Bananeiras cresceu uma enormidade no turismo paraibano, mas parece longe de recuperar o prestígio político que no século passado colocou dois de seus filhos mais ilustres no poder que pode mais na Paraíba.
Solon de Lucena e Clóvis Bezerra são exemplos de bananeirenses da gema que governaram o Estado e puderam, cada um a seu tempo, fazer da terrinha um dos poucos municípios paraibanos a contar com dois representantes na Assembleia em uma mesma legislatura.
Hoje, e há mais de 30 anos, é uma tristeza. Mal consegue botar um suplente lá. E vai continuar assim, se os caciques da aldeia não combinarem e não deixarem de dar voto pra gente de fora… Em eleição passada, pelo que me disseram, um grupo apoiou – vejam só – um deputado de Santa Luzia. Noutra, um outro, de Pedras de Fogo.
Sem contar políticos de Belém e de Areia que também conseguem boas votações em Bananeiras e pouco ou nada retribuem a cidadãos que se comportam como eleitores da República Velha. É um povo que parece ter medo de cruzar a porteira do curral onde são guardados por seus ‘líderes’ para a serventia bienal.
Mas isso não é nada se lembrarmos que a cidade já foi tão forte que teve até dois padres servindo de uma vez só na Paróquia Nossa Senhora do Livramento. Nascido e criado em família católica, este agora ‘materialista agnóstico praticante’ viveu a graça de fazer parte do rebanho dos padres Zé Diniz e Manoel Lima nos sessenta.
Duas figuras humanas completamente antagônicas, no modo de ser e proceder. Vermelhão, alto e encorpado, tonitruante e irascível, Padre Diniz impunha medo e respeito entre os fieis. Mas fui, com muita honra, auxiliar de coroinha dele. O titular era Neném de Zé do Padre, que jamais deve ter se preocupado com a possibilidade de seu vice dar um golpe.
Desastrado que só vendo, errei muito toque de sino, troquei paramentos do celebrante e quase botava a perder um batizado. Exatamente porque não me lembro. Só sei que fui dispensado das funções e, magoado, deixei até de assistir às missas de Padre Diniz, que ele celebrava em latim a maior parte do tempo.
Mas ele tinha uma característica que eu adorava: suas missas eram ligeiras, o sermão curtinho e o mais divertido ficava para a hora da confissão. Meio mouco, acho, dava cada carão em algumas ovelhas… Que tremiam feito vara verde quando se ajoelhavam no batente lateral do confessionário e passavam a sussurrar seus pecados.
Gostava ainda mais da reprimenda se o padre, alto bom som, apertava meninos ou meninas do meu tope. “Fez coisa feia, fez? (…) Fale mais alto, vamos, fale pra fora! Desse jeito eu não vou entender nunca o que você está dizendo. Que coisa feia você fez? Vamos lá, diga de uma vez. Diga que coisa feia foi”, gritava o confessor.
Por essas e outras, jamais me confessei com Padre Diniz. Preferia recorrer aos serviços do Padre Manoel, a mansidão em pessoa, o moreno baixinho e magro de quem até hoje guardo ensinamento valioso. Graças a ele, passei a vida toda batalhando tenazmente para proteger os meus ouvidos e os tímpanos alheios da poluição sonora que por decênios foi tratada de forma leniente por autoridades ambientais de Estado e municípios.
Mané Lima, como alguns contemporâneos meus chamavam, costumava dizer o seguinte em sua missa, para não ter que ficar repetindo pedidos de silêncio: “Assim como o bem não faz barulho, o barulho não faz bem”. Lembro da frase toda vez que me atacam decibéis acima do humanamente suportável. Ataques em geral proporcionados por algum debocil – mistura de demente, boçal e imbecil, no dizer de Ramalho Leite – que afronta a civilidade com seus ‘paredões’ infernais.
O bem não faz barulho e o barulho não faz bem. Além de tudo, o bordão do padre aplicava-se à época tanto aos mal-educados presentes como aos políticos que vez ou outra frequentavam missa, deixavam um adjutório mais polpudo pra Nossa Senhora e depois saiam espalhando quanto deu.
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3 Respostas para Jamais confessei ao padre as “coisas feias’ que eu fazia
Que crônica deliciosa, Rubens!
👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽
Muito bom. Aliás, muito ótimo demais.
Beleza, primo! Merece estar no seu livro! Parabéns!