O comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, lamentou ontem (22) que parte da população veja em uma intervenção militar a saída para a situação política do país. Reafirmando compromisso das Forças Armadas com a democracia, ele descartou qualquer hipótese de envolvimento da tropa na crise política que ameaça o governo Temer.
O general Villas Bôas participou nessa quinta-feira de audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) do Senado, onde garantiu que as Forças Armadas não se afastarão um milímetro de sua missão constitucional. Disse ainda que não há “qualquer respaldo” nas Forças Armadas para teses que classificou como anacrônicas, como a de uma intervenção militar para que país venha a superar a crise política.
— Já passou da hora de exorcizar esse fantasma, é um gasto de energia com algo que não tem nenhuma pertinência — disse o general, ressaltando que este é um entendimento unânime no comando das Forças Armadas e entre as tropas.
Villas Bôas declarou ainda que a estabilidade democrática é hoje um “mantra” nas forças armadas altamente profissionalizadas, como é o caso da brasileira. Para exemplificar o anacronismo de tentativas de tomada do poder político pelos militares, o general citou o recente caso na Turquia, em que um golpe fracassado tentou remover do poder o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan.
A manifestação de Villas Bôas foi apoiada por vários senadores, como Ana Amélia (PP-RS), Cristovam Buarque (PPS-DF), Lindbergh Farias (PT-RJ), José Medeiros (PSD-MT), Jorge Viana (PT-AC) e pelo presidente do CRE, Fernando Collor (PTC-AL). O militar foi aplaudido de pé ao final da audiência.
Lei e Ordem
O comandante do Exército também deixou claro o desconforto das Forças Armadas no caso de serem utilizadas em missões de garantia da lei e da ordem, como ocorreu em maio para coibir depredações na Esplanada dos Ministérios durante protestos. De acordo com o general, utilizações nesse sentido ocorreram 115 vezes nos últimos 30 anos, sendo que apenas no estado de São Paulo esse tipo de ação não foi solicitada.
Favela da Maré
Ele acrescentou que o Exército continua atuando na varredura de presídios e lembrou ainda a presença recente na favela da Maré, no Rio de janeiro, onde permaneceu durante 14 meses.
— Foi na favela da Maré que eu percebi que nos tornamos uma sociedade doente. Vi muitas vezes nossos soldados preocupados em meio àquelas vielas, apontando armas enquanto passavam crianças e mulheres. Assim que saímos, em uma semana o crime retornou com a mesma força de antes — criticou o general, para quem esse tipo de uso precisa ser repensado por ser desgastante, perigoso e inócuo.
- Da Agência Senado
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