- Por Rubens Nóbrega
Além do semanão de R$ 500 mil para a dupla Temer-Loures, o que daria R$ 480 milhões em propina vintenária, outra coisa que muito me impressionou nessa história foi a prisão de um Procurador da República acusado de ser espião da Friboi na investigação do próprio Ministério Público Federal (MPF) sobre esquema de corrupção financiado pelos irmãos Joesley e Wesley Batista.
Gostaria muito de acrescer alguns anos no meu prazo de validade para me aprofundar numa pesquisa sobre a ganância, a cobiça humana. O caso do Procurador da República Ângelo Goulart Villela (foto), preso quinta-feira (18) sob suspeita de ser informante de Joesley, seria um dos capítulos mais densos do pretenso tratado. Caso, lógico, se tudo viesse a se confirmar contra aquela autoridade, mediante apuração que respeita ampla defesa e condenação transitada em julgado.
O que se tem por amostragem, contudo, já é suficiente para impressionar qualquer provinciano feito esse escriba. Que não cansa de se surpreender com os descaminhos da ‘aventura humana na Terra’. Especialmente quando surgem protagonistas do tipo e no estilo de uma força de trabalho altamente qualificada e preparada para combater justamente o que, pelo visto, praticou.
Tenho que mencionar ainda, para melhor compreensão de quem lê, alguns detalhes prosaicos – antes dos sórdidos – de uma trama criminosa, na qual em tese se enredou um servidor de elite da poderosa e cada vez mais empoderada – além de mui respeitada – instituição chamada Ministério Público.
O detalhe ordinário a que me refiro começa pela remuneração de um Procurador da República, que com o último reajuste chegou a exatos R$ 39.293,38 em janeiro deste ano. Sem contar os generosos penduricalhos (auxílio-moradia de R$ 4,3 mil, por exemplo) reservados à categoria a que pertence.
Com esses 11,8 mil dólares por mês, o Doutor Ângelo e qualquer outro colega seu poderia viver muito bem em qualquer lugar do mundo. Inclusive – ou principalmente – nos Estados Unidos. Já na Europa, onde o salário bruto médio alcança 1.995 euros por mês, alguém que ganha cá o equivalente a 10,5 mil euros lá pode perfeitamente suprir todas as suas vaidades e desejos de consumo.
Pra que mais, então, meu Deus? Pra que e por que “se sujar” com R$ 50 mil a mais por mês para no final comprometer toda uma carreira, todo um futuro. Por que trair todos os valores, princípios e conhecimentos que adquiriu ao longo da vida para mudar de lado – do bem para o mal, dos mocinhos para os bandidos?
Se não entendo as razões do suposto corrompido, muito menos vou entender os atos e fatos atribuídos a seus pretensos corruptores. Aí é que não sei mesmo como os irmãos Batista, figuras do nível Marcelo Odebrecht e outros ricaços não se contentam com as fortunas que receberam de herança ou amealharam graças a esforços, pelo visto, nem sempre lícitos.
Esses senhores precisam, além de tudo o que têm, de corromper e botar a mão no dinheiro que pertence a milhões que não conseguem juntar por toda uma vida uma trilionésima parte do patrimônio, da sorte ou safadeza que esses bilionários acumularam?
Não, trilhões de vezes não. Vou morrer de velho sem compreender. Ainda mais agora, quando escrevo esses amargurados devaneios e pula no canto da tela do computador recomendação de leitura no portal do Consultor Jurídico. Avisam-me para dar uma olhada em matéria com o seguinte título: “Procurador preso foi à Câmara defender pacote ‘anticorrupção’ do MPF”.
Remete a ele, ele mesmo, o Doutor Ângelo Villela, até quarta-feira (17) diretor de Assuntos Legislativos da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), além de assessor da Procuradoria-Geral Eleitoral (PGE).
Mas, como nada nessa história é tão ruim que não possa piorar, vejo que os colegas da Conjur botaram desqualificantes aspas na palavra ‘anticorrupção’. Bom, pelo menos aí imagino qual foi a intenção de quem cometeu semelhante título.
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2 Respostas para A ganância desmedida de quem já tem muito ou tudo
Por curiosidade, apenas! O procurador Angelo Goulart Villela tem algum parentesco com o ex-presidente João Goulart?
Fiz a mesma pergunta a João Vicente Goulart, filho de Jango, quando de sua passagem por João Pessoa, duas semanas atrás. A resposta: não.