Escrevi o texto a seguir em 27 de outubro de 2018, véspera da eleição em segundo turno para Presidente da República. Com medo de processo ou prisão por ‘crime eleitoral’, não publiquei à época o que me parece hoje um apelo ainda válido, embora desesperado, talvez patético. Mandei em privado a familiares e amigos mais próximos, apenas. Em complemento, compartilhei links de matérias e vídeos que respaldavam informações contidas na mensagem. Alguns leram e reagiram, aí incluídos eleitores declarados do candidato ao final vitorioso. A esses dirigi o meu pedido final: em caso de morte, mantenham distância pessoal e social do meu velório.
Aos familiares, amigas e amigos
Neste domingo, 28 de outubro do ano da graça de 2018, nossa opção na urna é muito mais do que um voto. Na hora de digitar o 13 ou o 17, faremos escolhas muito claras e objetivas do que queremos para o futuro do nosso país e de nós mesmos.
Escolheremos entre o ódio e o amor, entre a paz e a guerra, entre a intolerância e a compreensão, entre a fraternidade e a discriminação, entre a verdade e a mentira, entre a competência já testada na gestão pública e a incapacidade publicamente assumida.
Mesmo assim, diante do que poderia ser uma escolha fácil, muitos dizem que vão votar no candidato do ódio e das ameaças de matar, prender e arrebentar o diferente ou o divergente.
Dizem que vão votar porque “ele é honesto”. Mas aí eu pergunto: desde quando existe honestidade em um cidadão que confessa publicamente sonegação de impostos, recebe auxílio-moradia mesmo tendo casa própria onde ‘trabalha’ (“é pra comer gente”, disse ele), omite até da própria Justiça Eleitoral quase R$ 3 milhões em imóveis, que não explica quase 500% de aumento de patrimônio dele e dos filhos, que paga caseiros em Angra dos Reis com dinheiro público? Isso é ser honesto?
E o que dizer da ‘doação’ de R$ 200 mil que recebeu da JBS, aquela mesma empresa dos irmãos Batista que doaram malas de dinheiro a Temer, Aécio e a dezenas de outros pilantras de todos os partidos que continuam soltos por aí, entre os quais Onyx Lorenzoni, coordenador político do candidato defensor da tortura e que tem como herói o sanguinário Brilhante Ustra, coronel que se notabilizou por levar crianças às masmorras da ditadura para verem os pais desses meninos e meninas sendo supliciados e suas mães estupradas?
Diante desses fatos, todos provados nos links que forneço depois do ponto final, poderia indagar ainda aos eleitores dele: onde está a honestidade em tudo isso? E, particularmente aos católicos e evangélicos que usam o mesmo argumento para justificar tal voto, se eles acreditam mesmo que estão votando num cristão, numa “pessoa de bem”, numa “pessoa de Deus”.
“Ah, mas ele é contra o PT e o PT é uma quadrilha”, dirão alguns, repetindo bordões que lhes foram incutidos pela mais insidiosa, sistemática e bem-sucedida campanha de mídia de todos os tempos contra um partido e suas lideranças. Uma campanha que fez parcela considerável do povo esquecer e até negar o quanto essas mesmas pessoas progrediram nos governos do PT, o partido que colocou o Brasil entre as sete maiores economias do mundo, que tirou 40 milhões de brasileiros da miséria e o país do Mapa da Fome e, entre muitos outros feitos positivos reconhecidos em todo o mundo, consolidou, ampliou a autonomia e aparelhou órgãos de defesa do Estado – Polícia Federal e Ministério Público Federal, principalmente – para que pudessem combater a corrupção como vêm combatendo através de operações tipo Lava Jato, apesar da forma seletiva e profundamente odiosa que o fazem contra o mesmo PT.
Não, definitivamente, o problema não é o PT. Só posso concluir que essas pessoas votam no 17 porque estão motivadas pelo mesmo ódio que o seu candidato nutre contra os mais pobres que quer esterilizar em massa para não dar despesa aos cofres públicos; contra os negros, que, já disse, jamais serão aceitos nas relações afetivas com familiares seus; contra os gays, que agrediu, humilhou e escrachou a vida toda; contra até mesmo mulheres, algumas das quais já admitiu ter ameaçado ou espancado e as têm como seres humanos de segunda categoria, merecedoras, inclusive, de ganharem menos que os homens, mesmo quando exerçam cargos semelhantes e cumpram tarefas iguais; contra os trabalhadores, enfim, dos quais quer tirar ainda mais direitos para aumentar os lucros dos ricos que ostensivamente quer beneficiar ainda mais.
Por tudo isso e muito mais, confesso um medo extremo de ver o meu país elegendo esse homem Presidente da República. Medo dele e dos que se identificam com ele. Medo de ver a nossa democracia e sossego destruídos pela violência que seus seguidores já adotaram como modo de tratar e até assassinar quem não pensa nem vota com eles. Afinal, se ele cumprir um terço do promete já será suficiente para mergulhar o país numa guerra civil capaz de matar “pelo menos uns 30 mil”, desejo que o candidato já manifestou em entrevista.
Acredito na virada, na vitória do bem, do amor, da paz, da harmonia e do trabalho que a gente vê nas palavras, nos gestos e na história pessoal e política do outro candidato. Mas, se ele não vencer, saibam meus queridos familiares e amigos, vou buscar forças para lutar contra tudo o que representa o vencedor, se vencer o candidato do ódio. Porque muitos também lutarão contra a opressão, contra a ditadura, contra as perseguições, contra as arbitrariedades, contra a entrega das riquezas do Brasil a preço de banana (como promete Paulo Guedes, o banqueiro que é guru econômico e Posto Ipiranga do fascista).
Muita gente sabe como terminam essas lutas, quando desiguais as forças em guerra. Quando não presos ou exilados, os lutadores do lado mais fraco acabam mortos, depois de torturados. Pois bem, quem contribuir com seu voto para a minha prisão, exílio ou morte, seja parente ou não, a esses suplico desde já e peço até de joelhos o favor de não comparecer ao meu velório. Se meu corpo for entregue para sepultamento, claro.
Imploro, com toda sinceridade: se sua opção for por essa monstruosidade, por essa calamidade ambulante, agradeço desde já a ausência no meu momento final. Fique longe, por favor, inclusive para não constranger aqueles que realmente me querem bem. Em vez disso, faça o seguinte: reze por mim e, quem sabe, por sua própria consciência.
Nos links abaixo, fontes de informações contidas no texto
– O “honesto” que sonega “tudo o que for possível”
– Confirmando que paga caseiro em Angra com verba da Câmara
– A inexplicável multiplicação dos bens do candidato “honesto”
– R$ 2,6 milhões em imóveis não declarados à Justiça Eleitoral
– Defendendo a tortura e matar “pelo menos uns 30 mil”
– Defendendo que mulher ganhe menos do que homem
– Sobre o Coronel Ustra, torturador e herói de Bolsonaro
– Investigações sobre Paulo Guedes, o ‘Posto Ipiranga’
– Medidas para beneficiar os próprios investimentos
– Coordenador de campanha no Caixa 2 da JBS
– A mesma JBS doou R$ 200 mil a Bolsonaro
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