(Foto: Arquivo SindepolPB)

Um desfile estudantil encerrado a tiros na Capital, mais assaltos a banco no interior e na estrada um juiz escapa de um atentado a bala. Cenas de final de semana como essas ilustram a diversidade e a rotina da violência na Paraíba. Violência que, queiram ou não, aumentou no atual governo. Crescimento comprovado por números oficiais. Números divulgados todos os anos no Mapa da Violência, no Atlas da Violência e no Anuário Brasileiro de Segurança Pública.

Números são indesmentíveis, não manipuláveis. As publicações se baseiam em dados fornecidos pelas secretarias estaduais de Saúde e de Segurança Pública. Informações sobre homicídios, por exemplo, vêm do Sistema de Informação sobre Mortalidade do Ministério da Saúde (SIM/MS), cujos dados são divulgados anualmente desde 1979. Há 13 anos, após a implantação do SUS (Sistema Único de Saúde), coleta e entrega dos dados são responsabilidades das secretarias de Saúde.

Realidade e métodos de apuração das informações sobre a mortandade no Brasil e na Paraíba contrariam o esforço do Governo do Estado em demonstrar o contrário do que se vê nessas estatísticas que a administração pública fornece. Esforço que cai por terra feito vítima de arma de fogo quando chegam ao público as versões mais atualizadas do Mapa ou do Atlas da Violência. Aí, vem à luz a inquestionável escalada da violência na Paraíba entre 2011 e 2014, primeiro período da gestão em curso.

Para contrariedade ainda maior das autoridades estaduais, a expansão da criminalidade na Paraíba naquele quadriênio se revela com maior clareza quando o comparam aos dois mandatos imediatamente anteriores ao atual. É que expõe de modo irrefutável o Mapa da Violência 2016 quando detalha em números os assassinatos por armas de fogo entre 2004 e 2014. Confiram nas tabelas abaixo.

É só olhar

Olhando direitinho essas tabelas fica fácil constatar que o número de homicídios por armas de fogo atingiu seu pico em 2011, primeiro ano de mandato do atual governador. Naquele ano, mataram 1.397 pessoas a tiros na Paraíba, 171 a mais do que no anterior. Se redução houve nessa modalidade de crime, ela ocorreu dentro do mesmo governo. Mesmo assim de 0,4 entre 2013 e 2014. Nesse último ano, foram 1.246 homicídios, resultado ainda pior do que o de 2010, 2009, 2008…

Há um dado que não está nessas tabelas, mas está no Mapa da Violência 2016 e precisa ser lembrado também. Ele será encontrado se a pesquisa retroceder mais quatro anos. Quem pesquisar vai descobrir que a taxa de homicídios por armas de fogo na Paraíba em 2000 era de 11,5 (por cada grupo de 100 mil habitantes). O Estado ocupava, então, o 16º lugar no ranking nacional da violência. Em 2014, a taxa era de 31,9 e o Estado aparecia na sexta colocação entre os mais violentos do país.

Agora, se no período exposto nas tabelas acima as comparações se restringirem às capitais dos estados, aí piora sensivelmente a situação da Paraíba. Porque em 2005 a taxa de homicídios por armas de fogo de João Pessoa era de 31,8 por cada grupo de 100 mil. Em 2014, com 60,2 homicídios por cada cem mil, a capital paraibana já alcançava o quarto lugar no ranking nacional de vidas humanas abatidas a tiro.

Quem faz

O Mapa da Violência é um estudo coordenado pelo professor e sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, diretor de pesquisa do Instituto Sangari e coordenador da Área de Estudos sobre Violência da Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais (FLACSO). Na sua versão 2016, com dados que cobrem de 2004 a 2014, a publicação mostra que o Brasil cravou a impressionante marca de 57 mil homicídios em 2014, o que corresponde a 6,5 assassinatos por hora.

Por seu turno, o Atlas da Violência é elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), que também tem suas análises baseadas principalmente nos dados do SIM/MS. Na edição de 2016, informações complementares foram buscadas nos registros policiais publicadas no 9º Anuário Brasileiro de Segurança Pública (2015) do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), do qual fazem parte todas as secretarias de Segurança Pública do país. Inclusive a da Paraíba.

De acordo com o Atlas, a taxa total de homicídios da Paraíba (por 100 mil habitantes) era de 18,2 em 2004, chegou a 38,2 em 2010 e saltou para 42 em 2011 (primeiro ano do atual governo). Caiu para 39,3 em 2012, subiu para 39,6 em 2013 e fechou em 39,1 em 2014. Ou seja, também sob essa base de dados a redução de homicídios no Estado ocorreu dentro do mesmo governo, o atual governo, e não em relação a governos anteriores e nunca menor do que nas gestões passadas.

É só clicar nos links oferecidos nesta matéria e conferir: consultando o Atlas da Violência, vê-se que em 2004 a Paraíba contou 659 homicídios, pulou para 1.457 em 2010 e subiu para 1.619 em 2011. Baixou para 1.550 em 2013 e um pouco mais, para 1.542, em 2014. Redução de 0,5% entre 2013 e 2014 ou 8 homicídios a menos. Mesmo assim, não há como negar nem distorcer: o ‘melhor’ ano do governo em andamento em matéria de segurança pública foi pior do que o pior ano de qualquer governo anterior.