “Concentre-se! Não se levante sem antes ter terminado todas as tarefas”.

Aos 12 anos, Zequinha era irrequieto, buliçoso e curioso. Muito curioso, aliás. Meninos e gatos são as espécies mais curiosas que eu conheço. Eu acho que um foi o outro, em outra encarnação, cada um voltando com a respectiva curiosidade.

Olhando pro mundo, Zequinha mordeu a cabeça do lápis e copiou o primeiro parágrafo. Viu que os pombos desceram para comer o xerém das galinhas, no quintal, e levantou-se para espantá-los.

Da cozinha, ocupada com os pratos, Tereza disse: “Menino, vai fazer teu dever!”.

De volta para a mesa, Zequinha copiou mais um parágrafo. De novo a cabeça no mundo, longe dali, doido pra ir brincar. Copiou mais outro parágrafo. De onde estava escrevendo dava para ver todas as dependências do quintal. De repente, viu Tereza sair do quarto dela e entrar no banheiro, segurando a toalha. Ficou pensando. Pensou mais ainda. A curiosidade despertou.

De repente, teve um surto de meninice! Olhou o quintal: a cisterna dava acesso ao muro alto. Do muro dava para subir ao telhado da casa do cachorro. Desta para o telhado da garagem era um pulo. E o telhado da garagem era contíguo ao telhado do banheiro de Tereza.

“Por que não?!”, pensou. E partiu pra fazer o que não devia.

Subiu até o quarto da mãe e conferiu que ela estava dormindo. Desceu, e já no quintal, subiu até o telhado da garagem. Foi andando devagar, até chegar ao telhado do banheiro.

Foi aí que o imponderável aconteceu, para quem faz o que não deve. Quando começou a procurar uma brecha entre as telhas, caibros podres, o telhado cedeu e Zequinha caiu. Porém ficou enganchado entre as ripas.

“Menino, danado! Desça já daí, seu cabra-de-peia!” gritou Tereza lá de baixo.

Todo arranhado, a alma mais do que as pernas, tremendo de medo, Zequinha fez o caminho de volta até a sala de jantar, onde reiniciou os estudos, agora concentradamente, apesar das dores. Porém o medo da mãe era maior do que qualquer dor.

E fez por merecer: Ô surra!

  • ♦ José Mário Espínola
  • • Ex-menino
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Uma resposta para MENINICES, por José Mário Espínola

  1. Paulo montenegro escreveu:

    Telas de menino. Quem não as fez? Aquele que diz que não fez hoje ou tem um problema mental ou é um adulto frustrado. Peraltas, fomos todos.