ADMIRÁVEL LELÊ, por Jesus Fonseca


A Amigo Osmundo, Querido Lelê, Grande Artista Pequenino

Eu ainda era uma criança nos seus 9 a 10 anos de idade, alheia, portanto as vicissitudes da vida naquele alto sertão nordestino e achava engraçado ou divertido, em determinadas ocasiões, quando um pedinte, alcançado o seu desejo, o fruto de seu pedido, respondia agradecendo a minha mãe: “Deus te livre do mau vizinho!”.

Realmente, aquele tipo de agradecimento não fazia sentido para mim, razão de eu o achar muito engraçado e, até, sem nexo, embora não soubesse explicar tal sentimento, na época. A razão de tudo isso era muito simples! Eu pensava não existir a figura do mau vizinho, exatamente porque nossos vizinhos eram as criaturas mais dóceis, mais educadas, mais amigas, que já tínhamos encontrado, que tivemos a sorte de tê-las como vizinhos.

“Seu” Firmino Alvarenga e Dona Emília com sua prole eram estas criaturas. Para se ter idéia da sincera e pura amizade que havia entre as duas famílias, a deles e a nossa, o muro, que servia de fronteira entra as duas casas, tinha de altura, quando muito, um metro, aproximadamente.

Ali, minha mãe e Dona Emília costumavam, nas horas de folga do lazer doméstico, trocar suas idéias a respeito das coisas naturais da vida. Falavam de religião, não em dogmas, em teologia, em filosofia, mas nos temas corriqueiros de como se deve criar um filho nos caminhos de Deus.

Batiam papo sobre a educação dos filhos, sobre a medicina caseira, os chás que serviam “para isto ou para aquilo”, etc. Jamais ouvi rolar naquelas conversas algo em torno da vida alheia, sobre o bem ou sobre o mal. No meio deste enorme elo de amizade girávamos nós, os filhos que dividiam e fortificavam a amizade através das brincadeiras de criança.

Assim, aprendi a conhecer e admirar Osmundo, carinhosamente chamado de LELÊ. Ele, com 1,38 mts, tinha mais de dois metros de altura de talento. Tudo que se propunha a fazer, conseguia, como uma eficiência impressionante. Era um artífice de primeira mão. Construía seus próprios brinquedos com uma perfeição, eu diria, “doentia”, se é que assim posso me expressar.

Era um perfeccionista nato! Cansei de vê-lo aperfeiçoando um brinquedo que a meus olhos já era uma obra prima. Os piões que ele fabricava eram invejados por muitos! Seus Caminhãozinhos eram confeccionados nos mínimos detalhes! Com o decorrer do tempo tornou-se um exímio marceneiro, construindo, com idêntica habilidade, seus próprios móveis.

Era inteligente por natureza! Jamais, eu e meus irmãos, tivemos qualquer atrito ou discussão, mesmo aquela entre crianças, com nosso grande amigo LELÊ, pois o respeito era recíproco e mútuo entra as duas famílias!

Mas a roda da vida sempre com seus giros intermináveis, vai, gradativamente, colocando-nos em caminhos adversos, separando, fisicamente, um elo de amizade, todavia, sem destruí-lo, espiritualmente.

Assim, na fase adulta, todos nós fomos, cada qual, para o seu lado, cada um, para o seu canto. Entretanto, faço este registro com muito orgulho: Toda vez que visitávamos Itaporanga, íamos dar o abraço no bom amigo Osmundo, momento em que nos emocionávamos relembrando os bons tempos de vizinhança. A natureza não lhe fora pródiga, continuava com 1,38mts de altura.

Foi numa destas visitas que descobri que o gênio Osmundo era, também, alfaiate e sapateiro. LELÊ era o confeccionador de suas próprias vestimentas. Que coisa maravilhosa!

Tempos mais tarde, soube que LELÊ enveredou-se por caminhos mais altos! Foi lá para a Mansão do Criador para mostrar-Lhe que o dom que havia recebido fora exercido com maestria. Ficamos nós, na saudade, e nesta historia quem saiu ganhando foi Deus que recebeu em suas hostes, um Ser Humano de Primeira Grandeza.

Seja Feliz, meu Grande Amigo, nas Bem-aventuranças Eternas!

É BOM ESCLARECER
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