CHARMOSO TREMA, por Babyne Gouvêa

A nossa Língua Portuguesa é uma riqueza, bela e motivo de orgulho. Tem it, como se dizia outrora. O vocabulário extenso esbanja diversidade de escolhas para a construção da escrita.

Para frustração de alguns patrícios, foi retirada a cereja do bolo do nosso vernáculo, no último acordo ortográfico: o trema. Puro charme.

Palavras que normalmente eram grafadas com o trema, tais como lingüiça, tranqüilo, lingüística, bilíngüe, freqüentar, cinqüenta e outras, não possuem mais o sinal gráfico.

“Este fato não tem a ver com grafia e sim com fonética!” Foi a justificativa apresentada. A supressão do trema na palavra ‘lingüiça’ compromete o seu sabor. Ela seria bem mais saborosa se mastigada e digerida com o güi. Experimentem.

“Abaixo o trema, viva a independência do ditongo!” Há controvérsia. Vejam que um atleta ‘cinqüentão’ terá o físico melhor apreciado se apresentar o qüen. Certamente os suspiros despertados serão mais intensos.

“Há ditongos na língua que não precisam do trema, como em tranqüilo!” Essa premissa não é consensual. Percebam que num ambiente conturbado um indivíduo poderá perder a serenidade caso não sinta a presença do qüi em seu temperamento comumente ‘tranqüilo’.

“O modo de falar não tem que concordar com o de escrever, tornando o trema desnecessário!” Pura falácia. Tentem ‘seqüenciar’ aulas de oratória. O qüen será decisivo para garantir uma compensatória ‘eloqüência’.

Um tanto ‘loqüaz’ a autora ‘argüiu’ tentando sensibilizar o leitor quanto à retirada do charmoso sinal gráfico da Última Flor do Lácio. Cabe à ‘lingüística’ aceitar a divergente decisão com ‘eqüidade’.

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  • (N.A. Os apóstrofos destacam palavras sem o trema, atualmente. A Reforma Ortográfica, concluída em 2009, entrou em vigor em janeiro de 2016, resultante de acordo entre os países de Língua Portuguesa)
É BOM ESCLARECER
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Uma resposta para CHARMOSO TREMA, por Babyne Gouvêa

  1. Divertida e instrutiva crônica (já dispensa o ^?), muito bem escrita, o que está se tornando um estilo da autora.
    Concordo com a autora: o português é uma língua rica e bonita. Não sei por que os entregüistas (olh’êle aí!) a estão abandonando. Talvez por complexo de inferioridade, de colonizado…
    Só para esclarecer: sou da linha arianiana de lingüistica!
    Parabens, Babyne, excelente texto!