Na primeira metade dos anos 1970, veio morar numa casa vizinha à do meu pai, Firmino Victor, no Sítio Fechado, município de Areia/PB, um senhor conhecido pela alcunha de Seu Mergulhão. Ele, à época, já estava na casa dos 70 anos, porém parecia esconder essa idade, haja vista esboçar uma boa saúde, mesmo em se tratando de um trabalhador da roça, acostumado aos trabalhos duros, todos os dias, e o dia todo, quer na chuva ou sob um sol inclemente, de acordo com as condições meteorológicas.
Seu Mergulhão era de estatura mediana, tez clara, porém queimada pelo sol nosso de cada dia. Tinha barba e cabelos tingidos pela tinta branca dos anos. Era um tipo conversador, porque comunicativo, bem-humorado, respeitador e honrado. Gostava de fazer amizades com todas as pessoas do meio no qual vivia e convivia. Com efeito, costumava ir à minha casa, mormente nos finais de semana, para conversar com o meu pai e tomar umas doses de aguardente, já que o meu genitor tinha uma bodega, onde o pessoal das redondezas fazia compras, batia um papo, trocava ideias, tudo isso regado a uma dose de água que passarinho não bebe…
Pois bem, devo dizer que nunca soube o motivo desse seu apelido, Mergulhão, e muito menos o seu nome verdadeiro. Meu pai talvez soubesse dessas informações, no entanto não tive a curiosidade de perguntar-lhe se realmente ele sabia algo a respeito da identidade de Seu Mergulhão. Na verdade, muitas pessoas, que conheci pelo apelido, não tive o conhecimento de seus nomes verdadeiros, isso incluindo pessoas de minha própria família! Pelo exposto, a arte de indagar, quando garoto, não era o meu forte. Assim, tudo indicava que nunca poderia enveredar pelo ramo da filosofia…
Voltemos a Seu Mergulhão.
Apesar de seus 70 anos, Seu Mergulhão era novo enquanto vizinho nosso. Não me lembro de onde ele viera, com toda a sua prole, para morar e trabalhar na propriedade vizinha à nossa. Só sei que Seu Mergulhão tinha um bom preparo físico, e consequentemente uma boa saúde. E não era sem razão, porquanto um fato inusitado lhe era peculiar: nunca havia andado de automóvel, caminhão ou ônibus, mesmo se necessitasse de fazer um longo percurso. Perguntado a respeito, ele dizia que não o fazia porque tinha medo de morrer em função de um provável capotamento. Por conseguinte, achava que o transporte motorizado não era seguro, para não dizer que era muito perigoso. Afinal, ele não se sentia confortável com as notícias sobre acidentes envolvendo muitos tipos de transportes, principalmente caminhões e ônibus.
Mas o mais interessante era que ele também evitava andar em alimárias, porque poderia levar uma queda, o que poderia lhe ser fatal. Assim, para ele, o mais seguro mesmo era andar a pé. Pois bem, Seu Mergulhão alimentava essa superstição, vamos colocar assim, e não adiantava ninguém motivá-lo a andar de carro, qualquer que fosse. Era um tipo cabeça-dura! Além do mais, ele ainda dizia: “Se já estou com mais de 70 anos e nunca andei de carro, não é agora que vou mudar de opinião!”.
Ao fim e ao cabo, o nosso velho Mergulhão continuava irredutível a esse respeito. Trabalhava a semana inteira na roça, e todos os sábados lá ia ele, a pé, para a feira na cidade sede do município, Areia/PB. E foi justamente numa dessas suas caminhadas para a cidade que o pior lhe aconteceu: ia subindo uma ladeira, já perto da cidade, quando um caminhão, conduzindo feirantes, faltou freio, se descontrolou, capotou e… Atropelou Seu Mergulhão, que teve morte instantânea!
Vai entender, hein!
- • Aderson Machado é Engenheiro Civil e Bacharel em Letras
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