A julgar pelo estrago que causou e ainda pode causar à economia brasileira, a Operação Carne Fraca deve produzir algum efeito inibidor na secura por holofotes de alguns delegados da Polícia Federal, da Polícia em geral, entre promotores de Justiça e procuradores estaduais e da República e até em algum juiz-celebridade.
Um freio na descontrolada espetacularização das operações policiais seria bom para todos, começando pelas próprias autoridades policiais e ministeriais. Que não devem gostar, suponho, de se verem alvos de polêmicas ou galhofas. Tipo o que aconteceu com o famoso ‘power-point’ dos procuradores da Lava Jato contra Lula ou entrevista na qual deixaram escapar que não têm provas, mas convicção, contra o ex-presidente.
Lembro que na mesma esparrela caiu um procurador da República que, secretário de Segurança Pública do Estado em governo passado, prendeu e exibiu com pompa e circunstância dois jovens da favela São José como “os matadores da moto preta”. Lembram? Pois bem, dias depois, em contato com esse blogueiro, então colunista do Correio da Paraíba, a mãe dos rapazes mostrou por A + B que nenhum de seus filhos sabia sequer pilotar motocicleta.
Claro que a cúpula de então da Polícia estadual, de tão envergonhada, não tocou mais no assunto. E imagino que tenha liberado os pobres coitados. Até por que – antes, durante e depois da prisão dos inocentes – os verdadeiros assassinos da moto preta continuaram em ação, positivos e operantes, na Grande João Pessoa. Eram exímios motoqueiros e pistoleiros que caçavam e matavam preferencialmente ex-presidiários ou albergados que não pagavam o que deviam aos traficantes soltos ou recolhidos em presídios.
Mas esse é apenas um caso entre dezenas de outros que a gente acompanha há dezenas de anos na militância deste ofício. Alguns, mesmo inacreditáveis, embora reais, deixam dúvidas quanto à percepção de determinadas autoridades sobre consequências desastrosas de blitze movidas pelo desejo de aparecer e mostrar serviço a qualquer custo e preço. Basta dizer que ontem mesmo, três dias após o rebu da Operação Carne Fraca, já se via nas mídias e rede sociais um promotor de Justiça da Paraíba falando em “dar uma geral” nas carnes vendidas em frigoríficos, lojas especializadas e supermercados.
Não que ele não possa. Deve. Mas investigue primeiro, apure realmente. Por todos os meios permitidos em lei, sem desrespeito ao sagrado direito à defesa e ao contraditório dos investigados. Que o faça da forma a mais incisiva e consistente, mas com parcimônia, discrição, longe do acompanhamento ou aparato midiático. Concluída essa etapa do trabalho, necessária e antecedente a qualquer divulgação, aí chegará a vez do implacável brilhar. Que divulgue, urb et orbis, o seu feito. Se, evidentemente, chegar a algum resultado comprovadamente incriminador.
Se outro motivos não houver, para além das responsabilidades que os regulamentos internos de condutas e as normas legais impõem, que evitem o espalhafato para não incorrerem em publicidade opressiva. Contra essa ou aquela cadeia produtiva, esse ou aquele segmento relevante para a economia brasileira, incluindo a economia popular. Pois é essa que em última instância e no médio prazo mais sofre a rebordosa da Síndrome do Pavão que acomete algumas excelências armadas ou togadas.
Alguns dados sobre a Operação Carne Fraca
Nos últimos dias cresceu na imprensa, nas redes sociais e dentro do próprio governo Temer a opinião segundo a qual a Operação Carne Fraca, deflagrada pela Polícia Federal na sexta-feira (17) já causou prejuízos irreparáveis a um dos segmentos mais sólidos da economia brasileira, que vem a ser a produção e exportação de carne bovina. Opinião respaldada em números contra os quais a PF ainda não se pronunciou. Vejamos.
- São investigadas 21 empresas acusadas de fraudar carne e derivados, entre 4.837 do ramo que funcionam todo o país.
- O número de empresas investigadas e já denunciadas representa menos de 0,5% do total de plantas frigoríficas do Brasil.
- Até agora foram acusadas 33 pessoas por corrupção no setor, que emprega mais de 11 mil trabalhadores em todo o país.
- O número de pessoas acusadas corresponde a 0,3% do total de empregados do setor.
- Até aqui, a Operação Carne Fraca mostrou que 99,5% das unidades frigoríficas estão dentro dos padrões de segurança alimentar mais rigorosos do mundo.
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3 Respostas para Carne Fraca deve inibir Síndrome do Pavão em delegados e procuradores
Entendo ser necessário acrescentarmos, que não fosse o peito do Juiz Moro em publicizar as trapaças do Lula/Dilma(a posse de Lula no cargo de Ministro), a Sociedade não teria tomado conhecimento daquelas diatribes. As vezes um grito resolve muita coisa. Estávamos correndo sérios riscos, não só a comunidade internacional, mas a nossa sociedade também. Estamos arcando com sérios prejuízos, sim, mas se a publicização não estivesse sido feita da forma como veio, penso que a Sociedade brasileira jamais tomaria conhecimento do que estava acontecendo e estaríamos consumindo carne estragada sim senhor ! Afinal sempre nos trataram como os porcos do mercado interno( o que não serve para o mercado internacional, joga-se no mercado interno). Imaginemos uma Sociedade como a chinesa, a japonesa, a europeia, etc consumindo carne estragada ! ? O Brasil estaria numa situação muito mais constrangedora e difícil. Essa possibilidade foi estancada, no grito, pelo menos num primeiro momento. Esse risco foi minimizado, em tese. No Brasil, as coisas desse nível jamais viriam a tona, senão da forma como veio. Olhemos para o perfil do atual ministro da justiça, e creio que a ação de se publicizar na forma como foi está plenamente justificada.
Os prejuízos e os constrangimentos não devem ser creditados a Polícia Federal, mas aos criminosos. Ah ! são milhões de empregos em jogo. Sim, mas se uma empresa fraudadora e criminosa fechar(o que seria razoável) o mercado vai absorver a mão-de-obra do mesmo jeito. Empresas sérias absorverão e outras empresas vão surgir no mercado.
A Polícia Federal tem agido com correção e tem sido a nossa escudeira. Ainda bem ! Um patrimônio da Sociedade. Patrimônio que temos que apoiar sempre e zelar inclusive. Quem não quiser a PF na porta e o nome na mídia, que ande direito. Seja quem for ! Pau que dá em Chico, haverá de ser sempre, o mesmo que dá em Francisco.
Com a devida venia discordo da avaliação feita.
A análise de números absolutos para o caso em tela não condiz com a realidade a ser investigada.
Os transportadores, empacotadores, administração geral, vendedores em geral, dentre outros não participam do processo em todas as suas etapas e na maioria dos casos sequer conhece as normas legais de exigência para o produto.
O que se pode extrair com mais cuidado é que OS MAIORES FORNECEDORES, sobre quem deveria, a principio, uma fiscalização mais rigorosa realizou tal façanha, imagine os menores, que em muitos dos casos sequer são fiscalizados.
Bom dia!
Fazia tempo que eu não lia um artigo tāo claro, tão pertinente, tāo atual e acima de tudo necessário.
Eu apenas acrescentaria que as citadas autoridades, quando não tem o seu “trabalho” ratificado pelo judiciário, passam a criticar e a jogar a sociedade contra os magistrados, o que não é ético, moral e nem legal.
De parabéns ao colunista.