O DOMINÓ DA LOUCURA, por Francisco Barreto

Ilustração copiada de encenasaudemental.com

Freud foi cirúrgico quando pontificou que todo o desejo é individual, no entanto admitiu que neuroses e as loucuras podem ser endêmicas e coletivas quando abordou a Psicologia das Massas. Muitos movimentos de massa contemporâneos são movidos por fundamentalismos fanáticos que resultam em violência, nos quais o mal é realizado em nome de uma crença religiosa, ideológica, econômica, e ou da devoção histérica a certos postulados. Os fatos históricos recentes demonstram que quando as identidades individuais e sociais são abandonadas, e se adotam os caminhos recorrentes em favor de categorias e identidades sociais fortemente associadas às opções ideológicas com elevados teores de extremismos maléficos.

As praticas revolucionarias marxistas-leninistas há muitas décadas foram arquivadas dos portões industriais e partidos ditos proletários. Os marxistas e suas práxis refluíram e apenas marxólogos permaneceram com os seus empoeirados livros. As atuais manifestações politicas são quase todas neoliberais dotadas de um enrustido e tímido verniz nacionalista, embora estas sejam subordinados às pautas globalizantes do capitalismo. A vertente esquerda-comunisante de índole revolucionaria não mais existe. A direita nos países dependentes e periféricos é uma esfarrapada abstração ideológica e que pelo seu histerismo pretende reeditar infames regimes nazifascistas. Aqui, os seus rotos militantes seguem equivocadamente mendigando nas portas dos quartéis aos comandantes a volta da Ditadura, e pedem aos generais a proteção, o arrego contra uma improvável falácia comunista que virá para destruir: Deus, Pátria, a Liberdade, a Família e a Propriedade. As altas patentes se enclausuram evitando ou se envergonhando da militante histeria.

Triste e vergonhoso cenário dos milhares que abdicam das suas avaliações individuais e identidades pessoais, e aderem selvagemente a comportamentos forjando identidades coletivas em que os indivíduos irracionalmente passam a rastejar nos seus desequilíbrio anti-democráticos e vão até ao desespero na defesa de pseudos ideologias com ênfase no anticomunismo e nas desordens institucionais.

São recorrentes e visíveis situações transversais decorrentes de desvios comportamentais diante da massificação de recurso aos desespero militaristas pelos derivados acoitados por obtusos raciocínios; ímpetos compulsivos agressivos e irracionais as fantasiosas ameaças e contraposições ; a anulação do ego, a perda de identidades e raciocínios pessoais, lucidez e o autodomínio de suas identidades.

Nas concepções mais refinadas relativas as às dimensões filosóficas do que vem a ser os enunciados de ideologias estes emergiram fincados nas raízes nos pensamentos gregos e socráticos, inspirados nos conceitos, ideias, doutrinas e praticas democráticas. Os conceitos que buscavam configurar que as ideologias deveriam nortear a participação dos cidadãos a partir de visões de mundo a reger suas ações sociais e politicas rastreando o equilíbrio da vida coletiva que as vivências humanas tiveram.

Os estudos freudianos sobre a Psicologia das Massas desenvolveu contribuições fundamentais sobre o que se designa do Mal do SuperEu que se ampara na dimensão politica. As avessas e precárias mentalizações ideológicas se estribam em pensamentos e atitudes massivas conduzidas por fanatismos que primam por violências grupais conduzidas por irracionalidades destrutivas que arrasam o que tiver em seus passos pela adesão de praticas egoístas e pelos negacionismos de postulados que refutam a ética e a moral universais e atemporais que contrariam a dignidade humana e a sociabilidade da vida coletiva.

Ao abdicarem e anularem absurdamente as suas identidades individuais em proveito de uma identidade social falaciosa cedem ao ímpeto de se tornarem uma horda, uma multidão, em que todos são apenas números incógnitos de uma massa acéfala com fortes propensões a atos agressivos e a destruição dos que são diferentes. O abandono de suas identidades e concepções individuais, estes assim, decretam a falência e a morte de relevantes comportamentos sociais. São atiçados por supostas e falsas crises, e como um rebanho descontrolado e neurótico age e se conduz tresloucadamente em modos inconsequentes com recurso a violência e a selvageria.

Há provavelmente uma psicopatologia coletiva desprovida equilíbrio mental das pessoas tuteladas por influenciadores neuróticos que os induzem e inoculam pensamentos e atos delirantes. Freud em seus escritos sobre a psicologia das massas identificou como sendo graves os desequilíbrios patológicos decorrentes da mistificação de “serem amados e odiados” pelos seus falsos lideres. Estes “que não amam ninguém” salvo seus projetos de poderes. Hoje mais do nunca os adventos das novas tecnologias regendo as proximidades comportamentais, as palavras de ordem, os comandos falseados dispensam de proximidades e contatos físicos entre pessoas e grupos massivos.

As atuais tecnologias virtuais disseminam em ritmos assombrosos e em seus frios algoritmos a celeridade de comunicações tóxicas eivadas de perversidades, de irracionalidades, de preconceitos e dos ódios gratuitos. Os lideres inexistem ou são anônimos. Observa-se o que se convencionou chamar de adesão compulsiva e irrefreada visão Lacaniana, que deu origem a expressão “Mal do Isso”. O Mal não está entre nós e sempre no próximo estranho ou estrangeiro onde todos são inimigos virtuais e devem ser destruídos. Assim nos dizem as portadores de neuroses coletivas.

A Psicanálise, há tempos já se debruçou sobre uma patologia consumada pelo “transtorno delirante” denominada de Folie à Deux. São transferências de delírios psicóticos susceptíveis aos indivíduos por desvios de personalidade, quer pela sua credulidade ignara ou irracionalidade sem limites, acreditando e agindo sob o comando de delírios psicóticos delirantes. Convencionou-se chamar estas psicopatologias de “Transtorno Psicótico Paranoide Compartilhado” sendo vulgarmente chamado Folie à Deux (loucuras a dois), ou transtorno delirante endemicamente induzido e que que pode contaminar os incautos. São pessoas incapazes de distinguir a mentira da verdade. A “fakenews” é o vetor central da disseminação da ignorancia, das neuroses e das brutalidades coletivas.

A mentira entra pelos poros e é mais facil de difundir os comportamentos psicóticos. A verdade exige reflexão e demanda autonomia psicológica nas análises e podem bloquear os ritmos das loucuras delirantes.

O transtorno psicótico delirante admite a psicanalise pode ocorrer através de uma imposição decorrente de uma relação de poder intragrupal e então se verifica a “Folie imposée ou communiquée” via o compartilhamento pessoa a pessoa que impõem crenças e influencias altamente danosas, inadequadas e socialmente perversas e este é o caso de falsas ideologias derivadas das teorias de conspiração.

As pessoas vulneráveis, transmissoras e receptoras assimilam os transtornos psicóticos que lhes são induzidos e simultâneos. As correntes de transmissão podem ser incomensuráveis. Uma ou mais pessoas vulneráveis ou ambos podem ter transtornos psicóticos e compartilharem suas falaciosas crenças entre si a Folie simultanée ou induite, influenciando o comportamento uns dos outros.

Os transtornos psicóticos neste entendimento de psicose a dois, pode ser detido se houver rupturas por atitudes sensatas e não vulneraveis às transferencias de delirios de um transmisssor de um sujeito considerado primariamente psicótico. A não ruptura pode gerar progressões geométricas. Gravíssima situação ao se admitir como verdadeira esta premissa. Em sendo verdade ou não, as atuais expressões numéricas dos superlativos números de pessoas demonstram a existência de inúmeros grupamentos contaminados por comportamentos psicóticos em variadas escalas que determinam foco de histeria coletiva.

Hoje temos uma substancial parcela, silenciosa ou agressiva da sociedade brasileira doente. Os episódios violentos e antidemocráticos na Esplanada em Brasilia a semelhança do que ocorreu no Congresso americano nos sintoniza com os riscos explosivos de frações de delírios psicóticos em cena em escala internacional.

Atitudes extremistas, violentas, terroristas a esmo, loucuras incontroláveis, induzidas pela disseminação de comportamentos com desvios psicóticos de personalidades, aceitos e praticados sem freios são sintomas de patologias graves. O momento atual, aqui e alhures já se convive com atos extremistas de massacres em massa, suicídios coletivos, violências brutais provocadas por histerias coletivas, todos são derivados de transferências de delírios psicótico: a dois, a cem ou a milhares. O mais grave é que nos eventos massivos com violência não há lideres ou controles pré-estabelecidos diante das síndromes de histeria coletiva. A história faz registros impressionantes dos atos ensandecidos.

Com a palavra: os Doutores da Psicanálise e aos Gestores Públicos da Saúde Mental que ousem denunciar e propugnar uma Intervenção Psicanalítica.

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  • PS: Originalmente, o presente artigo tinha como título ‘A Intervenção Psicanalítica e o Ensandecídio no Brasil’

COMO PODE? por José Mário Espínola

Imagem meramente ilustrativa (Foto: Félix Zucco/Revista Cult)

Outro dia o prezado colega Saulo Londres indagou-me o que levou a nossa classe médica a desenvolver tanta admiração por um indivíduo como Jair Bolsonaro. Claro que estou generalizando, pois conheço inúmeros médicos que votarão exatamente contra essa figura, pelos motivos que exponho abaixo.

Desde então tenho refletido na procura de uma resposta lógica e convincente. E que seja honesta para com aqueles que fizeram a sua opção, livre e conscientemente. Acho que a escolha de um ídolo é muito complexa, pois resulta de muitos fatores. Mas o que faz um brasileiro admirar alguém como Bolsonaro, seja ele médico ou outro profissional?

Também tenho pensado muito nisso, tentando entender o mecanismo, a fisiologia de alguém que desenvolva empatia por outrem que possa ser considerado por todos como pessoa no mínimo muito difícil, para não ser deselegante. Considerando que empatia são afinidades de ideias, pensamento, palavras, atitudes e identificação com o outro, Jair Bolsonaro apresenta o seguinte perfil de personalidade:

  • Quanto às ideias
  • * ele tem desprezo pelos fracos; tem o pensamento da supremacia de macho, de cor; tem desprezo pela natureza; exibe total indiferença ao sofrimento, à dor alheia; tem inveja e ciúmes de todos que venha a considerar melhores do que ele;
  • * as suas palavras são grosseiras; agressivas; humilhantes; ofensivas; desestimulantes; jocosas; imorais; mentirosas ou despidas da verdade;
  • * Apresenta atitudes de agressão; humilhação; ofensas. Pratica o negacionismo da ciência e vem realizando o desmantelamento das pesquisas científicas no Brasil;
  • * Nunca é sincero, pois o que ele diz não se escreve e sua falsidade é explícita, além de comportar-se como um mitomaníaco, do tipo que à tarde desmente o que disse pela manhã usando outra mentira.
  • Quanto à identificação com o próximo
  • * ele sempre exibiu total ausência de empatia, porém exibe proteção irrestrita dos seus parentes e amigos, mesmo quando existem evidências de que estão em situação irregular ou ilegal.
  • * Outros fatores devem ser levados em consideração, na escolha do candidato. O perfil ideológico, por exemplo. Ele representa o meu pensamento? Compartilha a minha fé? A religião provavelmente é um fator importante que deve ser levado em consideração. Pelo menos pelos cristãos católicos e evangélicos, que juntos são a quase totalidade dos eleitores brasileiros.

Até o surgimento do “mito” Jair Messias Bolsonaro, Jesus Cristo era o maior ídolo do cristianismo, de quem deriva a denominação. Assim, é difícil imaginar que um cristão possa fazer uma opção por um anticristo, pois aprendeu ao longo de sua formação religiosa a reconhecer e procurar se inspirar na personalidade de Jesus: candura, amor ao próximo, capacidade de perdoar, sinceridade, mansidão, fé, esperança, solidariedade, caridade, amor pela natureza, amor pelas crianças, pelos necessitados, pelos fracos e oprimidos.

Bolsonaro é perseguidor implacável de tudo o que representa minorias: pobres, pretos, mulheres, índios, ciganos, quilombolas. Alguém como ele considera arte e cultura manifestações de fraqueza, assim como radares controladores da velocidade nas rodovias. E faixas para pedestres.

Ele fala uma coisa e comporta-se diferente do que disse. Como a antítese do cordeiro de Deus. Como um agnus-diaboli. Apesar de tudo isso, um segmento importante de cristãos, médicos ou não, aderiu ao culto desse moderno Bezerro de Ouro.

É, portanto, muito difícil compreender por que um cristão possa se deixar impressionar por um indivíduo que tem atitudes exatamente contrárias às de Jesus: é grosseiro, agressivo, mentiroso, rancoroso. Assim, fica a pergunta: como pode um VERDADEIRO cristão votar em Bolsonaro?

Mas, como muitos deles têm feito essa opção, acho que não é apenas a religião que faz com alguém venha a perfilar cegamente com essa antítese do Salvador, esse anti-Jesus. Devem existir outros fatores. A identidade política é um desses fatores.

Na eleição de 2018, muitos eleitores votaram em Bolsonaro por ele ter representado o antipetismo. Desde 2013, a sociedade brasileira tinha sido intoxicada por uma atmosfera de repulsa ao Partido dos Trabalhadores.
A campanha teve origem puramente elitista.

Incomodada pela situação econômica do Brasil, a elite brasileira, com a participação ativa dos grandes empresários do agronegócio e da indústria, além de usineiros, mega comerciantes e industriais da fé, junto com a aristocracia brasileira, que nunca engoliu um governo de origem popular, arquitetaram uma forma de excluir o PT dos desígnios da nação.

Essa campanha foi executada pela grande imprensa liderada pela Rede Globo, mas com a participação de diversas outras emissoras e rádios, como a Record, a Band e o SBT, além das rádios CBN, Globo, Jovem Pan, dentre outras. E pelos jornais Folha de São Paulo, Estadão, Jornal do Brasil, além das revistas Veja, Época e Isto É.

Aproveitaram-se do momento de fragilidade econômica e social, que afetava mais as classes B, C e D; e do surgimento dos resultados da Lava jato. Os veículos da grande imprensa deram ampla publicidade às operações realizadas pela Polícia Federal. Todos os dias os telejornais jorravam imagens de prisões de empresários da construção e políticos famosos, provocando ódio e terror à classe média, que passou a estigmatizar o PT e seus símbolos.

O clima ficou tão ruim que, numa quarta-feira à noite, a Globo pôs no ar a ausculta ilegal de um diálogo entre a então presidente Dilma Roussef e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, publicizada irresponsavelmente pelo então juiz Sérgio Moro, que nem no Brasil estava. Essa foi a senha para as famigeradas redes sociais, que ainda engatinhavam no veneno potencial que se cristalizaria em 2018, mobilizarem a população numa grande manifestação nacional contra o PT.

Naquela noite, o ódio contra o PT foi tamanho que, se um torcedor devidamente uniformizado do Internacional gaúcho ou Náutico de Recife passasse nas imediações da Avenida Paulista correria o risco de ser agredido pela turba açulada pelas redes sociais. A apoteose foi a prisão de Lula meses depois, comemorada em tons carnavalescos na Avenida Paulista. O antipetismo foi, portanto, fator decisivo para uma parcela importante dos eleitores na escolha de Bolsonaro como seu representante na eleição de 2018.

Mas, quatro anos depois, com toda a incompetência administrativa revelada e o verdadeiro Bolsonaro totalmente exposto, um número muito significativo de eleitores mudou, passando a rever a sua escolha para o próximo dia 30 de outubro.

Assim, voltando à indagação do Dr. Saulo Londres, podemos acrescentar varias perguntas. Por exemplo: como pode uma mulher votar em alguém que tem um sério distúrbio psicológico em relação a elas, pois, ao contrário de Jesus Cristo, que defendeu abertamente as Marias Madalenas, Bolsonaro sempre toma a atitude de atirar a primeira pedra nas mulheres que atravessam o seu caminho?

Como pode alguém que seja culto ou bem educado votar numa pessoa tão grosseira e acanalhada? Como pode um preto votar em Bolsonaro, se ele sempre demonstrou preconceito e desprezo explícito por essas pessoas? Como pode um profissional de saúde votar em alguém que nega e combate sistematicamente a ciência e desmantelou o Ministério da Saúde, perseguindo e excluindo, por ciúmes e negacionismo, ministros que demonstraram competência e pautaram a sua conduta pela ciência, sendo trocados por aqueles que sejam subservientes ao presidente, tendo como consequência, por exemplo, o mau funcionamento da saúde em todo o Brasil, e o comprometimento da eficiência do nosso Programa Nacional de Imunização, que era modelo para todo o mundo?

Como pode um professor ou um estudante votar em alguém que desmantelou o Ministério da Educação, entregue a pastores que negociaram as suas verbas por barras de ouro e bíblias, no escândalo chamado Bolsolão do Mec, e que empobreceu as universidades federais, chegando a comprometer o funcionamento dos hospitais universitários?

Para mim é muito difícil explicar. Com a palavra, o Dr. Sigmund Freud.

DIVÃ LITERÁRIO, por Babyne Gouvêa

‘Gabriela’, por Sônia Braga (Reprodução do YouTube)

Três senhoras resolvem fazer terapia em grupo, sendo observadas às escondidas por seus respectivos criadores. Nesse cenário, o Dr. Sigmund Freud conduz a assistência às suas pacientes num aprazível consultório, situado às margens da Baía de Todos os Santos.

Sessões nas tardes das terças-feiras foram reservadas àquelas senhoras – Aurélia, Capitu e Gabriela. Elas se apresentaram ao terapeuta como ícones e musas do Romantismo, Realismo e Modernismo que marcam a obra de três dos mais consagrados escritores brasileiros de todos os tempos.

Primeira Sessão

Iniciada a sessão, o Dr. Freud fez uma breve introdução ao processo terapêutico e passou a palavra à Aurélia, que afirmou ser esposa de Fernando Seixas, que o seu casamento foi um negócio, proposto por ela e por ele aceito, sujeitando-se ao poder do dinheiro. Adiantou que está tudo registrado no livro ‘Senhora’, de José de Alencar.

A próxima a se pronunciar foi Capitu, de espírito livre e independente, esposa de Bento Santiago, marido ciumento e desconfiado. Deu ênfase ao espaço comercial do casamento, como se fosse mais um negócio a ser realizado. Salientou que tudo está bem explicado em ‘Dom Casmurro’, de Machado de Assis.

Na sua vez de falar, Gabriela, sertaneja que respirava liberdade, enalteceu o seu marido árabe Nacib, que a levou para o seu bar, casando em seguida com ela. Lembrou que estava tudo muito bem descrito em ‘Gabriela Cravo e Canela’, de Jorge Amado.

Segunda Sessão

Recepcionando as suas pacientes rapidamente, Dr. Freud deixou-as à vontade para associações livres.

Mantida a sequência da primeira sessão, Aurélia confessou que o seu casamento foi uma questão de vingança. Seu único objetivo, apesar de amar Seixas, era humilhá-lo e submetê-lo a seus caprichos, usando o dinheiro para tanto, motivo pelo qual ele a havia deixado.

Capitu, por sua vez, revelou que o seu casamento era cheio de desconfiança, com insinuações de uma possível traição entre ela e o melhor amigo do seu marido, provavelmente por ter comportamento que contrariava os costumes dos seus contemporâneos.

Já Gabriela admitiu os seus desejos e vontades. Disse que foi flagrada na cama com outro e, como consequência, Nacib anulou o casamento, mas que a mantinha como cozinheira do seu bar e amante como antes, conformando-se com a situação e aceitando a sua liberdade.

Terceira Sessão

Dr. Freud resolveu inovar nessa sessão, introduzindo um método dinâmico para quebrar a monotonia do tratamento. Esclareceu não poder ser o facilitador, por contradizer a sua formação de psicanalista, mas ficaria acompanhando a performance das clientes. As pacientes concordaram em desvendar melhor o perfil das suas personagens nesse novo recurso terapêutico, exaltando a firmeza de suas personalidades.

Aurélia, jogando a almofada ao chão, chama as amigas para darem início à dinâmica. Fala se define como feminista. Mostra que, apesar de sofrer as consequências de seu próprio plano de vingança, age como tal para se posicionar como dona de si e contra a hipocrisia da sociedade da sua época.

Capitu, em seguida, diz que não se deixou abalar pela insegurança de Bentinho, mantendo sua personalidade forte e não cedendo às pressões de uma sociedade machista que a rotulava como ‘solícita demais’ para uma moça de família.

Falando por último, como sempre, Gabriela diz personificar as transformações de uma sociedade patriarcal, arcaica e autoritária em pleno Nordeste brasileiro.

Dr. Freud aprova a atuação das pacientes e dá encerrada a sessão.

Última Sessão

O terapeuta sugere às senhoras uma pausa nas sessões, já que tinham sido introduzidos temas literários, inéditos ao seu método psicanalítico; pediu licença, então, para um tempo de estudo diante do inusitado no seu trabalho.

Propôs, em seguida, todos seguirem para o Pelourinho, onde Jorge Amado e sua esposa Zélia Gattai estariam à espera deles, na Fundação.

Nesse ambiente, esteve reunida a cúpula da literatura brasileira, com um convidado especial – o músico Dorival Caymmi – recepcionando todos com a ‘Modinha para Gabriela’, na voz de Gal Costa. Especialmente elas – Aurélia, Capitu e Gabriela -, todos sentiram-se lisonjeados e representados com tão bela homenagem.