O fenômeno dos dias perdidos certamente já existia antes da pandemia. Saia-se de casa sem conseguir tomar café sabe-se lá porque, chegava-se no trabalho e simplesmente nada se resolvia nos dois turnos inteiros.
Para ver se algo dava certo no dia, ia-se ao cinema para finalmente assistir aquele filme tão comentado pela crítica e, quando pensava-se que não, a sessão era cancelada sem maiores explicações.
Pois bem. Agora os dias perdidos se passam integralmente dentro de casa. A manhã se gasta na expectativa da internet segurar para a aula on line da menina. Quando você vê, chegou a correria do almoço. O feijão queima, o arroz fica sem sal, a mistura estragou de tanto requentado.
À tarde você faz o café e se senta para trabalhar. Nesse exato momento, a campainha toca, é aquela feira que você conseguiu terceirizar para evitar o mercado. Lá se vão quarenta minutos de álcool em gel e água sanitária, produto por produto, até que você volte ao computador.
Em frente à tela bate aquele soninho da tarde. Lutando contra ele, você se lembra da arma imbatível que garantirá meia tarde inteira de trabalho ultra-produtivo: o café! Qual não é a decepção ao provar que ele está frio como uma sobremesa…
Indefeso, você resolve cochilar ali mesmo, sentado, somente quinze minutos, até se recuperar. Acorda uma hora inteira depois, e adivinhem? Já é hora de preparar o jantar.
Você já havia negado o lanche à menina três vezes tentando se concentrar, e agora a refeição torna-se inadiável.
Após a lavagem dos pratos, você ainda não se dá por vencido.
Tenta assistir um filme, que evidentemente não presta, desiste pela metade e finalmente vai dormir sonhando com um amanhã que não seja outro desses dias perdidos.
- • Ana Lia Almeida é Professora e Escritora
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