Não há limites para a engenhosidade dos ladrões que por telefone conseguem ludibriar e surrupiar incautos e desavisados, a exemplo do que aconteceu no caso narrado adiante.
Trata-se do Golpe do Cartão Clonado, crime que pode até ser velho conhecido das autoridades policiais e de muita gente esperta, mas acredito que parcela considerável da população ainda não tomou conhecimento desse que me disseram e que aqui repasso na expectativa de fazer um alerta com alguma utilidade pública.
Para tanto, criei o diálogo reproduzido abaixo, com razoável fidelidade a uma conversa telefônica da vida real entre uma malfeitora e uma cidadã moradora de João Pessoa. Mulher, viúva, sessenta e poucos anos, lúcida, orientada, letrada. É tudo que devo e posso dizer da vítima.
Vamos chamá-la de Lorena. Pois bem, por muito pouco, ela não teve a pensão que o marido lhe deixou e uma poupança completamente subtraídas. Foi por um triz, também, que o seu cartão de crédito não foi estourado por bandidos que entraram em contato, usando da malandragem que agora passo a contar.
***
– Boa tarde. Aqui é do Sistema de Proteção e Segurança Bancária do Banco Central. A senhora é cliente do Banco do Brasil?
– Sou, sou sim. Por que?
– Bem, estamos ligando para a senhora porque verificamos aqui que alguém fez uma compra de valor elevado no seu cartão e tudo indica que se trata de uma clonagem.
– Valha-me, Deus! De quanto foi, hem?
– Antes de mais nada, minha senhora, precisamos checar urgentemente os seus dados. Por questão de segurança, tanto para a senhora como para o Banco. Por favor, me diga seu nome completo.
– Lorena de Orleans e Bragança.
– Sua data de nascimento, por favor.
– Vinte e seis de abril de mil, novecentos e cinquenta e cinco.
– Me diga seu endereço, por gentileza.
– Rua dos Anzóis, 225, Bessa-Rio, João Pessoa, Paraíba.
– CPF?
– 000.111.222-33
– Senha?
– Como assim? Precisa da senha?
– Precisa, sim, minha senhora. Pois só assim poderemos bloquear imediatamente o seu cartão de um jeito que a pessoa que clonou não vai poder mais usar de forma alguma. Fique tranquila. É tudo para a sua segurança.
– Você é de onde mesmo?
– Do Banco Central, minha senhora. Do Serviço de Proteção e Segurança Bancária. Meu nome é Sílvia Messias Abravanel. Meu número de matrícula é 1716469. Sou funcionária da empresa que ganhou a licitação do novo governo para prestar esse serviço de proteger pessoas de bem, como a senhora, que têm conta em banco.
– Tá, tá certo. Peraí…
– Olhe, não se preocupe. Só para a senhora ficar mais tranquila… Veja bem, após o bloqueio, a gente emite um novo cartão e manda deixar na sua residência dentro de 24 horas. Aí, com esse novo cartão, a senhora vai até a sua agência ou a um caixa eletrônico e cria uma nova senha. Compreendeu?
– Ah, bom. Assim tá certo. Anote aí, então… 121314.
– Precisamos das letras também, Dona Lorena.
– Lá vai… PB-NE-BR.
– Agora, minha senhora, mais uma coisa muito importante. Talvez a mais importante para a sua proteção. Assim que o nosso mensageiro lhe entregar o cartão novo, a senhora entrega o velho pra ele.
– Oxe! Pra que vocês vão querer o cartão velho, que não serve mais?
– A gente precisa do cartão bloqueado, minha senhora, para abrir uma investigação, descobrir e prender quem fez isso com a senhora e provavelmente com muitas outras pessoas.
– Ok. Entendi. Muito bom. Pode mandar pegar.
– A senhora tem alguma dúvida? Posso lhe ajudar em mais alguma coisa?
– Não, não. Só agradecer e pedir que por Jesus, Nosso Senhor, vocês providenciem logo o bloqueio desse meu cartão.
– Fique sossegada que vamos resolver isso dentro de poucos minutos. Nós é que agradecemos a sua colaboração.
***
Após desligar, Dona Lorena se ligou. Começou a desconfiar que acabara de cometer uma estupidez. E teve certeza da tremenda besteira que fizera quando seu celular tocou novamente.
***
– Alô!
– Dona Lorena, sou eu de novo… Liguei pra senhora há pouco. É do Banco Central. É o seguinte, senhora. Nós verificamos aqui que o problema de clonagem pode estar acontecendo com outro cartão da senhora. Por acaso a senhora tem conta também na Caixa Econômica?
***
Ela tinha. Quer dizer, tem. Uma conta de poupança. Mas, ao atender àquela chamada, não esticou a conversa. Disse que estava saindo direto para uma delegacia de Polícia, onde registraria um boletim de ocorrência e deixaria o celular à disposição para rastrear aquelas ligações.
Disse também que já se comunicara com a sua agência pedindo o bloqueio urgente do cartão ‘clonado’. Na verdade, ligar para o seu gerente foi o que ela fez imediatamente após o palavrão com que se despediu da moça do ‘Banco Central’.
Deu tempo, deu certo. Foi salva porque a ganância foi maior que a esperteza dos golpistas.
Faça assim, não faça assado
(Recomendação expressa de quem trabalha honestamente no ramo bancário)
Instruções de segurança básica que todos devem seguir:
- • Jamais forneça a sua senha de banco, muito menos por telefone
- • Sua senha e seu cartão são pessoais e intransferíveis
- • Seu banco conhece você e sabe seus dados
- • Qualquer dúvida quanto à idoneidade do contato, desligue e ligue imediatamente para a Central de Atendimento do seu banco
- • Ligue para o número de telefone do banco que vem impresso em seu cartão
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