
Palácio do Planalto vigiado pelo Exército expõe a fragilidade de um governo que apela à força para se manter (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)
Os acontecimentos de ontem em Brasília parecem indicar, de um lado, que a temperatura política está próxima de chegar ao ponto de ebulição e, de outro, o grau de alienação por parte do grande empresariado em relação a essa situação política do país, ao manterem o apoio a um governo impopular e visivelmente corrupto, sustentado por um um Congresso da mesma forma impopular e majoritariamente corrupto.
Isso se comprova pelo editorial do grupo de comunicação paulista Bandeirantes publicado esta semana cujo título diz tudo (ou quase tudo): “Band acredita que Temer pode comandar reformas”. Ali ficam desnudados tanto os motivos pelos quais o grande empresariado apoiou, para não dizer, liderou a derrubada da ex-presidente Dilma Rousseff, quanto porque chancelou que um político como Michel Temer ocupasse o cargo.
O moralismo de ocasião que condenou como ilegal práticas comuns de outros governos, como as tais “pedaladas fiscais” que justificaram o pedido de impeachment que afastou Dilma da Presidência, agora trata como injusto “colocar tudo e todos no mesmo patamar criminoso” e critica a precipitação de “condenações públicas antes dos procedimentos judiciais”. Nunca o cinismo expôs tão bem a hipocrisia dos donos da grande mídia brasileira.
Dizer que Temer não deve ser colocado no mesmo “patamar criminoso” – de quem? – é tornar irrelevante o fato de um presidente negociar, em plena residência oficial, um cala-boca para um chantagista como Eduardo Cunha, com dinheiro de um empresário metido até a alma em esquemas de corrupção eleitoral, só para citar um dos crimes cometidos naquela fatídica noite.
Dizer que agora rejeita “condenações públicas antes dos procedimentos judiciais” é esquecer o que as grandes empresas de comunicação fizeram e continuam a fazer quando se trata de inimigos políticos. Afinal, não foi isso que fizeram com Lula, transformado no maior corrupto da história do país antes que qualquer julgamento fosse feito?
Ao contrário, registre-se, de Aécio Neves e Michel Temer, dois dos queridinhos desses mesmos que hoje condenam antecipação de julgamentos, flagrados que foram recebendo, através de intermediários, malas de dinheiro, isso para não citar as contas no exterior com milhões de dólares depositados por empresas envolvidas em atos de corrupção.
Dois motivos podem explicar esse malabarismo retórico e cínico. Um deles está exposto no citado editorial: o “Brasil continua precisando seguir o seu rumo – finalmente claro e eficiente – adotado pelo atual governo, depois de anos de insensatez”.
Engraçado é que todo governo que desenvolve ações em benefício dos mais pobres é sempre taxado pelo empresariado de insensato e populista. Sério e chique mesmo é governar para os 10% mais ricos, cortando gastos com educação, saúde, habitação para continuar a pagar banqueiros e aprovar “reformas”, como a trabalhista e a previdenciária, cujo objetivo não é outro que não baratear ainda mais os custos com mão-de-obra através da retirada de direitos da maioria que trabalha e ganha um salário mínimo, como se fossem eles “privilegiados”. É isso o que sustenta Temer.
Se Michel Temer quisesse encerrar sua vida pública com um mínimo de dignidade reconheceria a inviabilidade política da continuidade do seu governo e condicionaria sua renúncia à aprovação da Emenda Constitucional que antecipa as eleições presidenciais, que tramita hoje no Congresso. E convocaria o povo brasileiro para ser o juiz do impasse político que paralisa o país, hoje.
- Flávio Lúcio Vieira, Professor Doutor da UFPB, é analista político convidado do Blog
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3 Respostas para ‘O QUE (AINDA) SUSTENTA TEMER’, por Flávio Lúcio Vieira
Desculpe-me, sr. Newton Mota, mas na verdade sua argumentação só se assenta em uma única preocupação: medo de Lula. Caso o senhor estivesse tão preocupado mesmo em preservar a Constituição, não teria apoiado o impeachment de Dilma Rousseff, um ato claramente ilegal porque nunca houve crime de responsabilidade para dar suporte a essa iniciativa, que contou com a ajuda determinante de Eduardo Cunha, e que acabou por levar Michel Temer à Presidência. O caos institucional e econômico que em que meteram o Brasil é decorrente disso. Tratar de casuísmo a iniciativa de aprovar uma PEC para antecipar as eleições só mostra de sua parte o desprezo pela normalidade institucional e a mentalidade golpista de nossa “elite” – não acho que o senhor faça parte dela, apesar de pensar igual a ela – a grande imprensa serve para isso, afinal de contas. O Brasil não vive uma situação de normalidade institucional e a crise política tende a se aprofundar cada vez mais, exatamente porque não temos um governo legítimo que tenha nascido da vontade do povo. Defender que um Congresso formado majoritariamente por criminosos e corruptos substitua o povo para eleger o próximo presidente não é um ato que mostre preocupação com a instituições da nossa democracia, apenas o desejo de manter no poder um governo cuja única função é prejudicar os mais pobres, mesmo que a classe média não ganhe nada com isso.
Peço-lhe desculpas, antecipadamente. Mas, a análise do amigo não se sustenta. Cristianizar o Lula(!?) e satanizar o Eduardo Cunha (!?), quando todos são farinha do mesmo saco(!?). Fala sério professor !!??
Com todo o respeito que lhe devo ter, não concordo com nada do que o Senhor falaciosamente tenta sustentar. É discurso requentado e absolutamente vazio. Então, se opor aos desmandos e a roubalheira institucionalizada, significa ter medo de Lula(!?). Chega a ser risível. Então, o Senhor defende mudanças na Constituição somente para o Lula disputá-la ! é isso mesmo(!?). Não é muita brincadeira prá coisa tão séria(!?). Note, não precisa mudar a Constituição, pois em 2018 teremos eleições, e se o Lula que defendes fervorosamente não estiver preso, poderá disputá-la.
Esse discurso de que o Governo não é legítimo, é argumento prá incauto e analfabeto. O vice – seja ele quem for, foi eleito juntamente com a tua escolhida, portanto é governo legítimo e constitucional, ou não (!?). Agora, se o congresso está recheado de criminosos e corruptos, é outra discussão. Falar em golpismo reiteradamente é discurso de uma “pseuda esquerda” sem discurso. É conversa prá incauto e analfabeto – inclusive – o político.
Por fim, nota-se claramente, que a sua preocupação é defender o indefensável, nem que se tenha de recorrer ao inaceitável discurso populista fundado no fascismo, a defesa dos pobres. Uma pena !
Não sou filiado ao que chamam de “partidos políticos”, até porque no Brasil não existe partido político, mas apenas agrupamentos de interesses pessoais.
Dilma x Temer. Temer e Dilma. Invenção da ” pseuda ” esquerda brasileira, fomentada nas alcovas, sabe-se lá a troco de quê, e por fim empurrada de goela a baixo nos homens e mulheres de boa fé do Brasil. Abusaram e abusam da boa fé do brasileiro. Farinhas do mesmo saco.
O que está aí é legado petista e dessa “pseuda esquerda”, que nunca teve quadros competentes para administrar o Brasil, mas tinha quadros e ainda tem, para saquear e permitir o saqueamento do erário público, com retórica mentirosa e enganosa.
Mudar a Constituição para satisfazer interesses eleitoreiros inconfessáveis e adequá-la aos sabores do momento, é absurdo, é casuísmo desavergonhado e despudorado. Então, se estamos em crise, mudemos a lei que tudo se resolve(!?). ABSURDO !
Que não esqueçamos nunca mais, que nos legaram uma economia falida, uma Petrobrás quebrada, 20 milhões de pessoas desempregadas, uma previdência social quebrada, os fundos de pensões(PREVI, FUCEF, PETRUS, POSTALIS, etc.) todos quebrados. Enfim um Brasil absurdamente quebrado, e os “pseudos” esquerdistas, milionários( A NOVA ELITE”INTELECTUAL E PENSANTE”). Percebemos que essa “pseuda ” esquerda já tenta se apropriar de um discurso fascista, objetivando safar-se, tirar do seu lombo esse que é o pior legado da história brasileira, recente. É como se nós outros, fôssemos desmemoriados ! Abusam, duvidam da nossa inteligência.
Não se pensa na Nação e no Brasil REAL, mas nos interesses pessoais, de grupos e de associações, é o Brasil Oficial.