TERRA ARRASADA, por José Mário Espínola

Imagem: apub.org.br

Não estou me referindo à Ucrânia, país covardemente invadido, que está sendo destruído por um dos maiores exércitos do mundo, o da Rússia de Vladimir Putin, um ditador eleito pelo voto democrático, mas possuído pela nostalgia da falecida União Soviética, de cujos porões se originou.

O presidente russo retomou a política de expansionismo das fronteiras e está destruindo a Ucrânia: seu povo, suas cidades, toda a infraestrutura viária e, mais grave ainda, as suas fontes de energia, o que é cruel diante do inverno rigoroso que se avizinha.

Mas aqui no Brasil estamos testemunhando semelhante política de terra arrasada. Para tentar reeleger-se, o presidente vem rompendo vergonhosamente o teto de gasto, criado em 2016 para disciplinar as despesas do orçamento.

Seu tutor na Câmara dos Deputados, Artur Lira, de Alagoas, criou essa aberração denominada Orçamento Secreto, candidamente aceito pelo presidente, pois faz parte do pacto nada secreto do presidente com o Centrão: “Nóis torra e te sustenta”.

Para abastecer essa botija e garantir a própria sobrevivência, o governo federal está desviando verbas destinadas para Saúde, para a Educação e Cultura, para Ciências.

A consequência é o desabastecimento das Farmácias Populares, levando doentes carentes a interromper tratamentos para doenças crônico-degenerativas, como diabetes, câncer, hipertensão arterial e insuficiência cardíaca.

Falta de alimentos nas creches e a merenda escolar destinada para os estudantes carentes das escolas fundamentais é outro problema revoltante.

Falta de medicamentos nos Hospitais Universitários, que tiveram que cancelar as cirurgias eletivas e reduzir internações, mais uma tragédia.

As Universidades tratadas a pão e água, como nos tempos de FHC, sem recursos para garantir o básico: luz, energia para os aparelhos de ar condicionado, limpeza, seguranças, combustível, tinta para impressoras e papel.

Outra grave consequência é a interrupção de pesquisas importantes, nas áreas de saúde, tecnologia e educação.

Acima de tudo, o Brasil assiste à destruição de suas reservas para beneficiar políticos inescrupulosos, que é o que não falta. Mas o pior está por vir: o comprometimento do orçamento para os próximos anos.

Qualquer que seja o novo presidente, herdará uma dívida impagável, que muito provavelmente o obrigará a ir bater nas portas do FMI, pedindo um socorro financeiro que compromete a soberania nacional, como acontecia em passado nem tão remoto assim.

A irresponsabilidade fiscal deixará um legado de ruínas para a nova gestão. E o atual presidente não está nem aí para o caso de ser reeleito, pois não tem o menor senso de responsabilidade nem noção do estrago que pode causar.

Ele age igual a um adolescente. Aliás, sempre agiu assim ao longo deste mandato. Em vez de trabalhar, passeia de moto com um bando de desocupados.

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Não estou falando apenas de destruição material, como a realizada no nosso meio ambiente, que por si só já é cruel, pois levará décadas para ser recuperado, se for adotada uma rigorosa política de conservação, o que com esse governo é totalmente impossível, pois contraria a sua filosofia.

Estou me referindo a algo mais grave: a destruição de uma nacionalidade, penosamente construída ao longo de cinco séculos. Hoje a nação brasileira está profundamente dividida, rachada ao meio. Definitivamente? Acho que não. Mas levará muitos anos para se reconciliar e voltar ao patamar civilizatório do final da década de 2010.

Hoje, o ódio grassa entre nós, tomando corpo nos últimos cinco anos. Coincide com o ápice do processo de substituição da imprensa livre e regulamentada por redes sociais totalmente irresponsáveis, sem nenhum controle.

As famílias estão divididas: irmã contra irmão; filho contra pai. Os amigos separados. A nossa nação está dividida, numa guerra fratricida como se fôssemos as piores diversas torcidas organizadas: sudestinos e sulistas contra nordestinos. Direita contra esquerda. Ricos contra pobres. Brancos contra pretos. Protestantes contra católicos. E por aí vai.

Surgiram até subdivisões de preconceito: dentre os evangélicos podem ser encontrados os que são crentes contra os que são roxos. Os primeiros acompanham a direita e os demais votam contra Bolsonaro, sendo classificados de esquerda pelos primeiros. É demais!

A realidade é que hoje nós apenas nos toleramos, porém não mais nos irmanamos. Hoje em dia, os nossos cristãos pensam e agem como se fossem os fanáticos do Estado Islâmico. Ou como agiram os seguidores de Pol Pot, no Camboja dos anos 1970, quando tiraram a vida de milhões de cidadãos.

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Perdemos quatro anos discutindo ideias arcaicas, trazidas de volta à baila, atrapalhando o nosso progresso. O certo é que o Brasil sofreu um processo involutivo, recuando à idade das trevas: discussão sobre a forma da Terra, eficácia de vacinas, costumes, cotas e estatutos sociais.

Combate ao Poder Judiciário, que é pedra basilar da Constituição. As Forças Armadas pertencerem ao presidente e não à nação brasileira. O Estado abandonando a laicidade, abrindo com a Bíblia as sessões do judiciário.

Tudo andou para trás. Médicos tornaram-se alquimistas, combatendo a ciência, prescrevendo placebos e, quem sabe, resgatando o tratamento de surto psicótico com clister.

Será que os estados voltarão a ser capitanias? Os municípios, feudos? O Inpe adotará astrologia para a previsão do tempo?

No momento, estamos assistindo a uma mobilização em torno da transformação do Brasil num país fundamentalista, semelhante ao Irã dos aiatolás e ao Afeganistão dos talibãs. No cardápio, uma nova Santa Inquisição, fogueiras, caça às bruxas, prova de religião no Enem.

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Exageros à parte, o fato é que sofremos um grande retrocesso nesses últimos quatro anos, que poderá se agravar ainda mais se não tomarmos uma atitude corajosa na próxima votação.

É BOM ESCLARECER
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