Hoje é dia de Vicente 90. Meu pai chegaria a essa idade exatamente neste 29 de abril do ano da graça de 2020 se Deus não houvesse lhe chamado antes. Sempre foi minha maior referência na música e na vida, um professor na essência da palavra.
Na minha memória, um momento eterno nas experiências no mundo dos tons, notas, compassos, ritmos, harmonia e sons, tudo a partir do dom que Deus me deu: ouvido pra assimilar letra e melodia, dentro do tempo correto e sem desafinar!
E esse dom foi mais que incentivado pelo professor, que sempre quis que eu fosse aprender de forma correta, via pautas de notas e arranjos. Confesso que o cotidiano de lutas e até uma boa dose de preguiça me mantiveram distante do seu desejo e acabei autodidata, usando o ouvido musical que Deus me deu.
Mas o episódio a que me refiro aconteceu em Bananeiras, no Brejo Paraibano, do meio pro fim da década de 1960. Eu fazia parte de uma banda de rock (iê-iê-iê na época), Os Piratas, que animava uma festa de vaquejada no Bananeiras Clube.
Vaqueiro de tudo quanto é canto dançando ao som da gente (eu no vocal, Gildinho na guitarra solo, Assis na guitarra base e vocal, Walter no contrabaixo e Edinho na bateria).
A principal música do repertório seria tocada no auge do evento, tal e qual valsa em festa de aniversário ou formatura: ‘Disparada’, clássico de Geraldo Vandré e Théo de Barros.
A belíssima canção vencera o Festival International da Canção de 1966 (promovido pela TV Record), interpretada por Jair Rodrigues, mas dividindo o primeiro lugar com ‘A Banda’, de Chico Buarque.
Pra lá das 11 e meia da noite, salão lotado por dezenas de casais agarradinhos e “Prepare seu coração/Pras coisas que eu vou contar/Eu venho lá do sertão”…
A banda tocando em ritmo lento, como a canção pedia. De repente, o Professor Vicente de Paula Nóbrega sobe ao palco, segura a baqueta maior com que nosso baterista marcava o ritmo, apropria-se do bumbo lateral da bateria e faz a marcação do compasso. Coisa de quem é do ramo.
Do meu canto, ao microfone central, contemplei a cena, lágrimas nos olhos e ouvindo os aplausos que ecoavam em todo o ambiente. Casais parados no dancing a ovacionar o professor.
Jamais vou esquecer aquele lindo momento protagonizado por meu principal mestre – verdadeiro PhD – na escola dessa vida!
A você, Papai, meu imenso agradecimento, eternas admiração e saudade!
- • Robson Nóbrega é jornalista e escritor
O Blog do Rubão publica anúncios Google, mas não controla esses anúncios nem esses anúncios controlam o Blog do Rubão.
3 Respostas para PhD NA ESCOLA DA VIDA, por Robson Nóbrega
Rubão fiz um entrevista com seu pai de página inteira para o jornal A União e nosso encontro foi naquela escola de música que ele administrava próximo a Escola Ténica. O grande Vicente era tudo isso que você afirma e muito mais. Uma pessoa extremamente humano.
Parabens Robson pela merecida homenagem, Vicente era ícone em tudo que fazia, digo isso porque tive a felicidade de ser seu aluno no CAVN em Bananeiras, o que me honra muito. No ramo da agropecuária ainda sou seguidor do grande mestre. Abraço
que homenagem linda mano! que estória linda essa…e eu adoro essa música, bem da época da minha infância, da juventude dos irmãos mais velhos.
parabéns duplamente! parabéns pelo seu aniversário!