A possibilidade de vitória de Jair Bolsonaro nas eleições para a Presidência da República é o maior desafio, desde a promulgação da “Constituição Cidadã” de 1988, que se coloca para todos que prezam a democracia – ainda que as limitações desse regime, no Brasil, tenham levado muitos cidadãos a nela descrerem.
Com efeito, foram muitas e variadas as declarações de Bolsonoro e de seu companheiro de chapa, General Mourão, contra a democracia, os direitos humanos – especialmente a favor da tortura – e os direitos dos trabalhadores, mas nenhuma palavra a respeito de justiça social, distribuição de renda e luta contra a desigualdade.
Essas propostas, que identificam quem se coloca ao lado dos explorados e despossuídos, soam como palavrões aos ouvidos do truculento capitão. Também não faltaram as atitudes boçais, machistas e racistas, particularmente desrespeitosas em relação às mulheres e às características do povo brasileiro, sobretudo aos seus componentes negro e indígena, sempre associados à inferioridade racial e à preguiça.
Quando suas declarações configuram crimes graves – como a proposta de fuzilar opositores (especialmente petistas), liquidar homossexuais ou autorizar a polícia a matar bandidos sem os limites impostos pela lei, Bolsonaro não as assume, alegando tratar-se de “hipérbole”. Não obstante, todos sabem ser este o seu pensamento, como os seus mais próximos seguidores, que se encarregam de difundi-las ao máximo, e de preparar o cenário para pô-las em prática.
Ainda assim, milhões de brasileiros endossam o comportamento abertamente anticristão e anti-humanista do antigo capitão. Mas o apoio que lhe deu o presidente da Igreja Universal, Edir Macedo, não surpreende, se somando à ampla maioria dos poderosos e endinheirados, que, como ele próprio, apóia o candidato da bíblia, do boi e da bala.
É preciso mostrar que a escolha do Presidente da República não pode ignorar as evidências e por a razão de lado, deixando prevalecer as emoções mais primitivas e os desejos mais irracionais contra os princípios que regem a nossa convivência democrática.
É nela que assenta o nosso patrimônio civilizatório, incompatível com a violência como forma de resolução de conflitos. Quando tratamos de nossos interesses pessoais, por exemplo, a compra de uma casa, a realização de uma cirurgia, a abertura de um negócio, uma aplicação financeira, a decisão de fazer ou não uma viagem, pesamos e medimos, à luz da razão, ouvindo especialistas, se eles estiverem ao alcance, antes de tomar a nossa decisão.
Não pode ser diferente em relação à escolha do primeiro mandatário do país, pois todos sabemos das suas consequências, tanto pessoais quanto para a nação. A verdadeira segurança não se alcança com mais repressão – que sabemos, se direciona sempre para os mais pobres, pois rico não aceita que bala perdida acabe com a vida de seus filhos. Ao contrário, elas levam a instabilidade social e política, podendo descambar em uma ditadura. E, nela, ninguém garante que você não venha a ser a próxima vítima.
Não se pode ter a memória curta: o regime militar terminou os seus dias repudiado pela imensa maioria dos brasileiros, pela recessão econômica, insegurança e desigualdade nele gerados. No segundo turno, o que está em questão não é fulano contra sicrano, mas a democracia, na pessoa de Fernando Haddad – conforme atestam sua prática e suas posições políticas – e a ditadura, representada pelo seu maior expoente, Bolsonaro.
Tortura e ditadura nunca mais! Fascistas não passarão!
- • Rubens Pinto Lyra é Doutor em Direito Público e Ciência Política e Professor Emérito da UFPB
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