Na abalizada opinião do Procurador Regional da República, também Procurador Federal Adjunto dos Direitos do Cidadão, Marlon Weichert, a situação atual por que passa o país põe-no “na antessala do nazismo”.
Essa autoridade considera que “todo o arcabouço dos direitos humanos está em perigo por discursos que tentam desconstruir esse fundamento do regime democrático”.
“Estamos diante de uma ladeira escorregadia. Uma vez nela, você não volta”, conclui Marlon.
Ele se refere às diferentes “caneladas” de Bolsonaro, desferidas contra os direitos humanos e a democracia. É preciso ter em mente que o capitão reformado jamais negou sua admiração pelo Coronel Brilhante Ustra, o mais notório torturador do regime militar, nem por esse regime, que, aliás, considera nunca ter sido uma ditadura.
Não obstante, na impossibilidade do agora presidente proclamar aquilo que realmente pensa, seu filho, deputado Eduardo Bolsonaro, encarrega-se de fazê-lo. Defende propostas de caráter nazista, como a de prender 100.000 pessoas ligadas aos movimentos sociais, que ele considera “terroristas’.
Na obra de William Shirer, ‘O Terceiro Reich: das origens à queda’, a mais importante escrita sobre o tema, identificamos mais uma semelhança entre o pensamento de Hitler e o do capitão-presidente, a primeira delas relacionada com a suposta designação divina desses mandatários.
Shirer reproduz artigo de Goebbels, ministro da imprensa e propaganda do chefe nazista, no qual ele afirma: “Hitler é o instrumento da Vontade Divina que molda a História graças a uma paixão nova e criadora”.
As declarações de Bolsonaro não são diferentes. Na igreja da Assembleia de Deus, no Rio, ao lado pastor Silas Malafaia, declarou-se escolhido de Deus, através da confiança “que o povo depositou em meu nome”.
Os cultores de regimes autoritários costumam buscar a legitimação divina para o seu poder, pois isso o torna inquestionável.
A criminalização dos que divergem do ideário político de Bolsonaro se materializa, especialmente, em propostas de lei de caráter genérico, que ferem mortalmente a liberdade de pensamento, como a referente à “apologia do comunismo”.
Trata-se de proposta delirante, pois os comunistas já não comem criancinhas. Aldo Rebelo, ex-ministro da Defesa, saiu desse Ministério gozando do respeito dos militares, e foi até condecorado!
Tais propostas não são, na essência, diferentes das dos regimes totalitários, como o nazista. Neles, os comunistas e homossexuais são perseguidos pelo que são e pelo que pensam.
Mas até ícones do liberalismo, como Fukiyama, foram tachados de comunista pelos seguidores do “mito”. Porém, no Brasil, o protofascismo não alcança etnias, como na Alemanha hitleriana, mas a esquerda em geral, assemelhada aos “petralhas”.
A esquerda, na visão bolsonarista, é constituída por pessoas supostamente destituídas de sentimento patriótico, e, a exemplo dos integrantes do MST, deveriam estar na prisão ou no exílio.
Em que pese a gravidade das previsões do Procurador Federal dos Direitos do Cidadão, não cremos que se vislumbre o advento de um regime realmente nazista.
O que preocupa é a possibilidade de certos aspectos do nazi-fascismo serem recepcionados na legislação brasileira, comprometendo ainda mais nossa já depauperada democracia.
Precisamos colocar a sua defesa e aprimoramento como fator de convergência de todos os cidadãos comprometidos com o pacto constitucional que, desde trinta anos, promove a convivência democrática no Brasil.
É também necessário aglutinar os partidos de esquerda em torno de propostas alternativas, viáveis e coladas à realidade do mundo do trabalho.
¡No pasarán!
Que essa divisa expresse a capacidade de resistência do povo brasileiro a regimes que vão na contramão do processo civilizatório.
- O autor é Professor Emérito da UFPB
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