Por Flávio Lúcio Vieira
Pode ser paradoxal, mas o prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, pode não ser candidato a Governador da Paraíba, em 2018, apesar de ser, de longe, o melhor candidato “das oposições”.
Para chegar a essa conclusão, que não é nova − a última vez que escrevi sobre isso foi aqui mesmo, no Blog do Rubão, em abril do ano passado − é necessário entender qual a principal clivagem dos últimos embates eleitorais para o governo estadual.
Qual o principal traço que perpassou as disputas de 2010 e 2014 em que o governador Ricardo Coutinho derrotou José Maranhão e Cássio Cunha Lima, respectivamente?
É claro que as alianças produziram seus efeitos eleitorais para enraizar essas candidaturas por todo o Estado, ajudando a capilarizar, por exemplo, a liderança de Ricardo Coutinho, em 2010, e nisso a aliança com PSDB de Cássio Cunha Lima foi importante.
Mas não decisiva a ponto de tornar Cássio o principal responsável pela vitória de Ricardo Coutinho naquela eleição, como se propalou durante muito tempo.
Para demonstrar isso, basta observar o resultado da disputa nas cidades de até cinco mil eleitores, onde é sempre decisivo o peso dos prefeitos e das prefeituras, e onde José Maranhão, candidato à reeleição, obteve seus mais expressivos resultados.
Ao contrário das grandes e médias cidades, onde RC inverteu o favoritismo de José Maranhão. Ou seja, o que determinou a vitória de Ricardo foram as grandes cidades do Estado, sobretudo as regiões metropolitanas de João Pessoa e Campina Grande, nas quais há um eleitorado cada vez mais autônomo e independente dos esquemas políticos e administrativos.
Considerando apenas as duas maiores cidades paraibanas, RC venceu com uma diferença de mais de 130 mil votos, tendo ele vencido também em todas as grandes cidades que formam o eixo da BR-230.
Em 2014, Ricardo Coutinho voltou a repetir as vitórias obtidas nos maiores colégios eleitorais do Estado, com exceção, claro, de Campina Grande. Mesmo assim, registre-se, o desempenho de Cássio na Rainha da Borborema, em 2014 (59,82%), foi pior que o obtido por RC em 2010 (64,22%), o que já expôs um esgarçamento da liderança do chefe do clã Cunha Lima na cidade.
Qual foi o principal debate que marcou essas duas eleições? Avaliação de governo? Projetos e questões de ordem programáticas? Divisão esquerda-direita? Alianças?
Claro que, para segmentos do eleitorado, essas questões são relevantes, até mesmo para estabelecer um alinhamento a um ou outro candidato de maneira antecipada, mas o elemento que, acredito eu, acabou por determinar o rumo da disputa foi o que podemos reduzir, simplificando essas diferenças, a um embate entre o “novo” e o “velho”.
Velho aqui significando, no discurso político, determinada identidade com práticas políticas, chamemos assim, “oligárquicas”. Isso quer dizer quer dizer que, entre outras características, o político herdou, além do sobrenome do pai, sua liderança política, seus votos, suas posições, fenômeno que, no Brasil, remonta a chamada República Velha (1889-1930), para não irmos tão longe.
O problema é que o eleitorado começou a se renovar, mudar de ares, perceber e se cansar, sobretudo no Nordeste, onde o fenômeno oligárquico manteve até recentemente peso político significativo das famílias, e a eleger governadores e prefeitos de capitais provenientes de outra origem social.
E o fato de ter enfrentado as duas mais importantes lideranças oligárquicas paraibanas dos últimos vinte anos ajudou a clarificar esse embate e a ajudar de maneira decisiva nas vitórias de Ricardo Coutinho. Ele é produto dessa mudança, o que não exclui, é claro, suas grandes qualidades como político e como administrador.
Mas havia aquela dimensão, digamos estrutural, a “fortuna” histórica de uma sociedade e de uma política em mudança muito bem apreendidas pela “virtù”, pelo senso político de Ricardo Coutinho.
Por isso, Luciano Cartaxo é o candidato que Ricardo Coutinho mais teme. Por que? Primeiro, porque com Cartaxo candidato da oposição essa clivagem novo x velho se esvai, tornando-se artificial. Segundo, caso seja Romero Rodrigues esse candidato, o fato dele pertencer à família Cunha Lima abre espaço novamente para que essa clivagem seja não apenas retomada, mas ganhe ares de necessidade de superação definitiva em 2018.
Vou repetir aqui a descrição feita no artigo de abril do ano passado (‘As opções de Luciano Cartaxo’), citado acima:
- O prefeito de João Pessoa é uma liderança da nova geração, da qual o próprio RC faz parte.
- A ascensão de Cartaxo na política paraibana não se deve à família, como foi o caso de Maranhão e Cássio, e da maioria dos políticos que ocupam cargos eletivos na Paraíba, herdeiros que são do espólio político familiar.
- Cartaxo provém da classe média urbana e sua entrada na política vem de sua inserção como liderança (nos movimentos sociais).
- A origem política de Cartaxo o “identifica com uma tradição histórica construída depois dos anos 1980, de contestação às chamadas oligarquias políticas que governaram a Paraíba até 2010”.
- Caso consiga ancorar sua candidatura numa aliança com PSDB e PMDB, Cartaxo projeta-se como um candidato com apelo de favorito, o que não significa uma antecipação de vitória, claro.
- Cartaxo vai conseguir? Tudo indica que não, mas, como ele é um homem de sorte, um sobrevivente em política, a esperança é a última que morre deve ser seu provérbio preferido. Hoje e sempre.
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Uma resposta para PORQUE CARTAXO É O MELHOR CANDIDATO DA OPOSIÇÃO
Parabéns pela análise ao Professor Flávio Lúcio e Rubens por ceder o espaço em seu blog e nos proporcionar conteúdo de qualidade.
A análise, ao meu ver, acaba por ratificar uma tese que tenho já há algum tempo: Ricardo Coutinho e Luciano Cartaxo são pouco inteligentes ao se manterem separados.