Um prédio histórico, no Centro de João Pessoa, a Capital paraibana, remete o visitante a um dos episódios mais tocantes de toda a longa história da cidade.
Inaugurado em 30 de março de 1919, com o paraibano Epitácio Pessoa no comando do País, o prédio foi feito para abrigar a Escola Normal então reclamada por mães e pais desejosos da graduação das filhas no curso que, tão logo concluído, a estas garantiria o emprego de professoras.
Diga-se que nas primeiras décadas do Século 20 era estreito o leque de profissões reservadas às mocinhas. As escolas profissionalizantes mal atendiam aos meninos mais pobres, aqueles em busca das artes gráficas, ou das funções de serralheiros e torneiros mecânicos. Os mais abastados, enquanto isso, corriam de oficinas e chãos de fábrica como o diabo da cruz. Era o tempo de uma classe média de nariz torcido para atividades das quais resultassem mãos sujas de graxa e esforço físico. Era, em tais circunstâncias, o tempo do bacharelismo.
Muito se passaria até a atração da garotada de ambos os sexos pelas Escolas Técnicas de hoje com seus computadores, laboratórios assépticos como salas cirúrgicas e cursos que vão da Engenharia às Ciências do Meio Ambiente.
Em inícios do Século passado, a Escola Normal construída a mando de Epitácio atendia, portanto, à aspiração das famílias com filhas aptas à matrícula no segundo grau. E havia certo charme nisso. Basta lembrar que o termo “escola normal” teve o primeiro uso na França que adotava da Alemanha o sistema de ensino pedagógico.
A erguida em João Pessoa seria palco de uma tragédia ocorrida em 22 de setembro de 1923: o assassinato de Sady Castor, aluno do Liceu Paraibano, pelo Guarda de número 33 então empenhado em cumprir a proibição da diretoria ao namoro das alunas. Sady ali fora ao encontro de Ágaba.
Os disparos que o abateram atingiriam, também, dada a revolta da cidade, o prestígio do governador Solon de Lucena. Este determinou a suspensão das aulas por 15 dias, tanto na Escola Normal quanto no Liceu. Mas a comoção popular estava, ainda, incompleta. Pouco tempo depois, Ágaba se mata.
O fato me vem à mente com o reencontro do álbum “De Escola a Palácio” que eu, o também jornalista Gonzaga Rodrigues e o fotógrafo Antonio David produzimos quando da restauração, em 1998, do prédio já há muito ocupado pelo Tribunal de Justiça. A obra encomendada pelo desembargador Raphael Carneiro Arnaud, então presidente da Casa, teve programação visual do saudoso Milton Nóbrega e editoração eletrônica de
Martinho Sampaio, dois craques em suas áreas.
Gonzaga – que nesse álbum reproduz a comovente história do jovem casal por ele ouvida do historiador Deusdedit Leitão – lembra que a retreta da então Praça Comendador Felizardo (atual Praça João Pessoa) passou a tocar a “Valsa de Ágaba”, com letra de Eudes Barros e música de Camilo Ribeiro. Comovente, não?
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Uma resposta para DE ESCOLA A PALÁCIO, por Frutuoso Chaves
Acho que minha mãe, Maria José do Nascimento Melo ou D. Zezita, dedicada professora, em Pilar, foi normalistas, nesse prédio. Da sua competência e da sua capacidade, posso falar, sem ufanismo e sem favor nenhum. Quem com ela conviveu, sabe. É bom saber, sobre os caminhos, que por ela trilhados, a fizeram assim. Boa lembrança. Obrigado.