O GOLPE DO CARTÃO CLONADO por Rubens Nóbrega

(Imagem meramente ilustrativa. Do 24horasnews.com.br)

Não há limites para a engenhosidade dos ladrões que por telefone conseguem ludibriar e surrupiar incautos e desavisados, a exemplo do que aconteceu no caso narrado adiante.

Trata-se do Golpe do Cartão Clonado, crime que pode até ser velho conhecido das autoridades policiais e de muita gente esperta, mas acredito que parcela considerável da população ainda não tomou conhecimento desse que me disseram e que aqui repasso na expectativa de fazer um alerta com alguma utilidade pública.

Para tanto, criei o diálogo reproduzido abaixo, com razoável fidelidade a uma conversa telefônica da vida real entre uma malfeitora e uma cidadã moradora de João Pessoa. Mulher, viúva, sessenta e poucos anos, lúcida, orientada, letrada. É tudo que devo e posso dizer da vítima.

Vamos chamá-la de Lorena. Pois bem, por muito pouco, ela não teve a pensão que o marido lhe deixou e uma poupança completamente subtraídas. Foi por um triz, também, que o seu cartão de crédito não foi estourado por bandidos que entraram em contato, usando da malandragem que agora passo a contar.

***

– Boa tarde. Aqui é do Sistema de Proteção e Segurança Bancária do Banco Central. A senhora é cliente do Banco do Brasil?

– Sou, sou sim. Por que?

– Bem, estamos ligando para a senhora porque verificamos aqui que alguém fez uma compra de valor elevado no seu cartão e tudo indica que se trata de uma clonagem.

– Valha-me, Deus! De quanto foi, hem?

– Antes de mais nada, minha senhora, precisamos checar urgentemente os seus dados. Por questão de segurança, tanto para a senhora como para o Banco. Por favor, me diga seu nome completo.

– Lorena de Orleans e Bragança.

– Sua data de nascimento, por favor.

– Vinte e seis de abril de mil, novecentos e cinquenta e cinco.

– Me diga seu endereço, por gentileza.

– Rua dos Anzóis, 225, Bessa-Rio, João Pessoa, Paraíba.

– CPF?

– 000.111.222-33

– Senha?

– Como assim? Precisa da senha?

– Precisa, sim, minha senhora. Pois só assim poderemos bloquear imediatamente o seu cartão de um jeito que a pessoa que clonou não vai poder mais usar de forma alguma. Fique tranquila. É tudo para a sua segurança.

– Você é de onde mesmo?

– Do Banco Central, minha senhora. Do Serviço de Proteção e Segurança Bancária. Meu nome é Sílvia Messias Abravanel. Meu número de matrícula é 1716469. Sou funcionária da empresa que ganhou a licitação do novo governo para prestar esse serviço de proteger pessoas de bem, como a senhora, que têm conta em banco.

– Tá, tá certo. Peraí…

– Olhe, não se preocupe. Só para a senhora ficar mais tranquila… Veja bem, após o bloqueio, a gente emite um novo cartão e manda deixar na sua residência dentro de 24 horas. Aí, com esse novo cartão, a senhora vai até a sua agência ou a um caixa eletrônico e cria uma nova senha. Compreendeu?

– Ah, bom. Assim tá certo. Anote aí, então… 121314.

– Precisamos das letras também, Dona Lorena.

– Lá vai… PB-NE-BR.

– Agora, minha senhora, mais uma coisa muito importante. Talvez a mais importante para a sua proteção. Assim que o nosso mensageiro lhe entregar o cartão novo, a senhora entrega o velho pra ele.

– Oxe! Pra que vocês vão querer o cartão velho, que não serve mais?

– A gente precisa do cartão bloqueado, minha senhora, para abrir uma investigação, descobrir e prender quem fez isso com a senhora e provavelmente com muitas outras pessoas.

– Ok. Entendi. Muito bom. Pode mandar pegar.

A senhora tem alguma dúvida? Posso lhe ajudar em mais alguma coisa?

– Não, não. Só agradecer e pedir que por Jesus, Nosso Senhor, vocês providenciem logo o bloqueio desse meu cartão.

– Fique sossegada que vamos resolver isso dentro de poucos minutos. Nós é que agradecemos a sua colaboração. 

***

Após desligar, Dona Lorena se ligou. Começou a desconfiar que acabara de cometer uma estupidez. E teve certeza da tremenda besteira que fizera quando seu celular tocou novamente.

***

– Alô!

– Dona Lorena, sou eu de novo… Liguei pra senhora há pouco. É do Banco Central. É o seguinte, senhora. Nós verificamos aqui que o problema de clonagem pode estar acontecendo com outro cartão da senhora. Por acaso a senhora tem conta também na Caixa Econômica?

***

Ela tinha. Quer dizer, tem. Uma conta de poupança. Mas, ao atender àquela chamada, não esticou a conversa. Disse que estava saindo direto para uma delegacia de Polícia, onde registraria um boletim de ocorrência e deixaria o celular à disposição para rastrear aquelas ligações.

Disse também que já se comunicara com a sua agência pedindo o bloqueio urgente do cartão ‘clonado’. Na verdade, ligar para o seu gerente foi o que ela fez imediatamente após o palavrão com que se despediu da moça do ‘Banco Central’.

Deu tempo, deu certo. Foi salva porque a ganância foi maior que a esperteza dos golpistas.

Faça assim, não faça assado

(Recomendação expressa de quem trabalha honestamente no ramo bancário)

Instruções de segurança básica que todos devem seguir:

  • • Jamais forneça a sua senha de banco, muito menos por telefone
  • • Sua senha e seu cartão são pessoais e intransferíveis
  • • Seu banco conhece você e sabe seus dados
  • • Qualquer dúvida quanto à idoneidade do contato, desligue e ligue imediatamente para a Central de Atendimento do seu banco
  • • Ligue para o número de telefone do banco que vem impresso em seu cartão
É BOM ESCLARECER
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