Um a um, os partidos ditos liberais, que compõem o chamado Centrão, proclamaram sua suposta neutralidade entre o candidato petista Fernando Haddad e o protofacista Jair Bolsonaro.
Na verdade, essa atitude, cômoda para esses partidos, também o é para esse aspirante a ditador, pois encobre o apoio a ele emprestado pela esmagadora maioria das lideranças “centristas” – que os envolvidos não têm interesse em tornar público.
O autodenominado Centrão justifica o seu abstencionismo com o falso argumento, que seria apenas risível se não fosse por ele insistentemente utilizado, por jornais de destaque da mídia nacional e por expoentes do pensamento conservador, de que, ambos, o candidato do PT e o aspirante a ditador constituem ameaça à democracia.
A máxima popular “contra fatos não há argumentos” é por eles desconsiderada, já que o PT governou o país 14 anos e, nem em nível internacional nem doméstico, se questionou o respeito com que, grosso modo, ele tratou as instituições (Congresso, Ministério Público, Poder Judiciário).
Mais do que isto, contribuiu decisivamente para o fortalecimento dos poderes e instituições de defesa do Estado.
A Folha de São Paulo – ícone desse liberalismo – chega a personalizar a questão, conclamando os dois candidatos a mudarem as suas posturas. Ora, não se pode tratar da mesma forma as posições que considera insatisfatórias de Fernando Haddad – que vêm, aliás, sendo revistas por esse candidato – e as do postulante militar à Presidência, intrinsecamente antidemocráticas, não perdendo ele a oportunidade de reiterar seu endosso à ditadura de 1964.
As lideranças mais expressivas dos “centristas” (até mesmo quem, como Tarso Jeiressati, considera Bolsonaro um perigo para a democracia) ao decidirem permanecer em cima do muro, optaram, ipso facto, por se tornarem linha auxiliar da extrema direita.
Não foi assim que se comportou a esquerda na França, alguns anos atrás, quando os socialistas foram derrotados logo no primeiro turno, restando a opção para Presidente entre Nicolas Sarközy, representando a “direita civilizada”, e a extrema direita, personificada por Marine Le Pen. Eles declararam apoio à Sarközy, impedindo dessa forma a vitória da candidata extremista.
Todavia, não há como ignorar que, no âmbito da esquerda, alguns prevaricaram. Primeiramente, o PSB, com a absurda decisão de liberar dois de seus candidatos a governador do compromisso partidário de apoio a Haddad, por conveniências eleitorais.
Se o que está em jogo é a democracia, como se pode admitir, como fazem os socialistas, que uma disputa eleitoral de caráter regional se sobreponha, com a neutralidade de candidatos de seu partido a governador, às questões maiores, postas pela eleição presidencial?
Com efeito, sabemos que as próprias eleições, mais adiante, poderão não ocorrer – ou se transformar em uma farsa – caso o protofacista venha a se eleger. Isto significa, mesquinhamente, sacrificar o mais pelo menos.
Já o PDT declarou apoio critico a Haddad, mas informando que não participará de sua campanha, enquanto o seu ex-candidato à Presidência se ausenta no momento crucial do segundo turno para vilegiatura na Europa.
Como poderá Ciro Gomes justificá-la quando os milhões de votos que lhe foram atribuídos podem faltar a Haddad – quero dizer, à democracia – pela inadmissível omissão do candidato pedetista?
É muito grave que a dimensão do que está em jogo não seja compreendida por boa parte do eleitorado, para isso concorrendo a falsa neutralidade de suas “elites” políticas, que precisam ser desmascaradas para a preservação da própria democracia.
- O autor é Doutor em Direito Público e Ciência Política e Professor Emérito da UFPB
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