Tomei dois sustos na manhã seguinte ao dia da minha chegada ao Colégio Agrícola André Vidal de Negreiros, em Bananeiras, naqueles idos de 1960. Compus um grupo de cinco pilarenses despachados pelos pais para a continuidade, ali, dos estudos.
Quatro de nós havíamos passado, dias antes, num vestibularzinho dos diabos para ingresso no curso Secundário da escola, o que valeu dos professores locais elogios ao bom nível do Primário ministrado na escola pública de Pilar. Na verdade, eu e o amigo Wolney havíamos estudado no Recife. Espantosamente, este, a quem considerávamos o mais bem preparado dentre todos nós para a seleção de Bananeiras, foi nela reprovado. Entendemos que Wolney, apegadíssimo à família e de nariz torcido para a farda de mescla cinza e aquela comida de quartel, deu um jeito de escapar do internato.
Mas vamos aos sustos. O primeiro foi com a temperatura da água. Nunca a senti tão fria, nem nos dias mornos de Pilar nem no subúrbio recifense de Sucupira, onde morei com um casal de tios. Seis da matina, toalha no pescoço, sabonete e escova de dentes à mão, caminhar de pijama uns 50 metros desde o dormitório até a bateria de banheiros, já era um suplício naquele clima polar. Meu primeiro contato matinal com o Brejo deu-me arrepios.
Também ericei todos os pelos quando olhei a cidade, distante alguns quilômetros, pela janela acima da pia. O Sol dissipando a névoa, as duas torres da Igreja, a estradinha e as colinas cobertas de verde bateram-me nos olhos e nos sentidos com jeito de paisagem já vista e sabida. “Meu Deus, como é possível? Como isso me é tão familiar se estou aqui pela primeira vez?”, perguntei-me, em pensamento.
Fiz a bobagem de comentar o assunto, tempos depois, com um colega e ele me deixou ainda mais assustado. Aprendera com os pais, espíritas, que às vezes nós carregamos conosco restos de memória de antigas encarnações. Vôte!
Estudei menos de um ano em Bananeiras, pois adoeci e retornei a Pilar num momento em que a família preparava a mudança para João Pessoa. Mas nunca me esqueci dessa experiência. Ouvi, ainda, de outras pessoas que o ser humano também pode ser assaltado por premonições. Pode ver o que está por vir. Seria isso parte dos tais mistérios shakespearianos entre os Céus e a Terra? Vá lá saber…
No pouco tempo de vivência nessa parte do Brejo formei a impressão (com as imprecisões, talvez, da pouca idade) de que Bananeiras está para Solânea assim como o Rio de Janeiro está para São Paulo. Com o perdão do estereótipo, uma é despreocupação e festa. Outra é realização e trabalho. Uma gasta. A outra sabe ganhar.
Tal impressão refez-se, há pouco tempo, quando resolvi mostrar aos filhos o colégio agrícola onde estudei. Parei o carro, desliguei o motor e notei que o sistema de ventilação (aquele que se liga e desliga, automaticamente) permaneceu ativado.
Saí, então, na busca de um mecânico, mas onde encontrá-lo em pleno domingo? “Em Solânea”, disseram-me os três ou quatro bananeirenses a quem recorri. Um deles deu-me um nome e endereço, na esquina de um supermercado, de onde saí com o problema resolvido. O camarada largou o almoço e, além disso, fez um amigo abrir a lojinha a fim de fornecer a peça que havia pifado. Atendimento de primeiríssima como, naquelas paragens, apenas Solânea sabe proporcionar. Não é, meu amigo Arnóbio?
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Uma resposta para FEITO RIO E SÃO PAULO, por Frutuoso Chaves
O mestre Frutuoso não é um cronista circunscrito à arte de apenas burilar frases e temperar palavras. Ele vê, com dotes de sociólogo, os fatos, os homens e as circunstâncias.
Sem tirar nem pôr, Solânea é assim.