Antonio Costta vê poesia na prosa de José Lins do Rego. Vê, desse modo, aquilo que desapercebido passa pelos leitores de um dos mais aclamados romancistas brasileiros.
Conterrâneo de Zélins, o poeta Costta é pilarense de Chã de Areia, uma terra de pequenos agricultores, dessa gente que planta e colhe frutas, grãos e hortaliças para as mesas de todos nós. Os dali formam em sítios geralmente pequenos o contingente de produtores rurais que, em escala nacional, elevam, assim somados, a agricultura familiar à condição de celeiro do Brasil. Sim, porquanto o agronegócio despacha em dólar o que semeia em grandes extensões para o resto do mundo.
Não sei se o Paraibinha, afluente do rio que deu nome à Paraíba, interpõe-se entre as glebas de Chã de Areia e a Casa Grande do Corredor, o berço de Zélins restaurado e disposto à visitação pública. O rio principal, sim. E, nele, os poços onde o neto de Bubu mergulhava com os meninos da bagaceira. Levou dali para o resto da vida a esquistossomose que o matou no auge da produção literária.
O menino de engenho não fora feito para banhos de rio. Sem a resistência orgânica e genética dos descendentes dos escravos do avô, com os quais brincava de cangapés e galinha d’água, tinha chiados de asma.
No seu “Poemas Zelinianos”, Antonio Costta arruma em versos a prosa do conterrâneo. E assim a dispõe aos saudosos de enredos contidos nos romances do Ciclo da Cana de Açúcar conhecidos, mundo a fora, em uma dezena de idiomas, ao menos isso.
Os canários do Santa Rosa, a Velha Totonha, os carros de boi, o engenho em sua atividade e de bueiro fumegante, os de fogo morto, a chegada da chuva, a da seca, a liberdade, os moleques, o pastoreio, o trem e a usina com seus braços de polvo apresentam-se, então, em estrofes enfileiradas pelo poeta pilarense. Costta, repito, vê poesia nos textos de Zélins. Coisas assim:
De manhã acordei
e dentro do peito o puxado piava.
Rebentava com as chuvas de véspera.
Ficava provado que eu não podia
ser como os moleques do Santa Rosa.
Sobre o internato de Zélins, na vizinha Itabaiana:
Levava para o Colégio
um corpo sacudido
pelas paixões de homem feito.
E uma alma mais velha
do que meu corpo.
Sobre os alcances da Usina:
A usina não podia perder
um palmo de terra de várzea.
Em tudo que era terra do povo
a usina crescia os olhos.
Não havia lei de Deus para a Usina.
O poeta Antonio Costta compõe em versos seus a segunda parte de “Poemas Zelinianos”. Alguns deles com mote de Drummond:
E, agora, José?
Cadê teu avô
que não vem te buscar?
Cadê tuas tias
do velho Pilar?
Também:
Carro de boi…
No caminho de barro
só conhece esse carro
quem menino já foi.
Foices cortando cana,
trabalhadores cantando,
suor pigando na terra,
cana madura tombando.
A usina com fome
comeu dez fazendas,
comeu cinco engenhos
e ficou gestante
de um latifúndio.
Sucesso, Antonio Costta. É o que te desejo.
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