Por Francisco de Paula Barreto Filho
Dom José Maria, manso e humilde como era, foi embora. Certamente com a alma e o coração ardendo pela Paraíba. Ele aqui viveu intensamente os graves contratempos da história nesses últimos cinquenta anos.
Foi um dos mais importantes seres humanos que passou por esta terra paraibana. Humanista, defensor dos direitos humanos e servo arrebatado da fé cristã. Nos seus combates, sempre o fazia com afeto, amor e a doçura mais profunda do que o mel que colhia de suas abelhas.
Conheci D. José nos idos da Ditadura. Apoiava-nos e sempre nos acolhia. Os mimeógrafos do Arcebispado eram nossos. Ia aos quarteis quando a mão tirana pesava sobre nós.
Sempre tive contatos com ele e com um sem número de aconselhamentos me brindava. Uma madrugada, aflito desembarquei na casa dele no Pátio de São Francisco. Fora lhe pedir para dialogar com camponeses de Esperança que ocupavam a Praça João Pessoa. Ainda insone, trocou o pijama por vestes de trabalho e não hesitou em me acompanhar para uma difícil conversa, segundo ele.
A Polícia já estava nas proximidades. Iria, como o fizera dias antes, retirar homens, mulheres e crianças com violência. Convenci o então governador Tarcísio Burity me permitir solicitar a ajuda de D. José. Depois de um diálogo duro, inconformado com a negativa do mandatário, disse-lhe: “Governador a ordem é judicial. Mas, a Polícia é sua”. E arrematei: “Quem já sofreu a violência dos cassetetes da ditadura teme até linguiça Swift”. Violência, Não. Liberou-me e fui aos pés de D. José.
Na praça, D. José foi insultado e agredido por militantes sectários do PT de então que o acusavam de frear “a luta do povo”. Ato contínuo, em conversa reservada com os camponeses, os convenceu e os abençoou. Todos saíram pacificamente. O dia raiava, beijando e resplandecendo a santa alma e humildade de D. José Maria.
Meses depois os camponeses venceram a luta e conseguiram a titularidade definitiva da terra que ocupavam. Dom José, como um bom pastor, havia abençoado o seu rebanho.
Algum tempo depois, procurei-o, pois havia sido estimulado a ser candidato a Vereador. Foi incisivo ao me dizer: “Uma andorinha, Barreto, não faz verão”. Contrariei-o: “D. José, poucas foram as andorinhas que se postaram em nome da Fé Cristã contra a Ditadura. O senhor, Dom Helder, Dom Fragoso, Dom Manuel Pereira, Dom Pedro Casaldáliga, dentre poucos. Como andorinhas voaram alto em defesa da liberdade, dos humilhados e ofendidos”.
Saí candidato, fui eleito. Tive a suprema felicidade de abraçá-lo quando lhe foi outorgado o Título de Cidadão Pessoense. Apenas dois, foram da minha lavra, o dele e o do Dr. Ulysses Guimarães.
Na minha saudação tive a alegria de lhe dizer: “O senhor, D. José, até tinha razão, mas quis Deus que fosse eu que tivesse a honra de beijar as suas mãos, as de um ser superior”.
Vejo agora D. José entrando no Paraíso, sendo saudado por todas as Santidades: “Entre, D. José, todos aqui estavam lhe esperando”. Havia uma cadeira cativa.
Adeus, Dom José Maria Pires. A sua grandeza e santidade se enraizarão profundamente entre nós. A Paraíba, genuflexa, sempre lhe deverá todas as homenagens.
- Francisco de Paula Barreto Filho é Professor da UFPB
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2 Respostas para EM MEMÓRIA DE DOM JOSÉ
O gigante Dom Pelé, não morreu. Nosso Pastor Emérito atravessou o rio e agora está na outra margem a nos esperar. Lá a recepcioná-lo, nosso Dom Marcelo Carvalheira e Dom Hélder Câmara.
Louvado seja Deus ! Glória a Deus !
Muito bom o texto histórico, professor Barreto fez apenas justiça em escrever tão importante história, um pedacinho de tudo que D. José vez pelo povo humilde de nossa Paraiba. Parabéns